A PERSONA E A SOMBRA DA LOUCURA: INTERPRETAÇÃO JUNGUIANA DE WUTHERING HEIGHTS

Alessandro Wiederkehr

RESUMO:

O morro dos ventos uivantes é uma obra consagrada que, desde a sua publicação até os dias de hoje, impressiona o público leitor pela representação dos conflitos humanos que apresenta. Este aspecto foi a motivação para a produção deste trabalho. Para tanto, optou-se usar como referencial teórico os estudos de Jung sobre literatura visionária, arquétipos e inconsciente coletivo. Primeiramente seguiu-se o viés de uma análise psicológica das personagens. Contudo, um viés mais simbólico se revelou, modificando o cerne do trabalho. Por fim, optou-se pelos dois vieses, relacionando-os como hipótese para uma interpretação mais abrangente da obra.

Palavras-Chave: Morro dos ventos uivantes, Jung, literatura, psicologia.

ABSTRACT:

The Wuthering Heights is a work dedicated to since its publication until the present day, impresses the reader by the public representation of human conflict that it presents. This was the motivation for the production of this work. To this end, we chose to use as a theoretical studies of Jung's visionary literature archetypes and the collective unconscious. First followed by the bias of a psychological analysis of the characters. However, a more symbolic bias proved by modifying the core of the work. Finally, it was decided by the two biases, relating them as a hypothesis for a broader interpretation of the work.

Keywords: The Wuthering Heights, Jung, literature, psichology

INTRODUÇÃO

“Ventava, como ventava

no amor que por um instante

me salvou

e para sempre me

perdeu”.

Wuthering Heights, único romance de Emily Brontë (1818 – 1948), foi escrito na era Vitoriana e caracteriza-se pelo teor misterioso, pela fantasia e pelas relações conflituosas das personagens. Gerações de leitores, admiradores e estudiosos consideram Wuthering Heights uma das maiores obras da literatura inglesa, tal é sua singularidade.

Baseando-se nessas afirmações, este trabalho tem por objetivo fazer uma análise interpretativa da simbologia de Wuthering Heights, tendo como referencial teórico a obra de Carl Gustav Jung (1872 – 1962), especificamente seus conceitos de inconsciente pessoal e inconsciente coletivo e de arquétipos, entre eles: sombra, ego, persona e anima, que serão apontados na obra.

CONCEITO JUNGUIANO SOBRE LITERATURA

A princípio é relevante conhecer os conceitos e as contribuições de Jung para a literatura. Para ele, o processo de criação das obras de arte, entre elas a literatura, está atrelado a processos psíquicos relacionados com o inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Seguindo esta definição, Jung propõe a distinção de dois processos diferentes na criação de obras literárias: “o processo psicológico e o processo visionário”.

No primeiro, as obras são bem recebidas, não causam estranhamento. Os temas são baseados nas experiências humanas como paixões, sofrimentos e seus efeitos no homem. “Pertencem a esse tipo o romance de amor, o romance social, a poesia lírica, a poesia épica, comédias e tragédias” (SILVEIRA, 1975). As obras psicológicas, segundo Jung, alimentam-se dos substratos que permeiam o inconsciente pessoal e estão sujeitos ao tratamento e determinações do autor:

O autor submete seu assunto a um tratamento cuja orientação foi intencionalmente determinada; ele acrescenta coisas ou subtrai coisas; sublinha este efeito, atenua aquele, põe aqui uma cor, ali outra, pensado com o maior cuidado os resultados possíveis, observando constantemente as leis da beleza de formas e o estilo. O autor utiliza neste trabalho seu mais agudo raciocínio e escolhe sua expressão com a mais completa liberdade. A matéria que ele trata está submetida a sua intenção artística; ele quer representar isto e não qualquer outra coisa. (apud SILVEIRA, 1975, p.156)

As obras visionárias são caracterizadas por ter uma recepção marcada por perturbadora estranheza, não são as experiências vividas pelas personagens que causam maior estranhamento, mas o caráter misterioso que apresentam, e a atmosfera misteriosa que manifesta sua existência. Aqui, o artista não controla o impulso inspirador que o domina, a dimensão da obra é maior que o autor. De acordo com Jung, os elementos que permeiam a obra visionária originam-se nas experiências primordiais, derivam do inconsciente coletivo. Para ele:

