JOSÉ SAMPAIO: REACENDENDO ESTRELAS NA SARJETA
Tânia Maria da Conceição Meneses Silva
RESUMO
Este artigo se desenvolve a partir do objetivo de tecer um comentário crítico-literário acerca da poesia de José de Aguiar Sampaio, nascido em Carmópolis/Sergipe e que se notabilizou pelo talento e pelo compromisso com a causa social, o destino da gente humilde. Para tanto, foi elaborado um texto dissertativo subdividido em 3 (três) tópicos: 1. Para uma abordagem da poesia de José Sampaio; 2. Nota biobibliográfica; 3. Fortuna crítica. A revisão da literatura deste estudo qualitativo demonstra como resultado a certeza da necessidade de rever e reacender a memória de um poeta reconhecido pela crítica literária em seu estado e no país.
Palavras-chave: Poesia. José Sampaio. Social.
ABSTRACT
This article is developed from the goal of weaving a critical-literary commentary on the poetry of José de Aguiar Sampaio, born in Carmópolis / Sergipe. The poet distinguished himself by the talent and commitment to social causes, the fate of the common people. Thus, a argumentative text subdivided into three (3) topics was developed: 1 For a discussion of the poetry of José Sampaio; 2 Bibliographic review; 3 Critical fortune. The literature of this qualitative study demonstrates as results that it is necessary to revisit and rekindle the memory of a poet recognized by literary criticism in your state and country.
Keywords: Poetry. José Sampaio. Social.
"No que nos diz respeito, para conhecer o homem dispomos apenas da leitura, da maravilhosa leitura que julga o homem de acordo com o que ele escreve. Do homem, o que amamos acima de tudo é o que dele se pode escrever. O que não pode ser escrito merece ser vivido? [...]" (GASTON BACHELARD, L’eau et les rêves. p. 14).
1. Para uma abordagem da poesia de José Sampaio
A poesia é texto literário e, por tal motivo, pode-se afirmar com Antônio Cândido (1996, p. 17) que nele “há essencialmente um aspecto que é tradução de sentido e outro que é tradução do seu conteúdo humano, da mensagem através da qual um escritor se exprime, exprimindo uma visão do mundo e do homem”. Quanto às palavras e de como são utilizadas na feitura do poema, o estudioso citado acrescenta que essas “se comportam de modo variável, não apenas se adaptando às necessidades do ritmo, mas adquirindo significados diversos conforme o tratamento que lhes dá o poeta”. (idem, p. 68).
O poeta a que este artigo se refere é José de Aguiar Sampaio, cujo estilo poético encerra a modernidade da forma, a atualidade do conteúdo e a universalidade da temática. Em seus poemas se nota a peculiaridade de uma melodia intrínseca e que independe da rima, recurso praticamente ausente nos versos livres que produziu. O conteúdo do texto poético daquele que ficou conhecido como o poeta dos humildes, o poeta das estrelas está eivado de uma demonstração de desmedido amor aos meninos de rua, aos indivíduos comuns, à causa social. O poeta criou suas paisagens no ambiente da noite cuja beleza, lirismo e tesouro são as estrelas; e, também, no contexto das ruelas e dos becos escuros, das sarjetas nas quais via refletidas as suas queridas estrelas, assim como na letra da canção, da autoria de Herivelto Martins/Nélson Gonçalves: “Seu consolo é saber que as estrelas lá no céu/Também refletem na lama”.
Na Literatura brasileira em fevereiro de 1922 irrompe a Semana de Arte Moderna, inaugurando um novo tempo e uma nova poesia, da poesia da liberdade estética e do revolucionário, como a poesia de Sampaio.
Os poemas sampaínos da década de 30 correspondem à época de singular importância para o país, tanto nas artes em geral, quanto nos acontecimentos históricos que marcaram um período de transição e de renovação sócio-político-econômica que se aprofundaram criando um panorama esperançoso.
Era um tempo de
“Democracia consolidada, eleições diretas para presidente com o voto secreto de mais de 135 milhões de eleitores, liberdades e direitos garantidos por uma Constituição formulada por representantes escolhidos pelo povo, liberdade de organização sindical, economia diversificada e forte. Conquistas como essas estavam entre as principais demandas de grupos de brasileiros que lutavam pelo fim da dominação política da oligarquia cafeeira do fim dos anos 20. Há 80 anos, o País passava por um momento difícil, também época de eleições presidenciais, mas a Revolução de 30 colocou um ponto final na Velha República, que durou da Proclamação da República, em 1889, até 13 presidentes depois, em 1930”. (TORRES, 2010, p. 1).
