MAR

“Não tenho mares / tenho a garganta seca / e as palavras navegáveis.”

(Lúcio Lins)

Pergunto pela autenticidade do mar. É justo perguntar, afinal não se banha duas vezes nas mesmas águas. Já não sou a mesma jovem que viu a lua nascer e o sol morrer ao me ofertar nas delícias dos verdes mares. Geraldo Mello Mourão, em Invenção do Mar, leva a descobrir o sentido das palavras, da poesia de origens com modulações, como as ondas do mar.

Imagine a sensação do mar em passadas saudades: é estar sensível à lembrança do mar no mundo que passa não passando, para quem o perdido é encontrado. Os poetas sabem dizer, Lêdo Ivo, “O mar às avessas: / as constelações / são navios...”; Alcides Buss, “O mar ali,/ tentador de luzes mil / ou melhor traçado de luz...”; e Carmen Presotto, “No mar/ o repuxo // nos pés a liberdade // Nas mãos / a maresia // ao fundo, / luzes púrpuras de não ser mais o ser do acaso.”

O mar representa não apenas o modo de ser do tempo, mas o alcance da imaginação com a dimensão, a nitidez que qualquer um pode ver no reencontro dos mares, e que em algum lugar as águas guardam: “... O porto, a espera / a segurança / mais tua alma / quer o mar / na sensação desta viagem aventura / de viver (e se encontrar)”, em Violeta Formiga.

O mar é seleta matéria poética, com ritos que as marés impõem, maravilhando a todos. O poeta Pedro Du Bois projeta nos livros Amares e Mar Aberto, águas nunca antes navegadas. Traz poemas que exploram a beleza das praias, juntamente, com as histórias dos pescadores, ”Da janela / sobre os edifícios / de Itapema vejo / o canto da praia e o morro do Cabeço. // Através da enseada / a beleza da ilha / das praias de Perequê / à ponta do Porto Belo. // Barcos singram as águas / ... O mar rendado homenageia a praia.”

Sensibilizo-me com a beleza do mar ao admitir que ele contém a ilusão do amor e a força do silêncio das palavras. Escuto por toda a parte a repetição das ondas, o som dos apaixonados e dos poetas. Ouço a voz do mar ao lembrar a vida.

Nei Duclós, em No mar veremos, desafia a expectativa silenciosa de achar respostas ao conversar com o mar, fazendo o tempo retroceder, mexer com a perplexa realidade.

Em Águas Vivas, de Miriam Portela, encontro Maresias, “são tumultos /são ondas / marés / motins. / São vagas / tão bruscos / os movimentos da água / onde eu navego.” e, Entre Corais, “Os cavalos marinhos/ com suas caudas torcidas / as medusas, os polvos / as arraias e as conchas / todo o universo / aquático / me convida a submergir / mas eu / eu respiro”.

O mar é poesia de reencontros que permite ir além do sorriso promissor; pincela ousadia ao conduzir o pensamento para a vida de maior sentido, nele ancorado, e garante encontrar o que procuro: alcançar a plenitude dos sentidos.