A experiência vivida ou o objeto que constituem, o tema da elaboração artística nada tem que nos seja familiar. Sua essência nos é estranha e parece provir de distantes planos da natureza, das profundezas de outras eras ou de mundos de sombra ou de luz existentes para além do humano. Este tema é uma experiência primordial que excede a compreensão e face à qual o homem sente-se petrificado pela sua singularidade e sua frieza ou, ao contrário pelo seu aspecto significativo e solene que parecem, tanto num quanto no outro caso, surgir do fundo das idades”. (ibidem)

Wuthering Heights parece enquadrar-se às definições de literatura visionária, devido às relações conflituosas de amor e ódio que causaram e ainda causam estranheza. E ainda, o mistério que envolve a chegada da personagem “Heathcliff” e sua natureza sombria tendo sido, por várias vezes, comparado aos fortes ventos gelados do morro.

No aniversário do centenário da criação da obra, que quase coincide com o centenário da morte da autora, Rachel de Queiroz realiza a tradução de O morro do vento uivantes, considerada por leitores, professores e críticos como a melhor tradução brasileira da obra. No prefácio, Rachel relata que “o volume interessou a poucos; e a esses poucos, mais revoltou, escandalizou, do que atraiu”, e que “houve quem afirmasse que era o livro um mau trabalho de mocidade de Charlotte...” (1967, p.XI).

Considerando os apontamentos feitos, pode-se perceber a congruência entre o conceito de literatura visionária e a obra analisada neste trabalho. A apresentação da teoria de Jung sobre literatura mostra-se importante para a interpretação simbólica que se pretende fazer.

O CONSCIENTE, O INCONSCIENTE PESSOAL, INCONSCIENTE COLETIVO E OS ARQUÉTIPOS

A concepção jungueana da psique pode ser representada como consciente e inconsciente, sendo este, dividido em inconsciente pessoal e coletivo. Esta estrutura pode ser comparada a “um vasto oceano (inconsciente) no qual emerge uma pequena ilha (consciente).”

1.1. O consciente

Consciente é a área em que se confrontam os conteúdos psíquicos e o ego, que é o centro do consciente. Estes conteúdos só chegam ao nível consciente se são confrontados com o ego, caso contrário permanecem na vastidão do inconsciente. O ego é constituído por um aglomerado de elementos que formam uma unidade muito coesa denominada “complexo de ego”.

1.2. O inconsciente pessoal

O inconsciente pessoal, para Jung, refere-se ao nível mais superficial do inconsciente. Neste campo estão registradas as experiências pessoais, “impressões subliminares” com carga energética insuficiente para atingir o consciente, acontecimentos e sofrimentos decorrentes da vida que causam lembranças desagradáveis e complexos incompatíveis com o consciente. Aqui, também ficam arquivadas as qualidades que nos são inerentes, mas com as quais não concordamos e que consideramos defeitos, o nosso lado negativo (sombra).

1.3. O inconsciente coletivo

O inconsciente coletivo corresponde ao nível mais profundo do inconsciente, que constitui as bases da estrutura da psique comum a todos os humanos. Jung faz uma analogia entre a anatomia do corpo humano, comum a todas as raças, e a psique, que possui um substrato comum a todos. Este substrato foi denominado por Jung como inconsciente coletivo

Do mesmo modo que o corpo humano apresenta uma anatomia comum, sempre a mesma, apesar de todas as diferenças raciais, assim também a psique possui um substrato comum. Chamei a este substrato inconsciente coletivo. Na qualidade de herança comum transcende todas as diferenças de cultura e de atitudes conscientes, e não consiste meramente de conteúdos capazes de tornarem-se conscientes, mas de disposições latentes para reações idênticas. Assim o inconsciente coletivo é simplesmente a expressão psíquica da identidade da estrutura cerebral independente de todas as diferenças raciais. Deste modo pode ser explicada a analogia, que vai mesmo até a identidade, entre vários temas míticos e símbolos, e a possibilidade de compreensão entre os homens em geral. As múltiplas linhas de desenvolvimento psíquico partem de um tronco comum cujas raízes se perdem muito longe num passado remoto. (JUNG, 2000, p. 60)

No cerne do inconsciente, Jung identificou um núcleo de energia constante ao qual deu o nome de self (si mesmo), que tem importância fundamental para psicologia jungueana.

