OS LUSÍADAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA DE CAMÕES.
UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ
CURSO: LETRAS
ARTIGO CIENTÍFICO
OS LUSÍADAS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA DE CAMÕES.
Karine de Sousa Barbosa
RESUMO: Este artigo tem como objetivo fazer uma breve explanação a obra poética Os Lusíadas, do autor Luís Vaz de Camões. É fundamentado é autores como ADERALDO (1983); MOISÉS (1993); MOISÉS (1998) e MOISÉS (1999). Estrutura-se, basicamente, em três pontos principais que tratam da vida do autor, de uma síntese da obra e encerra-se com algumas considerações sobre ambos. É apresentado à disciplina de Literatura Luso-Brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Lusíadas. Camões. Literatura. Portuguesa.
1. INTRODUÇÃO
O artigo em questão surgiu da necessidade de um maior aprofundamento de conhecimentos em relação à magnífica obra poética de Luís de Camões: Os Lusíadas. Visto que esta foi de suma importância para a consagração do autor em todo o quadro literário, tanto português, quanto fora dele.
Por conseguinte, serão apresentados alguns fatos pertinentes à vida do autor, situando-o no cenário português, apresentando-se fatos biográficos. Ainda serão feitas explanações sobre a referida obra, sua estruturação e aspectos mais relevantes da narrativa. E, por fim, são feitas algumas considerações sobre ambos.
Certamente o assunto abordado neste trabalho, é de grande importância não só para estudantes e profissionais do curso de letras, mas sim de todos aqueles considerados amantes da literatura, principalmente acadêmicos, já que estão em busca de maiores conhecimentos na área.
2. LUÍS VAZ DE CAMÕES: SÍNTESE BIOGRÁFICA
Luís Vaz de Camões nasceu, possivelmente, em Lisboa, Alenquer, Coimbra ou Santarém, no ano de 1524 ou de 1525, advindo duma família galega. Quando jovem, teria vivido no Palácio, o que pode ter contribuído na sua formação intelectual, participando talvez de algum curso escolar. MOISÉS (1993, p. 26) registra:
Não é certa sua passagem como estudante, por Coimbra, onde no Mosteiro de Santa Cruz o tio D. Bento foi cancelário. Mas em sua lírica surgem referências às águas do Mondego e ao tempo longo em que ali viveu feliz (canção “Vão as serenas águas”). Não terá assistido, porém, à fase brilhante do Colégio das Artes. É possível que tivesse freqüentado as aulas do Mosteiro, no qual regia a Cadeira de grego, desde 1535, o Mestre Vicente Fabrício. Em qualquer hipótese, a erudição de sua obra denuncia a existência de uma escolaridade apurada, sem prejuízo da possibilidade de um diligente e requintado autodidatismo.
Sobre Luís de Camões, ADERALDO (1983, p.70,71) afirma:
Poeta, viajante e guerreiro de vida aventurosa, Camões assimilara e dominava conhecimentos os mais diversos, desde as literaturas clássicas e as literaturas espanholas e italiana, até a geografia, a cosmografia, a náutica e os relatos de viagens, a história nacional. Exercitado na poética latina, dominava também os diversos gêneros e estilos líricos clássicos – como a ode horaciana, a elegia, a écloga virgiliana -, o soneto e a canção petrarquianos etc., e consumou a grandeza do seu gênio na epopéia clássica, ombreando com os maiores nesse gênero. Além disso, incursionou na comédia clássica e no auto, compôs redondilhas, continuando a tradição do Cancioneiro Geral, e conhecia a fundo as formas trovadorísticas e as cantigas populares.
Por seu talento e elegância, certamente despertou o interesse em damas da Corte, essas paixões proibidas resultaram em seu exílio, no ano de 1549, em Ceuta. É preso em 1552, por ferir ao servidor do Paço Gonçalo Borges, sendo liberto sob a promessa de integrar-se no serviço militar ultramarino; chega à Índia em 1553. Em Macau, por volta de 1556, teria iniciado parte de Os Lusíadas. Buscando defesa, vai a Goa, pois sofre acusação de prevaricação, porém no rio Mecon, naufraga e, nadando consegue salvar-se, portando Os Lusíadas, conforme a lenda. Apesar de perder sua companheira Dinamene, chega a Goa, onde é preso e, um tempo depois, solto. Após quatro anos, em meados de 1967, endividado volta à cadeia, em Moçambique. Prossegue sua vida miseravelmente, depois de liberto, encontra Diogo do Couto e com sua ajuda chega, em abril de 1569, à Pátria. Publica Os Lusíadas em 1572, recebendo uma pensão anual de 15 000 réis como retribuição, entretanto continua na miséria, pobreza e abandono até a morte, em 10 de junho de 1580.
