DESEJO de AMAR

Vejo Benedito César Silva como escritor que suspira a indagação, no livro É POSSÍVEL DECIFRAR O AMOR? Ao poetizar as faces do amor, no mundo das palavras usadas artisticamente, ele não deixa de citar a condição essencial ao homem: o desejo de amar. “Dize-me quem tem razão / Quando o assunto é o amor: / A razão, / Que quer algo racional, / Ou o coração, / Que quer algo passional?”

Sua poesia nasce do desejo de, no íntimo, criar o instante onde triunfa o pensamento e o mistério do sentimento, da emoção e da paixão como magia da vida.

Busca no amor a verdade e a liberdade, refletidas no ser em cada movimento em renovação ao descrever a aproximação de quem quer: “Os olhos fixados / revelam o fervor dos desejos / Por beijos maravilhados! / Entre uma folha e outra / A flor margarida se desfazia / Em imaculada magia, / Porque almejava / Fazer benquerer...”.

Benedito mostra que o desejo de amar pode ser a réplica da postura; que, quando a luz leva aos olhos o amor, pode ser decifrado na repetição dos momentos, no contraste conjugados e nos caminhos semeados pelos gestos da emoção, “O amar, verbo infinitivo / Substantivado na esperança / De quem canta a paixão / E o conjuga até na solidão / É a beleza da gramática da vida / Refletida na afeição.”

Revela que no segredo do desejo de amar é que se carrega o peso da solidão; no silêncio é contornado o pensamento; na encruzilhada a dúvida de ser (des)amado e no olhar a esperança; “Não sei qual a fisionomia do amor, / Conheço apenas a concretude da minha dor! / Dessa face subjetiva, esfacelada em / Gestos essenciais diluídos em pensamentos irreais. / Criação abstrata pelo / Sentimento que só eu nutri à pessoa amada”.

Demonstra que o desejo pela vida brota no amor que se reflete no espelho, quando emerge de profundo sentimento pelo outro, onde a solidão se esconde e é nada, e o amor estremece e é tudo; “... Esquece o espelho quebrado, / Não refletem nada de ti! / São só imagens distorcidas / Que remetem à imponderada partida, / Do único alguém que você amou na vida!”

Decifra o amor no voo das asas da liberdade, na alegria dos ventos a recolher flores e rasgar a bruma, porque o amor turva os sentidos. O pensamento se estende em imagens e contornos nas linhas do tempo, cujas formas acendem e ativam a vida. Então, em palavras, lança a semente do amor, da conquista da emoção e da cor da solidão, “Em teu braço acolhido / Sou pássaro no ninho / Não mais desprovido / A paz é reinante. / O amor em seiva deslizante / Transita por caminhos já corridos / Escorre por entre os corpos / apaixonados”.

Encontro em cada página o desejo de amar na luz que ilumina a paixão ao refletir no coração a dúvida, na redescoberta do instante no íntimo das horas que, ao decifrar o amor, se reconhece na lembrança da vida amorosa, quando marcada pelos atos de envolvimento no mais profundo sentido, “... O que é que eu faço com tanto desejo? / O pior de tudo é o seu desprezo. / Sem você sou completamente indefeso. / Volte, para que possamos eternizar / O amor contido em nós,...”.

Benedito César Silva define que o ser é capaz de amar e ser (des)amado; de buscar iniciativas para as suas conquistas, porque a vida faz com que o desejo de amar se transforme no momento certo e abra o coração para ser possível decifrar o amor, “Meu desejo é tão intenso, / Já não sei mais como expressar. / Este amor me consome, / Já não consigo viver sem te amar. // Por onde andas? // Procuro-te meu amor, / Incessantemente quero te encontrar. / Amo-te, desejo-te...”.