No poema Dia que vem (1935), Sampaio denuncia a condição de miserabilidade do povo. Agora a palavra sorri, mas tristemente, diante d’“A tragédia sorrindo/um sorriso trágico”. Envolve-se o eu poético, nessa antítese, em meio ao cenário dos indivíduos derrotados e descobre que “Há risadas mudas/nas bocas mortas”. A constatação encaminha o eu poético à reflexão sobre o surreal naquele quadro no qual visualiza e ouve “a dor cantando/o poema alegre/da liberdade”, numa antítese suprema.
A antítese dor x alegria fornece a exata dimensão do sofrimento dos desvalidos esperançosos da ressurreição. É o sonho, o ideal, a utopia que fará ressurgir daquele monte de miséria e gente morta, uma nação. A atualidade do poema é flagrante, a luta não cessa e nem a esperança da multidão esmagada a quem restaria tão somente a fé. O poeta torna a questionar: “E se for mentira/a ressurreição?”.
A força semântica desse desfecho do poema remete aos momentos em que a fé humana fraqueja e o sujeito se vê impotente diante do impacto do desconhecido, da dúvida e do vácuo para a Eternidade:
Dia que vem “(...) A tragédia sorrindo/um sorriso trágico./Há risadas mudas/nas bocas mortas./Que coisa impossível:/a dor cantando/o poema alegre/da liberdade./E a nação/ressuscitará/sobre o montão/das pessoas mortas./E se for mentira/a ressurreição?”. Essa indagação cria eco na mente do leitor e o acachapa no momento em que vê, no olhar do poeta, a injustiça social atravessando para o nada do depois.
Em Sarjeta (1936), a voz doce e comovida de José Sampaio nos dá a dimensão da magnitude e humanismo da sua poesia, da profundidade quase sagrada do seu olhar de poeta que percebe “a água correndo mansa e clara,/”, mas, outra vez, revestida de simplicidade, de naturalidade. A palavra de Sampaio se mostra em seu fulgor poético quando ele a recebe dos deuses, a personifica e a expõe “sorrindo no cristal dos caracóis”. São apenas 9 linhas de versos, uma única estrofe na qual todo um cenário social se interpõe quando o poeta, usando a conjunção adversativa mas, divisa “lá no fundo/a tristeza do lodo/cobrindo o chão de luto”.
Chega a ser pungente o desfecho do poema, quando, em um determinado instante, em lugar das estrelas, o poeta avista o lodo no fundo da sarjeta e, então, pergunta cheio de indignação: “Por que é que não limparam/o fundo das sarjetas?”, como se fosse possível, dessa forma, salvar a condição da humanidade. “Eu olhei muito a sarjeta,/a água correndo mansa e clara,/sorrindo no cristal dos caracóis./Mas, eu vi lá no fundo/a tristeza do lodo/cobrindo o chão de luto./E me lembrei tanto da humanidade./Por que é que não limparam/o fundo das sarjetas?”
O poema A revolução das ruínas (1936) acende as lembranças de José Sampaio, como se fora uma continuidade de A marcha das lágrimas. Há um dado diferenciado, o das ruínas revoltas debaixo dos edifícios novos, sólidos e se impondo à paisagem mais pobre, dominando-a, subjugando-a, acachapando-a. É a renovação cíclica da Natureza solapando a história anônima daqueles seres que estranham essas lembranças e sofrem soterrados, esquecidos de tudo, de todos e de si mesmos. O clamor vem do subterrâneo, daquelas profundezas nas quais os sonhos efêmeros foram junto com os sonhadores sepultados.
A marcha das lágrimas e A revolução das ruínas se assemelham a uma espécie de Guernica, composta em versos, pintando com palavras a situação dos vencidos pelas forças do progresso, pela fatalidade que aniquila a esperança de dias melhores, de equidade, de inclusão social, pois, “O rumor que veio desta lembrança/amedrontou meu silêncio./No meu modo de ver, pelo menos agora,/as ruínas se revoltaram debaixo dos edifícios novos./São lembranças estranhas/de tudo que ficou debaixo/do mais forte./Há um sofrimento infinito nestes seres pisados,/mas não há choro nesse clamor subterrâneo./As grandes dores/geram a alegria trágica do ódio./É a decadência querendo levantar-se para ressuscitar/na glória de suas causas de palha,/na felicidade dos seus homens brutos/e na alegria de sua antiga liberdade./Geração que foi enterrada/querendo romper o túmulo dos arranha-céus/para apagar/todas as luzes da civilização./A luta rasteira do que caiu/para nunca mais levantar./Revolução infeliz,/tão infeliz que não morre/para viver das derrotas./Luta impossível/contra o indiferentismo do tempo/e a ironia espontânea do progresso./Meu pensamento, agora,/é a lembrança estranha deste profundo anseio de liberdade/que estremece a cova das ruínas”.
