Não quero um “Best-seller”, quero bons escritores
Escrevo este texto como um leitor. Apesar de trilhar a senda da escrita, com a pretensão do “vir a ser” autor, escrevo como alguém que lê e espera – da leitura – transcendência, arte e fulgência. Entretenimento, sim. Mas entretenimento que fortalece a alma e traz saúde para a mente e para o corpo. Não esse entretenimento rebento da obsolescência planejada, fast-food. Que entope as veias do raciocínio e enfarta o coração da cognição.
"A leitura traz ao homem plenitude" (Francis Bacon)
E por falar em obsolescência, os livros – escravos do comercialismo desenfreado – estão sendo diariamente vomitados. Centenas de milhares, milhares de centenas. Jogados ao lixo, pisoteados e “insignificados”. Efêmeros e descartáveis. A indústria do livro não quer saber da arte de escrever, mas sim do culto ao “vender”. Vender, vender e vender.
Romances pasteurizados, de textos pobres e que subestimam a inteligência do próprio leitor, estrelam nas vitrines das maiores e mais “renomadas” livrarias do país (físicas e virtuais). Estão nas listas dos mais vendidos e geram nuvens de “leitores” histéricos e idólatras desses “astros” publicados.
Os leitores desses Best-sellers não estão encontrando, como dizem, uma porta de entrada para outros livros. Para escritores que realmente fazem literatura com “L” maiúsculo. Estão estagnados, ostraficados, e querem apenas consumir. Consumir desenfreadamente, o mais do mesmo. A mesma fórmula, a mesma pobreza a mesma sentença subliminar que diploma acéfalos literários.
"Quando se diz que um escritor está na moda, isso quer dizer que ele é admirado por menores de trinta anos." (George Orwell)
Estagnados em “E.L. James, Cassandra Clare e Fábio de Melos” da vida. Não os vejo atravessar a estreita ponte que leva a um Frei Betto, Ferréz, Daniel Galera, Martha Argel, Roberto de Souza Causo, Helena Gomes, Santiago Nazarian entre outros. E olha que citei apenas autores nacionais. Para mostrar como gostamos de marginalizar, empurrar para a periferia nossos próprios autores. Digníssimos autores, verdadeiros escritores!
Ser escritor é muito mais do que vender cem mil exemplares em uma semana, é se envolver com as letras, um coito ninfomaníaco com a arte de escrever. É nunca subestimar a inteligência do leitor, escrever desafiando quem lê. Não ter medo do estranho e nunca se render à massificação nauseante de gêneros e rótulos.
"O escritor precisa de quase tanta coragem como o guerreiro; um não deve preocupar-se mais com os jornalistas do que o outro com o hospital." (Stendhal)
Por isso me interesso pelas pequenas editoras, pelos bravos autores independentes. Independência do crivo do comercial, da papa mastigada para mentes desdentadas. E acredito no futuro da autopublicação, da impressão sobdemanda. Nada de apelos desenfreados para queimar o estoque de má literatura. Não é preciso ter medo de quem se autopublica. Fernando Bonassi, André Vianco, Eduardo Spohr, Mark Twain, Stephen King e Ernest Hemingway são alguns autores que se autopublicaram. E que, independente de editoras e vendas astronômicas, são escritores.
Como leitor, espero que o texto me dignifique como tal e não me use como mero consumidor. O veneno da subliminaridade do “compre mais” deve ser combatido pelo antídoto do leia mais – num sentido qualitativo.