1.4. Arquétipos

São estruturas arcaicas, modelos antigos análogos que adquirem forma e são inerentes a todas as pessoas. Justificam-se pela recorrência de vários temas idênticos nos contos de fada, mitos, ritos e dogmas religiosos de diferentes culturas. De forma geral, é toda produção do inconsciente, seja em sonhos, seja em delírios insanos.

Silveira (1975) apresenta duas hipóteses para a origem dos arquétipos:

A) Resultariam do depósito das impressões superpostas deixadas por certas vivências fundamentais, comuns a todos os humanos, repetidas incontavelmente através de milênios. Vivências típicas, tais por exemplo, as emoções e fantasias suscitadas por fenômenos da natureza, pelas experiências com a mãe, pelos encontros do homem com a mulher e da mulher com o homem, vivências de situações difíceis como a travessia de mares e de grandes rios, a transposição de montanhas, etc.

B) Seriam disposições inerentes à estrutura do sistema nervoso que conduziriam à produção de representações sempre análogas ou similares. Do mesmo modo que existem pulsões herdadas a agir de modo sempre idêntico (instintos), existiriam tendências herdadas a construir representações análogas ou semelhantes. Esta segunda hipótese ganha terreno nas obras mais recentes de Jung. (ibidem)

ANÁLISE DE WUTHERING HEIGHTS E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO

A atmosfera mística, a conflitante hostilidade com que as personagens do romance se relacionam chocou a sociedade conservadora da época, causando, em princípio, uma rejeição da obra. A complexidade das relações humanas no Morro dos ventos uivantes remete à linha de análise à definição de literatura visionária.

Nesta lógica, os aspectos que chamam mais atenção são as relações conflituosas entre as personagens. A teoria de Jung dá uma justificativa aceitável para estes conflitos analisando uma das cenas que desencadeara sentimentos de ódio e vingança que se estendem até as gerações seguintes das personagens.

No capítulo XIX, Catherine depara-se com uma situação perturbadora, precisa escolher Linton ou Heathcliff para se casar. Linton representa a cultura e aristocracia, em outras palavras, representa as convenções e status social, pode ser entendido como representação simbólica da persona, “Para estabelecer contatos com o mundo exterior, para adaptar-se às exigências do meio onde vive, o homem assume uma aparência que geralmente não corresponde ao seu modo de ser autêntico”. Já Heathcliff é caracterizado como violento, dominador e selvagem, atributos que também são inerentes a Catherine.

Catherine, que até então só conhecia seu mundo, ficou seduzida pelo mundo de Linton. Ela (o ego) tem que escolher sustentar a persona (Linton) status social e nega-se projetando o que é incompatível com a persona na sombra (Heathcliff).

Catherine decide-se casar com Linton pela condição sociocultural que ele pode oferecer e rejeita Heathcliff por ser igual a ela, e esse não tem os atributos de Linton. Contudo Catherine gosta de Heathcliff e isso pode ser evidenciado no trecho em que fala: "- Eu sou Heathcliff, mas se nos casarmos que futuro teremos?"

Na definição de arquétipos de Jung, ego representa o que somos, nós mesmos, que se relaciona com a persona, que é o que a sociedade quer que sejamos, são as imposições das convenções sociais que tendem a determinar o modelo de comportamento a ser seguido. Já a sombra que no inconsciente coletivo representa o mal e no inconsciente pessoal seriam aqueles desejos inaceitáveis, por razões éticas ou morais, seria o "lado negro" da natureza humana. É tudo aquilo o que não se quer ser, é tudo que se opõe aos valores que a persona representa. Para Jung, existe uma bipolaridade entre os arquétipos persona, ego e sombra, o distanciamento desses arquétipos, segundo Jung, pode criar efeitos catastróficos, como atitudes violentas. A sombra é frequentemente associada a símbolos como o diabo, o maligno. Interessante esta definição quando comparada a personagem Heathcliff, que da primeira página da obra até a última é chamado de demônio. Observe-se a fala do Sr. Earnshaw quando retorna de sua viagem trazendo consigo Heathcliff:

– Olha mulher! Nunca me senti tão exausto em minha vida. Aceite entretanto minha carga como um presente de Deus – embora seja ele tão preto como se viesse das mãos do Diabo.

