JOÃO SIMÕES LOPES NETO
 
Realizou um abrangente painel da realidade sul-rio-grandense e da natureza, assim como retratou sua terra e seu povo, explorando nossas origens, costumes e problemas sócio-econômicos. Sua obra constituiu-se de contos, poemas, lendas e de reportagens jornalísticas. Foi, segundo estudiosos e críticos de literatura, o maior escritor regionalista do Rio Grande do Sul. Filho dos pelotenses Catão Bonifácio Lopes e Teresa de Freitas Ramos, ele era neto paterno do Visconde da Graça, João Simões Lopes Filho, e de sua primeira esposa, Eufrásia Gonçalves, e neto materno de Manuel José de Freitas Ramos e de Silvana Claudina da Silva. Nasceu em Pelotas/RS, em 09 de março de 1865; na Estância da Graça, propriedade de seu avô paterno. Possuía ancestrais portugueses, de origem tanto açoriana como continental. Com treze anos de idade, foi ao Rio de Janeiro para estudar no Colégio Abílio. Posteriormente, matriculando-se, na Faculdade de Medicina, mas, por motivos de saúde, foi obrigado a abandonar o curso no terceiro ano. Em 1886, retornou a Pelotas, passando a levar uma vida essencialmente urbana, uma vez que a cidade se encontrava em constante urbanização, sendo um dos polos culturais mais importantes do Estado. Seu interesse pelo resgate da cultura gaúcha e a linguagem regionalista utilizada em suas obras levam-nos a crer que o autor faria o tipo "gaúcho tradicionalista", porém seus biógrafos afirmam que ele jamais vestiu uma bombacha e que seus hábitos culturais eram urbanos.  Retornando ao Rio Grande do Sul, fixou-se em sua terra natal, Pelotas/RS, então rica e próspera pelas mais de cinquenta charqueadas que lhe davam a base econômica. Simões Lopes Neto envolveu-se em uma série de iniciativas de negócios que incluíram uma fábrica de vidros e uma destilaria. Porém, os negócios fracassaram. Uma guerra civil no Rio Grande do Sul, a Revolução Federalista, abalou duramente a economia local. Depois disso, construiu uma fábrica de cigarros. Os produtos, fumos e cigarros, receberam o nome de "Marca Diabo", o que gerou protestos religiosos. Sua audácia empresarial levou-o ainda a montar uma firma para torrar e moer café, e desenvolveu uma fórmula à base de tabaco para combater sarna e carrapatos. Ele fundou ainda uma mineradora, para explorar prata, em Santa Cantarina. Casou-se em Pelotas/RS, aos vinte e sete anos, com Francisca de Paula Meireles Leite, de dezenove anos, no dia 05 de maio de 1892, filha de Francisco Meireles Leite e Francisca Josefa Dias; neta paterna de Francisco Meireles Leite e Gertrudes Maria de Jesus; neta materna de Camilo Dias da Fonseca e Cândida Rosa. Não tiveram filhos. Entre 15 de outubro e 14 de dezembro de 1893, sob o pseudônimo de "Serafim Bemol", e em parceria com Sátiro Clemente e D. Salustiano, escreveram, em forma de folhetim, "A Mandinga", poema em prosa, que teve a existência de seus co-autores questionada. Em certa fase da vida, empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas. Simões Lopes Neto publicou apenas quatro livros em vida "Cancioneiro Guasca", em 1910, "Contos Gauchescos", em 1912; “Lendas do Sul”, em 1913 e “Casos do Romualdo”, em 1914. Sua literatura ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul e do Brasil e, hoje, pertence à literatura universal, tendo sido traduzido para diversas línguas. Infelizmente, só alcançou a glória literária postumamente; em especial, após o lançamento da edição crítica de “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”, em 1949, organizada para a Editora Globo, por Augusto Meyer e com o decisivo apoio do editor Henrique Bertaso e de Erico Verissimo. O livro “Lendas do Sul” foi a primeira obra literária no idioma português a ser publicada na rede mundial de computadores pelo aclamado Projeto Gutenberg, um empreendimento sem fins lucrativos empenhado em disseminar grandes clássicos da literatura gratuitamente, ou a preços nominais ao grande público. Simões Lopes Neto, ao lançar a primeira edição de “Lendas do Sul”, informou aos convidados que estavam por sair “Casos do Romualdo”, que viria a ser lançado em 1914, e “Terra Gaúcha”. Deixou “Peona e Dona”; “Jango Jorge”; “Prata do Taió” e “Palavras Viajantes”, obras que foram encontradas por Dona Velha, viúva do escritor, e que seria o segundo volume de “Terra Gaúcha”. Dos demais, nada foi encontrado, levando a crer que, ao se referir a inéditos, Simões Lopes Neto tinha em mente obras que ainda planejava escrever. “Terra Gaúcha”, embora incompleta, foi publicada pela Editora Sulina, de Porto Alegre, em 1955. Simões Lopes Neto, como criador das lendas e dos mitos sul-rio-grandense, apresentou, em suas obras, uma dimensão revolucionária, predominantemente realista do universo gauchesco, usando a linguagem própria da campanha gaúcha. Narrava suas histórias em primeira pessoa, o que concedia autenticidade aos ambientes e aos personagens. Às vezes, o linguajar preponderava sobre a trama, diminuindo a força da narrativa, mas, em alguns casos, o drama dos personagens avultava, concedendo vida a contos admiráveis. “Contos gauchescos” e “Lendas do Sul” retratam a cultura e as tradições do Rio Grande do Sul; um regionalismo de linguagem viva e cheia de dialetismo. Em “Cancioneiro Guasca”; “Contos Gauchescos”; “Lendas do Sul”; “Casos do Romualdo”, desmistifica o tipo gaúcho; em “Terra Gaúcha”, obra incompleta, foca a história do Rio Grande do Sul. Esse singular Pré-Modesnista só alcançou a glória literária postumamente; em especial, após o lançamento da edição crítica de “Contos Gauchescos” e “Lendas do Sul”, em 1949, organizada pela Editora Globo, sob a supervisão de Auguso Meyer e apoio de Henrique Bertaso e Erico Verissimo. Foi colaborador ocasional do jornal “Diário Popular”; redator “d’A opinião pública” (pseudônimo João do Sul) e editor do “Correio Mercantil”. Escreveu, também, muitas peças teatrais, dentre elas “O boato” (1894), “Mixórdia” (1894) e “Viúva Pitorra” (1898), esta última, uma opereta. Desde a sua morte, em 1916, até a segunda edição de suas obras mais importantes, o autor permaneceu no anonimato, desconhecido do público. Morreu em Pelotas/RS, em 14 de junho de 1916, aos cinquenta e um anos, de uma úlcera perfurada.
 
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
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Nova Enciclopédia Barsa. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações, 1999. 
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 10/04/2014
Reeditado em 11/04/2014
Código do texto: T4764078
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