Tais cenas revolvem em nossas mentes passagens como as do poema Darkness, de Lord Byron, inspirado em uma profecia sobre o fim do mundo:
I had a dream, which was not all a dream.
The bright sun was extinguish'd, and the stars
Did wander darkling in the eternal space,
Rayless, and pathless, and the icy earth
Swung blind and blackening in the moonless air;
Para estes versos, a autora deste estudo compôs a seguinte leitura:
Sonhei e não era propriamente um sonho.
O sol se apagara, as estrelas vagavam opacas no espaço eterno.
(Perdidas, não cintilavam mais)
Os versos se tornam ainda mais pungentes quando o poeta reconhece ser aquele quadro tétrico “a decadência querendo levantar-se para ressuscitar na glória de suas causas de palha”. Estes versos dizem com tamanha pertinência sobre a fragilidade das causas que buscam o resgate dos indivíduos, frágeis como casas de palha, daqueles mártires das sociedades capitalistas modernas e pós-modernas; e que remetem ao atual clamor sobre a sociedade em mutação, em processo de globalização e avanço das tecnologias. José Sampaio descreveu essa via crucis do povo, das multidões marginalizadas. Se aqueles versos são pungentes, difícil se torna classificar ou adjetivar o desfecho de A marcha das lágrimas, quando o poeta, como se escavasse o chão ingrato, retornasse ao início do poema e apanhasse com suas mãos o próprio pensamento que, “agora,/ é a lembrança estranha/ deste profundo anseio de liberdade/que estremece a cova das ruínas”.
A Sede Municipal de Carmópolis foi elevada, em 28.03.1938, pelo Decreto-Lei 69, à categoria de Cidade. Dois anos antes que tal acontecesse, o poeta José Sampaio escrevia A marcha das lágrimas. A visão que se lhe apresenta no mencionado poema é a do pranto “quebrando a paz da vida,” e “mãos alevantadas como gritos,” e dos “olhos alarmantes como a fome”. A angústia do poeta o leva a fazer novas indagações de desengano: “Onde estavam/a beleza da terra/e a alegria da felicidade?”.
O poeta José Sampaio buscou em seu íntimo respostas para compreender o mecanismo de funcionamento de um contexto social que privilegiava poucos e sacrificava a maioria, o povo. Assim, descreve o degradante cenário no qual “As estradas/estavam avermelhadas/dos pés humanos que sangraram./E toda aquela gente/morria de cansaço/atrás da paz e da beleza/porque/em proporção que acelerava a marcha/as estradas cresciam/na mesma crueldade inconsciente./Mas uma mão estranha/acalentava a dor daquele povo”. Quando empresta movimento a esses versos, o estilo do poeta transmite a sensação exata da cena em que uma estrada desliza vertiginosamente sob os pés chagados dos miseráveis. São versos intensos, vermelhos de indignação diante da injustiça e da opressão do povo cansado em busca da paz e de alguma beleza em meio àquela crueldade. Nesse ponto os versos se alteiam como bandeiras desfraldadas nas quais se vê a face onírica da esperança, da redenção: “Parece/que uma cidade santa/nascia nos sentidos/pois/os mais felizes que tombavam logo/morriam fitando com inveja/a marcha gloriosa. /Primeiro o pensamento/tinha feito a viagem/e a cidade existia/grande como um sorriso./A paz/embalaria aquele povo./A graça voltaria nas mulheres/e o amor constituiria/o sossego dos velhos/e a felicidade dos moços./E brinquedos bonitos/acordariam a alegria dos meninos”. A corrida na estrada dos versos anteriores só foi vencida pelo pensamento e pela ilusão de encontrar a paz naquela cidade almejada, do suposto paraíso onde “corria o leite e o mel”. Súbito, como que, tristemente, recobrasse a consciência, o poeta divisa a realidade dilacerante de um quadro de lamúria e desespero daqueles indivíduos que seguindo “os ritmos da caminhada/rolavam pelos caminhos/no mesmo rumor de choro/como línguas vivas”. A metáfora das “línguas vivas” produz em nossas mentes uma cena que merece a adjetivação dantesca. Com nitidez de cegar os olhos da alma se avista aquelas pessoas magras e nuas, despidas dos direitos a que fariam jus.
