ESPAÇOS VAZIOS

Preencho os espaços com Pedro Du Bois, “... a morte entalha os caminhos / e nos carrega em lembranças //... na falta que fazemos ao tempo não decorrido / reside a dúvida da continuação / em vazios espaços não percebidos” e Egberto Penido,“...Na liberdade do instante... / a atração do vazio, / da ausência, / o fascínio do nada...”

Espaços vazios são expressões que revelam os sentimentos. Através do gesto o homem se manifesta em suas derrotas e vitórias, impulsionado pela liberdade, que no caso é instrumento da alma que desnuda diante dos espaços vazios, como em Vera Casa Nova, “Habitar o vazio e / Preenchê-lo de emoções / Habitar o vazio: / Possível insanidade. E o sabor do nada? / ...escrevo vaga incerteza / uma palavra vazia / ...Para não dizer nada a ninguém”.

Quando penso na razão pela qual alguém ocupa ou determina a hora da verdade ou abre as portas, talvez haja algo dos ditos espaços vazios ao desempenhar o papel em tudo que o homem vê ou sente ao sentir a reação em relação à sua essência que retorna em solidão, onde as épocas e as lembranças morrem em mistério. Como em Lembranças...As amargas não, de Álvaro Moreyra. Suas palavras revelam que o gesto é a sombra e ela me leva às nuvens e irmana as asas, preenchendo os espaços.

Egberto Penido, em Sombras e Distâncias, revela nos poemas a ânsia e os mistérios, “Linhas do tempo se cruzam / rasgando os espaços da memória:/ ansiedades e sonhos, exaltação / e angústia...”

Será que mandar na própria vida é questão de espaço vazio ou de preencher o vazio espaço? As razões me encaminham para o ter e, ao entender os fatos, acredito que posso ocupar o espaço vazio, também com palavras, pensamentos e sentimentos, como mostra Getúlio V. Zauza, “Teus olhos estão vazios de lágrimas; / teus ouvidos cansados de promessas vãs; / tuas mãos vazias de gestos / e o teu peito está vazio de afeto. // Tua vida está vazia de esperança / e tua alma não tem mais fé./ Tens o estômago vazio de alimento; / o coração cheio de desespero / e o cérebro vazio de pensamento. // O medo tomou conta do teu ser...”

Mesmo antes de perceber o lugar dos sem lugares, o caminho dos desalentados, a palavra da despalavra e o sim de um não, vejo como mosaico na história o espaço não preenchido, não percebido como questionamento do resultado ao sentir o impacto sobre “na falta que fazemos ao tempo”. Segundo Vera Casa Nova, “... Tempos velozes / E vazio. / A rapidez esfacela os corpos / E as cidades estão vazias”.

Espaços vazios são tendências do mundo moderno, quando percebo não ser possível a correspondência entre as pessoas, ou quando me torno obsoleta, chegando até mesmo a mover o tempo, restando apenas a possibilidade de renunciar ao vazio do espaço, porque respirar é ontem e me faltam as lembranças.