Os acontecimentos históricos pertinentes à vida de Camões ainda são um pouco incertos, porém Os Lusíadas revela muito sobre o poeta. Atentando às ambigüidades, conflitos, paradoxos e demais situações sugeridos na obra, pode-se supor algumas características do autor, sendo as principais a humanidade, a sensibilidade, a intelectualidade cultural, a curiosidade, a observação da realidade, a experiência e a genialidade.
3. OS LUSÍADAS: SÍNTESE NARRATIVA
A poesia de Camões pode ser dividida em duas formas básicas, são elas: a medieval e a clássica. Ou ainda, respectivamente, a tradicional, a “medida velha”, representadas nas redondilhas; a renascentista, a “medida nova”, que se subdivide em lírica e em épica, como é o caso de Os Lusíadas.
A narração do poema situa-se basicamente na viagem de Vasco da Gama às Índias, visando a um contato marítimo, conforme MOISÉS (1999, p.57): “a frota portuguesa levantou âncora a 8 de julho de 1497, e arribou a Calicut, fim da viagem, a 24 de maio de 1498”.
De acordo com MOISÉS (1999, p. 57), Os Lusíadas estrutura-se da seguinte forma:
Contém 10 cantos, 1102 estrofes ou estâncias e, portanto, 8816 versos; as estâncias estão organizadas em oitava-rima (compõem-se de oito versos com o seguinte esquema rímico: abababcc); os versos são decassíbalos heróicos (com cesura na 2ª sílaba, ou 3ª, ou 4ª, na 6ª e na 10ª).
Ainda em se tratando de sua estruturação, a obra é distribuída em três partes: a Introdução, que ocupa as 18 primeiras estrofes e desmembra-se em Proposição – estrofes 1-3, onde são cantadas sobre as “armas e os barões assinalados”; Invocação - estrofes 4-5, as musas do Rio Tejo, chamadas de Tágides são invocadas pelo poeta; Oferecimento – estrofes 6-18, o poema é dedicado ao Rei D. Sebastião, que custeou a publicação da obra. A segunda parte é a Narração - que vai do Canto I, estrofe 19 ao Canto X, estrofe 144 – e, por fim, o Epílogo – Canto X, estrofes 145-156.
A Narrativa é iniciada com a navegação das caravelas de Vasco da Gama pelo Oceano Índico. É realizado o Concílio dos deuses no Olimpo para tomarem decisões a respeito dos marinheiros. Baco é contrário a eles, Júpiter é simpatizante, até que Vênus consegue permissão para que os navegantes sigam a viagem. Prepara-se uma cilada para Vasco da Gama por parte de Baco, logo que chegam a Moçambique, mas com a ajuda de Vênus, o comandante vence. Quando dos portugueses em Mombaça, novamente Baco entra em cena, porém Vênus alcança maior proteção para os mesmos, por meio de Júpiter. Aportando em Melinde, o Rei, vindo à nau, solicita que Gama conte-lhe a história de seu país. Descrita a Europa, o nauta inicia relatando da fundação da Lusitânia por Luso, passando por D. Henrique de Borgonha, dando continuidade com os eventos históricos mais importantes: o de Egas Moniz, a batalha de Ourique, a batalha do salado, Inês de Castro, a batalha de Aljubarrota, a tomada de Ceuta, o sonho profético de D. Manuel, os preparativos da viagem e a saída das naus. O comandante da frota conta ainda, a parte primeira da viagem: o fogo de Santelmo, a aventura de Veloso, o Gigante Adamastor, a estada em Melinde, foram alguns acontecimentos marcantes.
Debandando-se a embarcação, os ventos são movidos contra ela por Baco, durante o momento de calma, relata-se o ocorrido dos Doze da Inglaterra. Depois, há uma tempestade, que logo é abrandada quando Vênus envia ninfas ao encontro dos ventos. Chegam a Calicut, Vasco da Gama desembarca e é recebido pelo Samorim. Concomitantemente, Catual é recebido a bordo da nau por Paulo da Gama, este decifra-lhe o sentido das imagens nas bandeiras. Eles retornam à Pátria, estando na Ilha dos Amores, são beneficiados pelos feitos heróicos pelas ninfas locais. Vasco da Gama é conduzido por Tethys ao topo da ilha, onde expõe-lhe a “máquina do mundo” e o destino ilustre do povo português. Partem. Regresso a Portugal. Por fim, pesaroso e triste, o epílogo.
A obra em questão foi publicada no ano de 1572, constitui-se como uma espécie de registro da sociedade quinhentista portuguesa, bem como traz cenas alusivas ao desenvolvimento histórico de Portugal, fazendo uso de estratos do classicismo.