No final da década (1939), José Sampaio nos oferece o seu Canto. Cria uma força nova e diz em formato de dísticos, da sua entrega irrestrita e do seu comprometimento com a poesia engajada nas causas justas, com as mulheres perdidas dos becos, com os olhos das crianças negras e com o amor à claridade da aurora. Declarou solene e enfaticamente: “Se todos ficarem contra mim/eu continuarei amando a poesia e a beleza.//Se todos me abandonarem/eu direi que são puras as mulheres perdidas dos becos//Podem todos ferir-me:/- eu direi que são claros os olhos das crianças negras.//Podem todos ferir-me./Como poderei dizer que não amo a claridade da aurora?”.
Sampaio amou fervorosamente a manifestação pura e simples da linguagem do povo, como no poema As ruas (1942): “A palavra precisa ser simples,/como água,/ao alcance de qualquer ouvido./Do ouvido das ruas,/porque as ruas possuem a maior força/e não chega uma voz despertando./Mas quando as coisas forem ditas/na linguagem simples do povo,/as ruas não suarão tanto, inutilmente”. Nesse As ruas, Sampaio compõe um jogo de claro-claro em torno do que acredita ser a mais legítima característica da palavra: a simplicidade, ou como o atestou em verso que diz: “simples, /como a água/ao alcance de qualquer ouvido”. Em seguida a composição poética deixa patente que essa objetividade e clareza (ou claridade) da palavra fazem com que ela alcance qualquer ouvido, especificamente o ouvido das ruas. Isto é, do povo, assim como o disse também o poeta Oswald de Andrade, com o seu irônico Erro de português e com o conhecido Pronominais: Erro de português //Quando o português chegou /Debaixo de /uma bruta chuva /Vestiu o índio /Que pena! /Fosse uma manhã de sol /O índio tinha despido /O português. /// Pronominais // Dê-me um cigarro /Diz a gramática /Do professor e do aluno /E do mulato sabido /Mas o bom negro e o bom branco /Da Nação Brasileira /Dizem todos os dias /Deixa disso camarada /Me dá um cigarro.
2. Nota biobibliográfica
*1913 (02 de maio): José de Aguiar Sampaio nasce na cidade sergipana de Carmópolis, filho de Gaspar Leite Sampaio e de Honorina de Aguiar Sampaio. A avó paterna Margarida A. Aguiar chamava-o carinhosamente de Bisuca. Os primeiros estudos do menino José Sampaio se concretizaram na Escola Particular de Dona Sirena Prado Silva, na cidade onde ele nasceu. O poeta casou (não foi possível localizar informações sobre a data do enlace) com Jaci Conde Dias (poetisa), natural de Itaporanga da Ajuda, irmã do jornalista Antônio Conde Dias. Também não foram identificados textos poéticos de Jaci. O casal teve dois filhos: Liana e Danilo, este herdou do pai a condição de poeta.
*1931: a família migrou para Riachuelo, outro município sergipano, onde o jovem atuou em dois jornais: O Riachuelo e Polianto. Neste último, aos 18 anos de idade, exercia o cargo de Diretor-Secretário.
*1932: a família de Sampaio se muda para Capela/SE, instalando naquele município uma loja de tecidos, na qual o poeta participa das atividades comerciais.
*1934: é a vez de Sampaio, aos 30 anos de idade, empreender uma mudança em sua vida e, assim, passa a trabalhar em Aracaju, na Firma Aguiar & Irmãos, de propriedade de seus tios, a mesma Firma na qual desenvolveu atividades em Riachuelo.
*1943: primeiro colocado no concurso promovido pela Academia Sergipana de Letras, com o poema O Rio e o conto Maloqueiros.
*1940, a família se mudou para a cidade baiana de Feira de Santana, onde se estabeleceu com um empreendimento comercial enquanto Sampaio atuava na imprensa local, na qual veiculava sua produção poética (BARRETO, 2006).
*1944: primeiro lugar em concurso literário realizado em Salvador, medalha de ouro Monteiro Lobato. Desta vez com o poema Um clarão que vem do mar.
3. Fortuna crítica
Sobre José Sampaio discorrem as publicações de: Acrísio Torres Araújo, in Literatura Sergipana; Paulo de Carvalho Neto, José Sampaio e o Povo; José Augusto Garcez, José Sampaio: Poeta Revolucionário; Jackson da Silva Lima, in História da Literatura Sergipana; José A. Nunes Mendonça, in Velhos Companheiros e Outros Escritos; Santo Souza, Mensagem Social na Poesia de José Sampaio.
Entre as opiniões sobre o poeta de Carmópolis, destaque-se o que asseverou Luiz da Câmara Cascudo:
Minha encantada surpresa neste poeta legítimo é senti-lo capaz de erguer a grande mão criadora, não para “ocultar a beleza da aurora”, mas para acender com as cores de seu espírito “as grandes estrelas livres do céu”.
