A POESIA EM SALA DE AULA. (REJEIÇÃO MENOR DO QUE SE APREGOA)
Comenta-se no meio educacional que a poesia sofre certa rejeição por parte de alguns estudantes, assertiva esta que deve ser repensada. O índice de rejeição à poesia é mínimo entre os alunos, diga-se. São poucos os que se mostram dela desinteressados, alegando ser perda de tempo lidar com texto poético em sala de aula. Estes afirmam ser algo desmotivador e cansativo e, os mais resistentes, opinam, ainda, ser conteúdo que deva direcionar-se ao gênero feminino. Todavia, tal conceito e rejeição não devem ser generalizados entre os educando.
Por intermédio de pesquisa realizada na Escola Municipal Nara Manella de Londrina - PR, para amostragem, evidenciou-se que essa resistência parte de minoria dos estudantes e que, na realidade, é preciso que lhes seja ofertada essa possibilidade de leitura, a julgar pelas respostas dadas pelos pesquisados.
É primordial, portanto, que se viabilize com maior ênfase esse gênero textual, de maneira a despertar o interesse dos alunos, mostrando que a literatura poética produz cultura e conhecimento e que essa linguagem amplia o acesso à cidadania. A variedade de gêneros textuais propicia a possibilidade de integrar um processo simbólico para atribuir significado à realidade.
Mikhail Bakhtin afirmou que
"o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo, não só por seu conteúdo temático e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção de recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso. ” (BAKHTIN, 2003, p. 261-262).
A partir das palavras de Bakhtin, infere-se que os enunciados orais e escritos dar-se-ão em sua totalidade de comunicação, se houver interesse concreto em sanar a defasagem de oferta da leitura, hoje observada em todos os âmbitos educacionais, mormente na EJA (Educação de Jovens e Adultos). É necessária a abertura de caminhos que motivem e mobilizem os estudantes para a compreensão da linguagem de seu tempo e das raízes que a formaram. Essa compreensão deverá desenvolver um processo de coalizão da linguagem com os conhecimentos prévios dos alunos e seus anseios, bem como com suas posturas de contestação, para que a leitura se torne prazerosa e que, ao final do curso, sejam formados (também) novos leitores.
Os autores não podem ser acusados de omissos em relação ao estudo da literatura em aulas de Português , pois sempre se preocuparam com a apresentação aos alunos dos aspectos formais do poema (soneto, sextilha etc); cuidaram da classificação de estrofes (quartetos, tercetos, dísticos, etc), da metrificação dos versos (decassílabos, alexandrinos, livres etc); da natureza das rimas (versos brancos). Entretanto, esse trabalho muito técnico acaba por espantar os educandos, ao invés de atraí-los para o gênero poético, conforme Luiz Alberto Wagner, Dr. em Letras pela Universidade de Araraquara.
Gaston Bachelard, em seu livro A poética do Devaneio, afirmou que gostaria de poder demonstrar que “a poesia é uma força de síntese para a existência humana”. Importante ressaltar que a poesia e a prosa poética carregam em si o suporte lírico e integram os diversos gêneros textuais como o romance, o conto, a crônica, o drama, etc. Demonstra-se, assim, que além dos poemas propriamente ditos, outros textos carregam em seu bojo a carga poética oriunda da observação do mundo em torno, captada por intermédio de olhares atentos. Esta forma de olhar o mundo não pode e não deve ser descartada.
Ezra Pound em ABC da Literatura, dizia ser preferível trabalhar apenas a poesia, isto é, o poema, o soneto e nada mais, deixando de lado a crítica histórico-literária, o contexto ou o movimento de época de cada poema.
O importante, na realidade escolar atual, é fazer com que os alunos sintam-se, primeiramente, motivados, escolhendo, para tal motivação, poemas que lhes sejam de fácil compreensão, que sejam também curtos e que atraiam o aluno leitor para perto deles. Esses primeiros contatos propiciarão a busca futura por textos mais elaborados, partindo do próprio estudante essa busca. É preciso mostrar bem a eles a diferença entre poema e poesia, fazendo com que entendam esse fator preponderante. Em seguida, promover oficinas, utilizando letras de música, por exemplo, e delas ir para textos que exijam maior cuidado na interpretação, mostrando-lhes o jogo de sons, que se alternam e as repetições que criam ritmo. É importante partir do texto simples para o mais elaborado, desta forma, torna-se possível cativar os leitores e facilitar-lhes a compreensão dos textos poéticos.
Dalva Molina Mansano
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26.09.2014
Fontes:
BACHELARD, Gaston. A poética do devaneio. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-262.
POUND, Ezra. Abc da Literatura. São Paulo: editora Cultrix, 1995.
SECO, Ana Paula; AMARAL, Tania Conceição Iglesias do. Navegando na história da educação brasileira. Disponível em <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_pombalino_intro.html>. Acesso em: 03 mai. 2014.
SILVA, Cícero de Oliveira. Eja Educação de jovens e adultos. 2ª edição. São Paulo: Ibep, 2009. p. 10-12.
SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da Leitura na escola. São Paulo: Ática, 1995. p. 24.
SILVA, Ezequiel Theodoro. Conferência sobre Leitura. Campinas: Autores Associados, 2003
VOLP, Ana Laura. Alcance EJA. Língua Portuguesa. 1ª edição. Curitiba: Editora Positivo, 2013.