Pode-se considerar aceitável dizer que as personagens são a representação simbólica dos arquétipos mencionados. Da mesma forma, as personagens da segunda geração também representam os mesmos arquétipos – Cathy (ego), Linton Hiathcliff (persona) e Hareton (sombra) – por serem constantemente comparadas aos primeiros pela narradora. Veja-se este exemplo no qual ela compara mãe e filha: “O amor de Linton pela filha deriva mais da ligação dela com Catherine do que do fato de ser de seu sangue”. Agora a comparação entre tio e sobrinho: “Era um menino pálido, franzino, afeminado. Passaria como irmão mais moço de meu amo, tão grande era a semelhança entre os dois; havia, contudo, uma impertinência doentia que Edgar Linton jamais mostrara”(1967, p.184). A mais surpreendente é a comparação entre Heathcliff e Hareton: “Sabe que vinte vezes por dia eu invejo Hareton” ... “Olhe que eu teria amor por esse rapaz, se ele fosse de outra raça”, “dá-me prazer esse rapaz...” (1967, p.200).

A transcendência das personagens pode ser justificada considerando-se o processo de individuação. Define-se este processo como a busca do equilíbrio da psique que se harmoniza em sua totalidade. De acordo com Silveira, “O processo de individuação não consiste num desenvolvimento linear. É movimento de circunvolução que conduz a um novo centro psíquico.”

Jung denominou este centro self (si mesmo). Quando consciente e inconsciente vêm ordenar-se em torno do self a personalidade completa-se. O self será o centro da personalidade total, como o ego é o centro do campo do consciente. (ibidem)

O casamento de Catherine com Linton gerou uma desarmonia com Hiethcliff (sombra). Na medida em que o ego valoriza excessivamente a persona há uma fusão entre os dois e consequentemente um esvaziamento do ego. “O indivíduo funde-se então aos seus cargos e títulos, ficando reduzido a uma impermeável casca de revestimento”. Afirma Silveira (1975, p.90). E diz ainda, “por dentro não passa de lamentável farrapo, que facilmente será estraçalhado se soprarem lufadas fortes vindas do inconsciente.”

A individuação ocorre para corrigir o desequilíbrio gerado. Pode-se perceber este processo comparando as relações das personagens da segunda geração. Cathy casa-se com Linton Heathcliff, contudo percebe nele uma falha de caráter, fato citado pela narradora na comparação que faz entre tio e sobrinho, e após sua morte, que pode ser entendida como uma neutralização da força exercida pela persona, busca harmonizar-se com Hareton, que representa a sombra, consumando individuação.

Outro fato que sugere a individuação é a transcendência da personagem Catherine, que no começo é Catherine Earnshaw, passa a ser Catherine Linton, depois Heathcliff e no final Catherine Earnshaw novamente. Esse movimento circular, como já foi citado, pode ser entendido como sendo uma manifestação do ego buscando o equilíbrio com a sombra, considerando que Catherine Earnshaw filha tem ímpeto moderado, resignação e uma busca do autoconhecimento, como pode ser observado quando Catherine relaciona-se com o primo Hareton Earnshaw, um garoto com qualidades nobres, mas fechado e rude, consequência do tratamento recebido do pai e depois de Heathcliff.

Heathcliff foi encontrado pelo pai de Catherine vivendo nas ruas de Liverpool; sem família é adotado pelo Sr. Earnshaw. Chegando a casa, o Sr. Earnshaw apresenta o garoto á família e diz que ele vai se chamar Heathcliff. Com exceção de Catherine, todos demonstram desprezo pelo garoto. Nesse momento, os dois, Heathcliff e Catherine, sentem uma atração irresistível, pode-se dizer, de acordo com Jung, que houve uma manifestação da anima e animus , arquétipos que homens e mulheres têm e equivalem às experiências de relacionamentos dos mesmos no decorrer da história. "A anima é, presumivelmente, a representação psíquica da minoria de genes femininos presentes no corpo do homem"(Jung). No contexto da história, pode-se perceber alguns indícios como quando Catherine diz “eu sou Heathcliff”. “As relações entre o homem e a mulher ocorrem dentro do tecido fantasmagórico produzido pela anima e pelo animus. Portanto, não é para surpreender que surjam emaranhados problemas na vida dos casais.” O fantasma de Catherine aparecendo a Heathcliff pode ser entendido como o arquétipo anima buscando levar Heathcliff ao encontro com a totalidade psíquica.