O tom do crítico de literatura Luiz da Câmara Cascudo ganha as tintas de uma prosa poética ao dizer de José Sampaio um poeta legítimo e ao se deixar envolver pelas cores do céu, pelo brilho das estrelas nos versos do filho de Carmópolis.
"[...] é um poeta de grandeza incontestável, que elaborou uma obra singular, requintada, extremamente rica em imagens e de vigorosa construção, referência fundamental no cenário literário sergipano. Sampaio produziu poesia como processo de iluminação ou poética iluminada pela lucidez. Sua poesia caracteriza-se por uma reafirmação da imagem, do mundo como imagem, pelo fato de ser uma poesia de significados e não de signos, uma poesia original, de profundo sentimento humano" (GILFRANCISCO, 2010, p. 1).
O escritor e memorialista Jackson da Silva Lima organizou (1967) a primeira coleção de Esparsos e Inéditos, de José Sampaio e, em 1993, sob o patrocínio da Fundação Augusto Franco e da Prefeitura Municipal de Carmópolis, a obra foi entregue ao público sob o título de “Poesia & Prosa de José Sampaio”. Os poemas, publicados em jornais e revistas e espalhados pelo território sergipano por onde o poeta trilhava muitas estradas trabalhando como caixeiro-viajante, só como obra póstuma veio a ser publicada pelo Movimento Cultural de Sergipe, ainda em 1956.
Segundo Luís Antônio Barreto (2006), essa coleção foi lançada em solenidade no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. O estudioso faz constar ainda que outros críticos da literatura reconheceram o valor da obra de José Sampaio. Entre eles: Austrogésilo Santana Porto, Nunes Mendonça com o ensaio José Sampaio o homem e a mensagem “e Jackson da Silva Lima, que além de ser autor de livros e ensaios sobre a literatura sergipana, é uma espécie de curador das poesias e da prosa de José Sampaio, com vários textos introdutórios à obra sampaína”.
Em outro momento, Barreto relembra que Jackson da Silva Lima, ao reunir e publicar a obra do poeta, rendia-lhe homenagem e iniciava, também,
"(...) uma série de antologias, contemplando vários autores, como Artur Fortes, Fausto Cardoso, Pedro de Calasans, José Maria Gomes de Souza, José Jorge de Siqueira Filho, sem perder de vista Tobias Barreto, a quem dedicou o volume de Esparsos & Inéditos e de quem organizou as duas novas edições de Dias e Noites e o volume de Estudos de Direito III, das Obras Completas do pensador sergipano, organizadas em 1989/90. José Sampaio e Santo Souza foram, sempre, duas de suas preferências, como um gesto inarredável de fidelidade, que representa o senso crítico apurado, na melhor exegese das obras dos dois poetas" (BARRETO, 2006. p. 1).
O legado da literatura sampaína compõe uma obra cujos títulos são: Nós Acendemos as Nossas Estrelas, 1954; Obras Completas de José Sampaio, 1956; Esparsos e Inéditos, 1967; Poesia & Prosa, 1992. Verso e Prosa, 1980.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A admiração que sinto pelo poeta José Sampaio (uma das minhas primeiras leituras e influência entre os poetas sergipanos) nasceu quando eu estava aos sete anos de idade e meu pai trouxe para casa um exemplar autografado da obra Esparsos e Inéditos. Pouco tempo depois, acompanhada pela minha mãe, vi Sampaio em seu leito de morte, em Aracaju.
A obra poética de Sampaio engrandece o município sergipano de Carmópolis, o Estado de Sergipe, o Brasil e a Literatura da língua portuguesa. Entre o lirismo e o engajamento, o poeta amou igualmente a Natureza e a Justiça social. Fez das estrelas os seus luzeiros de inspiração e da causa social a bandeira consciente de sua preocupação com o semelhante. Sua palavra poética reflete o seu estro e a sua forma de lutar e revoltar-se contra uma situação que parece insolúvel há séculos, aquela em que o “homem é o lobo do homem”, como o vaticinou o filósofo político inglês Thomas Hobbes, em sua obra O Leviatã.
A vida e a obra de José Sampaio são o legado literário, político-social e humano deixado a todos os que amam a palavra, a poesia, a justiça e o bem estar dos cidadãos. Infelizmente o tempo vai acumulando minutos, horas, dias, eras e, por vezes, não se tem a oportunidade de levar ao conhecimento de gerações que se sucedem a construção da cidadania feita com inspiração, sentimento, talento e poesia.
REFERÊNCIAS
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