Relatório da palestra “Autor e Autoria: A morte do autor em Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
A palestra “Autor e Autoria: A morte do autor em Memórias Póstumas de Brás Cubas” ministrada pela professora Marli de Oliveira Fantini Scarpelli, ocorreu no dia 21/02/2014, tendo início às 19:00 e término às 20:40, no auditório 1007 da Fale / UFMG.
Marli é doutora em Estudos Literários pela UFMG (2000) e coordena o Núcleo de Pesquisa de Literatura, Memória e Cultura (MESCLA).
Marli introduziu a palestra com a teoria de Roland Barthes a respeito da “morte do autor”. Esse estudo formula a ideia de que o livro é um universo em si mesmo, do qual o autor não dialoga mais com o seu texto e, sim o narrador e/ou os sujeitos enunciadores (personagens da história); estes são entidades ficcionais criados pelo autor para habitar o mundo fictício. Em resumo podemos dizer que a escrita literária é marcada por uma identidade e o escritor é apenas o mediador responsável pela transmissão da história.
Levando em conta esse pensamento, Marli busca defender que a obra “Memórias póstumas de Brás Cubas” é o exemplo prototípico para explicar essa teoria. No romance, o narrador adota uma estrutura peculiar para contar a sua história de vida - a perspectiva de um “defunto autor”. Desse modo, ele continua vivendo, só que dentro da sua história; ele renasce através de suas próprias “memórias póstumas”. Esse é o ponto que separa a “morte do autor” e o início da narrativa.
A obra de Machado de Assis dialoga também com a tradição carnavalesca da literatura, tendo em vista que Brás Cubas apresenta uma sequência biográfica invertida - vai da morte até o nascimento - o que rompe com a linearidade do tempo cronológico. Esse “defunto autor” faz do próprio túmulo um berço do qual renasce com a história. Ainda utiliza uma linguagem muito intimidadora; já no prólogo, fica explícito a intenção do narrador de desafiar o seu leitor a aceitar um inusitado “contrato” ficcional quando explica o “novo método” utilizado na composição de sua obra de finado.
Em resumo, podemos dizer que esse mundo às avessas criado por Machado de Assis foi fundamental para constituir a obra, visto que a partir desta técnica é possível explicar a teoria de Roland Barthes. Na tentativa de introduzir o leitor a obra, o narrador declara não ser um “autor defunto”, mas um “defunto autor”; com isso ele deixa implícito que o leitor deve estar atento às diferenças entre “autor” e “narrador”, “realidade” e “literatura”, “pessoa” e “personagem”.