Outros aspectos interessantes podem ser percebidos, considerando a teoria de Jung, em Wuthering Heights. Entre eles pode-se destacar o conflito entre o Real e o Fantástico, que pode ser visto no capítulo III com a manifestação do fantasma de Catherine, que é explicado como pesadelo por Lockwood, e na passagem do capítulo XXXIV com as alegações dos aldeões de terem visto o fantasma de Heathcliff, fato que é rejeitado na fala de Sra. Dean, que diz que tais comentários são derivados da superstição do povo. Em uma análise global, pode-se considerar aceitável dizer que o conflito entre real e fantástico simboliza o conflito entre consciente (real) e inconsciente coletivo (fantástico), considerando também a simbologia de fantasma como sendo a manifestação do passado no presente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Usou-se a interpretação jungueana para colocar os estados psicológicos da Catherine e as dimensões simbólicas no desenvolvimento ou não dos arquétipos sombra e persona.

Catherine, devido à sua educação e influência da família e da sociedade, formara uma persona com uma problemática personalidade. Apesar de ter buscado uma saída pelo papel cultural à sua volta, o modelo original impediu-lhe a liberação.

A rigidez da sociedade anulou a produtividade da persona, contribuindo para aumentar sua sombra. Inverteu-se a função normal da persona que passou a ser patológica. Ao invés de propiciar o seu desenvolvimento, foi incorporada ao sistema defensivo para evitar o confronto com a sombra patológica. Catherine necessitava colocar em risco seu status social, seu sucesso pessoal, seu posicionamento de orgulho, pseudo-indiferença e desprezo.

A persona tem o problema de estruturação e o problema de apego à adaptação, sacrifício do poder de fazer para retirar a máscara a qual estava acostumada. O que ocorre também com Heathcliff, que não soube lidar com a perda e desencadeou uma neurose e teve sua afetividade bloqueada. A agressividade de Heathcliff foi uma estratégia compensatória para seus limites que ele queria ultrapassar, mas as regras sociais o impediam.

A persona é um canal estruturante e operativo que vai sendo aos poucos construído pela elaboração simbólica e discriminações sucessivas, até se tornar altamente precisa e coerente. Somente por ser tão produtiva é que ela pode ser corrompida. Catherine usa uma persona defensiva, uma "persona falsa", frágil e incoerente ou indiscriminada. O apego à persona é um dos grandes problemas no desenvolvimento da personalidade. Ao se apegar ao que passou, o ego não permite o desenvolvimento do novo, que irá se expressar pela sombra. Este apego interferiu na função normal da persona à qual Catherine estava acostumada e não assumiu por falta de coragem os símbolos de sua própria vida.

No capítulo XV, Catherine encontra-se muito fraca e passa por delírios variados e constantes. Não confronta sua sombra para ser integrada, mas para ser afastada. Não resistindo mais aos seus conflitos, entrega-se à loucura e à morte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRONTË, Emily. O Morro dos Ventos Uivantes; tradução de Rachel de Queiroz. Rio de Janeiro: Record, 1995.

SILVEIRA, Nise da. Jung - vida e obra; 12ª ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1990.

PORTILHO, Vanilde Gerolim. Jung e os conceitos básicos da Psicologia Analítica. Artigo. www.sbprj.org.br - Sociedade Brasileira de Psicanálise do R.J (26/10/2001)

BYINGTON, Carlos. Estrutura da Personalidade: Persona e Sombra. Série Princípios.São Paulo: Ática, 1988.

______. Desenvolvimento da Personalidade Símbolos e arquétipos. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1987.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo / [tradução Maria Luíza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva] - Petrópolis, RJ : Vozes, 2000.

Alessandro Wie
Enviado por Alessandro Wie em 11/07/2014
Código do texto: T4878824
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