A POESIA E OS CAMINHOS DA ARTE
QUE SE PASSA COM O SONETO?
Na minha opinião - tal como na de muitos praticantes nas mais variadas partes do mundo literário – a forma poética conhecida por SONETO, está passando por uma dinâmica literária significativa no sentido de um enriquecimento com nuances estéticas, as mais variadas.
E o Soneto, sob o ponto de vista formal, presta-se perfeitamente para esse exercício, já que se trata de uma composição relativamente curta (pequeno som) na sua estrutura, oscilando geralmente na configuração versial entre as catorze e as vinte proposições. Tendo em conta experiências de momento em curso, nomeadamente desde a aurora do corrente século, quem irá acabar por sair beneficiada com esta prática, no fundo, será a Literatura e, em última instância, a própria Arte.
O Soneto, bem assim toda a Poética, não pode estagnar literariamente. Estou convicto de que a POESIA só ganha com uma dinâmica conceptual alargada. Tal como a Música, por exemplo.
Estas opiniões veiculadas desde há várias décadas, foram experienciadas em Portugal, em certa medida, por grande parte dos modernistas desde Pessoa, passando por Teixeira de Pascoaes e, principalmente, por Jorge de Sena, entre outros... e, mais recentemente, como é sabido, pelo próprio Vasco Graça Moura.
A mim, o que me parece, é que os escritores /poetas enfermam de duas viciações: ou são conservadores em excesso (defendendo a sua “dama” até à exaustão) ou, como alternativa à rotina instalada, resolvem projectar-se para a aventura sem destino desembocando obviamente na “aura do vazio”, que é como quem diz, em becos sem saída. Daí toda a descaracterização poética que, sob a capa do dito pós-modernismo, vai grassando hoje por toda a parte...
Frassino Machado
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SONETO DO AMOR E DA MORTE
Quando eu morrer murmura esta canção
Que escrevo para ti. Quando eu morrer
Fica junto de mim, não queiras ver
As aves pardas do anoitecer
A revoar na minha solidão.
Quando eu morrer segura a minha mão,
Põe os olhos nos meus se puder ser,
Se inda neles a luz esmorecer,
E diz do nosso amor como se não
Tivesse de acabar, sempre a doer,
Sempre a doer de tanta perfeição
Que ao deixar de bater-me o coração
Fique por nós o teu inda a bater,
Quando eu morrer segura a minha mão.
Vasco Graça Moura
In "Antologia dos Sessenta Anos"