4. CONSIDERAÇÕES SOBRE A OBRA E O AUTOR
A obra de Camões é muito bem construída e extremamente rica, nela encontram-se fatos históricos, a efabulação mítica, a narração realista, conhecimentos contemporâneos da natureza, da fauna e flora, da navegação, da etnologia, da geografia, da cultura de diversos povos, entre outras questões. Ela demonstra uma síntese das literaturas clássicas com o tesouro poético da nacionalidade.
Em relação a isso, ADERALDO (1983, p.72 e 73) coloca:
Mas a obra que imortalizou Camões como um dos maiores gênios poéticos de todos os tempos foram “Os Lusíadas” em que exprimiu sua vertente épica, verdadeira síntese literária de sínteses, inspirada no sentimento de grandeza de uma raça pelos seus feitos extraordinários num dos mais importantes momentos da História – o do contato entre dois mundos, “por mares nunca dantes navegados” – conciliando o mundo da mitologia clássica e o maravilhoso profano, com a índole cristã e a realidade histórica e humana dos portugueses... Vale notar que os personagens de “Os Lusíadas”, diversamente da epopéia tradicional, são na realidade, simples adjuvantes de um protagonista maior, impessoal e coletivo, através do qual a ação – o drama, a “trama dos fatos” - se transcendentaliza: a própria nação portuguesa.
Com isso, é possível observar que Os Lusíadas é superior à sociedade intelectual do século XVI, por vários fatores além dos já citados, acrescentando o idioma predominante, a referência às condições dos portugueses nas várias dimensões sociais, bem como a presença de elementos do Classicismo.
As virtudes do autor são notáveis no poema. Neste são refletidos, por meio das ações e dos sentimentos dos personagens, traços da personalidade de Camões, com nuances de subjetividade e particularidade. Ele trata de questões do “eu”, da feminilidade, do patriotismo, da sociedade, e de Deus, utilizando-se da imaginação, da razão, da sensibilidade e do próprio saber; fazendo assim, direta ou indiretamente uma viagem interior.
Remetendo a isso MOISÉS (1999, p. 55 e 56) menciona:
É uma ascensão, ou descensão, pois o poeta penetra num labirinto, descortinado pela investigação do próprio “eu”, marcada por estágios de angústia crescente, à medida que progride a viagem interior... Por conseguinte, o resultado dessa incursão nos escaninhos da alma consiste numa confissão ou autobiografia moral, assinalada pela “ânsia do infinito”. Assim, à proporção que avança em sua peregrinação interior; o poeta vai desintegrando o próprio “eu” a fim de erguer o retrato do “Eu”, ou do “Nós”, composto da soma de todos os eu-individuais alheios que lhe ficaram impressos na inteligência e na sensibilidade.
Pode-se dizer então que a poesia camoniana é centrada na própria condição humana, em que não há razão de ser na vida, e refletir sobre isso é inútil, visto que torna a miséria cada vez mais visível. Os Lusíadas adquirem importância universal, talvez por mostrar o homem sempre atual, que almeja novas realizações a fim de superar, embora que aparentemente, a sua dependência e insignificância. Luís Vaz de Camões, por conseguir expressar seus pensamentos universais, com tamanha habilidade poética, é tido como um dos mais ilustres poetas.
5. METODOLOGIA
O estudo realizado na elaboração desse artigo é de cunho bibliográfico, onde foram utilizadas obras como ADERALDO (1983); MOISÉS (1993); MOISÉS (1998) e MOISÉS (1999), específicas da literatura.
A abordagem do assunto foi apenas qualitativa, onde foram expostos dados sociais como informações biográficas e descrições narrativas. Quanto à natureza, é uma pesquisa básica, já que não possui nenhuma utilização prévia. Sendo também explicativa e descritiva, conforme o objetivo.
Os instrumentos utilizados foram recursos financeiros para xérox e impressões; internet; papel; canetas e livros.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o desenvolvimento deste artigo científico, pode-se compreender melhor sobre a vida de Luís Vaz de Camões e a consagrada obra Os Lusíadas .
Destes foram apresentados alguns dados biográficos do autor e sua relação com a própria obra, e também foi feita uma síntese da narrativa. Posteriormente, foi realizada algumas considerações sobre ambos, ressaltando a importância da obra em questão para que Camões seja considerado um poeta genial, com destaque na literatura épica .
Assim, esse estudo se julga de grande importância para todos aqueles que de alguma maneira demonstram interesse pela literatura luso-brasileira, principalmente acadêmicos e profissionais em Letras. Já que, certamente, eles precisam conhecer sobre o assunto para possivelmente aplicá-lo no mercado de trabalho.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADERALDO, Noemi Elisa. Nos Caminhos da Literatura: Ensaios. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1983.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa em perspectiva. São Paulo: Atlas, 1993.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa através dos textos. 26. ed. São Paulo: Cultrix, 1998.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 30. ed. São Paulo: Cultrix, 1999.