SILÊNCIO
O silêncio é fonte de inspiração? Muitas vezes o comportamento tem formas impactantes que lembram a inspiração, como bem tratou Carlos Higgie, “... O silêncio é terapêutico. / O silêncio é um grito afogado. / É o afogamento do grito. / É a raiva sufocada. / A maldição do barulho... Tinha plena consciência de que as coisas estavam mudando, que o silêncio estava se perdendo, afogado por sons diversos, pelos gritos imperativos da realidade”.
O gesto silencioso é o reconhecimento da nossa excelência, como suporte para manter vivo o sonho e imaginar o que sentimos quando separados pelo tempo, mas, juntos na paixão e no espírito para construir a história e, por influências, relacionar o interior com o exterior, tornando-os atrativo em determinados momentos, fazendo de nós o espaço onde o pensamento levita. Carlos Vogt mostra que “o silêncio é de moscas ausentes, / completo, geral, irrestrito, / por isso, de ouro, / quebrado apenas pelo atrito / com o silêncio do outro.”
Não é de hoje que o silêncio é considerado instigante; sequência de momentos expressada de diversas formas pelas pessoas. Não falam para fazer jogo de cena ou porque estão preocupadas consigo mesmas ou construindo uma história, uma lembrança, como a trama envolvente e repleta de referências ao momento do acaso, nas palavras de Carmem Silvia Presotto “... Silêncio / que arquiteta o sonho...”.
O silêncio ao arquitetar o sonho tem por objetivo treinar o olhar na medida do tempo, com novas ideias, e refletir sobre as novas experiências culturais, como os poemas de Paulo Leminski, ”no centro / o encontro / entre meu silêncio / e o estrondo.”; Armindo Trevisan, “Do silêncio nasce a palavra”; Lindolf Bell, “... tudo sobre a verde palavra / toda inteira / como um silêncio” e Antônio Rosa, “... tudo o que no silêncio nasce / e morre sem cessar. Talvez / renasça no poema.”
O silêncio é forma de sobrevida? Somos conhecidos por criar formas de sobrevivência e em nos tornar objeto na arte de viver, desvendando o silêncio através da escrita que, além de nos desnudar, seja nossa tradução literal; uma das tantas maneiras de viver, criar fatos, deixar parecer irreal o real e, talvez por isso, o silêncio se aproxime tanto do universo poético. Como demonstram os poetas Pedro Du Bois, “... procuro o barulho/ que alivie minha alma/ cessando o silêncio... // quero o vento trazendo/ ondas sonoras/ e o cantar dos pássaros...” e Lêdo Ivo “... Segredo e silêncio / são engano e vento.”