entre a FLOR e o MURO
“... Uma imagem vaga por entre os versos /
constrói muros e os faz desabar...” (Vera Casa Nova)
É preciso ter o carinho necessário para enfrentar a realidade; para se aproximar da vida com a vida; para conversar com a pretensão de descobrir o caminho entre a flor e o muro, e reencontrar o sonho, como em Helena Kolody, “Pintou as estrelas no muro / e teve o céu ao alcance das mãos.”
Nas palavras de Pedro Du Bois, “...Falo em saltar sobre a amurada / inundando / a vida em detalhes...”. A partir da contemplação da flor, surge o momento em que projeto a vida e sinto a tristeza invadir a mente, quando fico de frente para o muro. Ambos mostram a verdade de que somos feitos, em que conheço e compreendo o momento ao indagar: a flor ou o muro? Encontro em Vânia Lopes, “Ando construindo muros / para comparar minhas escadas escorregadias / meu desatino / deixo como pinturas no muro / sem assinatura / para não correr o risco de me perder”
O fato é que a verdade se limita à simples diferença entre a vida e a morte, o que se confirma ou é relativo à visão muro, ou à imaginação da flor; do quanto a flor ilumina e o muro finaliza. Seja para reaprender ou reencontrar a plenitude dos sentidos, fazendo render as palavras e gritar que o muro expressa a mensagem onde o pensamento é a flor, como em Vera Casa Nova, “Na rua os gritos desenham muros.”
Entre a flor e o muro está o impulso para construir a natureza e o homem; onde se fundem no sentimento da diferença sentida, concebida na perspectiva que confere especial importância ao desejo como manifestação. Tal sentido - a flor - transcende a vida orgânica e acompanha o homem cerceado no muro como limite dos impulsos. Alcides Buss disse, “... Procuras à flor / no éter dos sentidos e palavras...” e, Rodrigo de Souza Leão, no seu primeiro livro, Há Flores na Pele.
Nessa construção entre a flor e o muro, o efeito resulta em segmentação e ruptura, cuja manifestação se dá por imagens como a nostalgia e a saudade que se confundem com os sentidos. Porém, como reconhecimento em que o homem privilegia o saber e se concede a primazia do sonho. “Persegui a luz? / mal segui-a, tendo / onde o sonho pus, / uma flor morrendo...”, segundo Alphonsus Guimaraens Filho.
A flor e o muro são mistérios do que pode vir depois e a expectativa dos destinos. Entre a flor e o muro há a conversão do eu em nós, como processo dinâmico formado pelo passado e presente, ao ceder lugar a temas pessoais ou a capacidade sensorial, contraponto de vida na certeza da morte, como em Alexei Bueno, “oh flor, oh muro, / vós ambos sois./ Ser, este é, pois, / O liame obscuro // que há em vós. O puro / Elo. Depois, / Se se erguem sóis, / Se se alça o escuro, // Que importa? Estais, / Seiva, argamassa, / Aqui. Jamais // Sereis mais que isto / Que é, que não passa./ Oculto e visto.”