AGOSTINHO BOTH
Vale a pena ler Agostinho Both. É escritor raro no nosso tempo, traz a personalidade de outros tempos culturais, em que a visão do todo dava intensidade aos textos. Ele usa a imaginação e o conhecimento para dimensionar com vigor a sua palavra. Assim, ganha o meu respeito e admiração em relação à sua arte literária, preocupada em retratar na sua escrita as “ambivalências humanas”. Sua postura é reconhecida pelo talento com que escreveu os livros: EXCESSOS DAS ALMAS E DAS COISAS; CONVERSA DE VELHOS e CONTOS do ENVELHECER.
Sua observação da vida no cotidiano resulta na interpretação sobre o tempo: o mundo da velhice, da idade avançada, da maturidade que se pronuncia de um modo que não é ouvido nos dias de hoje. Mas, essa “antiguidade” representa a nossa história direcionada ao futuro que ele transgride através de sua experiência de vida. “... Sou filósofo do jardim e passeio nele colhendo flores. Não estou inclinado a conquistas e às bravatas das iniciativas...”
É preciso ser leitor com sensibilidade para perceber nas conotações do autor um profundo amor pela vida. As obras são lúdicas e inteligentes, assim como há poesia em suas entrelinhas como uma dose desse autor, singularmente crítico diante de suas leituras. A linha de sua narrativa se encontra na possibilidade das pessoas se reconhecerem nas diferenças, enquanto iguais. “... Praticava uma amizade constante para com ele, a ponto de ambos entenderem-se perfeitamente. Buscavam as mesmas coisas, e em tudo que faziam presidia o bem...”
Empolgada entre suas obras, entre um conto e outro, entre a unção de Agostinho e o assombro de sua desvelada realidade, em todas encontro imagens que resgatam a luz vista nas frestas da vida. Parecem entrar em sua arte literária para clarear a mesmice e a correria do leitor, no dia a dia, “... A que estávamos reduzidos nós todos, que há pouco cantávamos carregando cores e luzes?...”
Os livros de Agostinho se projetam em ideias e ideais, seguidos de suas atiladas observações, com que referencia e alveja suas reivindicações para demonstrar o tempo vivido em plena ascensão: o ontem no hoje. Como se a vida fosse validada pela capacidade de reconhecer uma realidade composta de carregada maquiagem. Sua obra é densa a partir de ótica capaz de revelar os momentos do tempo, onde tudo parece como registro compreensível, no que realmente tem em si, a pacificação “dos anjos”. “... É o movimento de nossos braços, é nossa atividade, feita na direção da caridade, da sabedoria, ou da beleza, que nos tornam bons e contentes...”
A face gloriosa de Agostinho emerge em território íntimo, em esgares que contêm uma correspondência com o coração. Seus textos são conciliadores e emotivo que, por vezes me fazem recuar quando sua versão é “mais avançada” em relação à idade. Às vezes, chegam a ser expressados de forma tão real e bonita que fico contente de podê-la ler, mesmo com medo de refletir. Outras vezes, questiono sobre a incansável influência que sofremos ou a que nos rendemos ante outros fatores que, por sua vez, modificam o nosso pensamento como efeitos das interpretações dos valores e preconceitos. Na minha humilde leitura, tenho que o ser humano resiste em reconhecer o que desconhece em defesa da espontaneidade e daquilo que julgamos ser a verdade. Nas palavras de Agostinho, “... Careço de uma palavra mais erudita para dizer todo o acontecido. Não sei mais se é verdade, mentira ou loucura. Preciso eu mesmo me esclarecer. Minha palavrinha é modesta: menos que um capim de outono. É pálida a minha ideia perto daquilo que se sucedeu. Sei lá se Deus invadiu a chichola do meu peito, sei lá se é assim mesmo que acontece no envelhecer...”