Representações da homossexualidade nos romances O Ateneu, de Raul Pompéia, e O cortiço, de Aluísio Azevedo
Leandro Henrique Aparecido Valentin*
Resumo: O presente artigo apresenta uma leitura analítico-interpretativa de base imanentista das representações da homossexualidade nos romances O Ateneu (1888), de Raul Pompéia, e O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo. Em O Ateneu, embora creiamos que Sérgio, o protagonista, não seja homossexual, identificamos concepções, práticas e valores sociais do final do século XIX vinculados à homossexualidade que se manifestam na narrativa. Em O cortiço, nossa análise procura demonstrar as diferentes manifestações da homossexualidade por meio dos personagens Albino, Pombinha e Léonie.
Palavras-chave: Aluísio Azevedo; Homossexualidade; Raul Pompéia; Século XIX.
Abstract: This paper analyzes the representations of homosexuality in the novels O Ateneu, by Raul Pompéia, and O cortiço, by Aluísio Azevedo, with an immanentist approach. In O Ateneu, although Sérgio, the main character in the novel, is not a homosexual, the analysis shows conceptions, practices, and social values from the late nineteenth century related to the homosexuality that are expressed in Pompéia’s novel. In O cortiço, the analysis shows different homosexual manifestations through the characters Albino, Pombinha, and Léonie.
Keywords: Aluísio Azevedo; Homosexuality; Nineteenth century; Raul Pompéia.
1. INTRODUÇÃO
Embora não apresentem a homossexualidade como assunto central de suas narrativas, O Ateneu, de Raul Pompéia, e O cortiço, de Aluísio Azevedo, são alguns dos primeiros romances da literatura brasileira nos quais a homossexualidade foi representada**. Levando em consideração as concepções e valores sociais atribuídos à homossexualidade no contexto histórico do final do século XIX, apresentamos, aqui, uma leitura analítico-interpretativa de base imanentista dos romances de Pompéia e de Azevedo, centrando-se na manifestação da homossexualidade. Iniciemos, pois, por O Ateneu.
2. O ATENEU, DE RAUL POMPÉIA
Publicado em 1888 sob o formato folhetim na Gazeta de Notícias e editado em livro no mesmo ano, O Ateneu constitui-se como um romance de memórias do protagonista Sérgio. Esse dado é importante, uma vez que o foco narrativo “narrador-protagonista” implica um tom confessional, ao mesmo tempo em que limita a narrativa às impressões do protagonista. Levando em consideração tais características, pode-se afirmar que a representação da homossexualidade, no romance, é modulada pela perspectiva de tal foco narrativo. Vejamos, então, como a homossexualidade é trabalhada no romance.
Em um dos primeiros momentos de convívio com outros alunos no internato, Sérgio, então com 11 anos, recebe um conselho do personagem Rabelo:
"Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Quando, em segredo dos pais, pensam que o colégio é a melhor das vidas, com o acolhimento dos mais velhos, entre brejeiro e afetuoso, estão perdidos... Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores"(POMPÉIA, 2004, p. 31).
A partir desse fragmento, percebemos a maneira pela qual os homossexuais e as mulheres eram encarados na época. As expressões “o sexo da fraqueza” e “meninas ao desamparo”, por exemplo, revelam o discurso machista daquele contexto social. Além disso, percebe-se, claramente, a associação da homossexualidade à passividade. Esse excerto revela, também, a naturalização da violência: o conselho de Rabelo constata, no colégio, a existência da “lei do mais forte”, o que é um traço de organizações sociais autoritárias, não raro, herdeiras do patriarcalismo. Portanto, o homossexual e a mulher são, na fala de Rabelo, nivelados em posição subalterna e definidos como objetos de ação do homem identificado como macho. Logo, o discurso do personagem sugere que a virilidade e o poder de proteção e dominação coincidem com o comportamento masculino heterossexual, ao passo que a homossexualidade se vincula a um comportamento passivo. Essa não é apenas a opinião do personagem Rabelo, mas também é a síntese da maneira como a homossexualidade é encarada no romance, pois, ao longo da narrativa, a vinculação entre homossexualidade e passividade está sempre presente nos relacionamentos de Sérgio.
Vejamos, então, que o próprio Sérgio admite sua efeminação:
"Se não houvesse olvidado as práticas, como a assistência pessoal do Rabelo, eu notaria talvez que pouco a pouco me ia invadindo, como ele observara, a efeminação mórbida das escolas. [...]. A letargia moral pesava-me no declive. E, como se a alma das crianças, à maneira do físico, esperasse realmente pelos dias para caracterizar em definitivo a conformação sexual do indivíduo, sentia-me possuído de certa necessidade preguiçosa de amparo, volúpia de fraqueza em rigor imprópria do caráter masculino" (POMPÉIA, 2004, p. 39 – grifos nossos).
A ideia de efeminação, nesse fragmento, não indica, necessariamente, a homossexualidade. Entretanto, é de se observar que a base a partir da qual esta ideia de efeminação é construída repousa sobre os valores do patriarcalismo e do machismo, remetendo – no caso dos meninos e adolescentes do sexo masculino – a um ideal que identifica força física e agressividade com masculinidade. Note-se que o comportamento efeminado e, por extensão, a possível homossexualidade, eram vistos como algo doentio, conforme se percebe na própria escolha vocabular, como, por exemplo, no uso do adjetivo “mórbida”. O trecho “volúpia de fraqueza em rigor imprópria do caráter masculino” resume a perspectiva do narrador-protagonista sobre a homossexualidade e a efeminação, que eram tidas como comportamentos desviantes e inadequados. Conformado com o seu desvio (no caso, a efeminação), Sérgio tem o seu primeiro protetor e, consequentemente, seu primeiro relacionamento, com o personagem Sanches.
Num primeiro momento, Sérgio possuía uma “repugnância de gosma” (POMPÉIA, 2004, p. 44) por Sanches. Ele o descrevia como alguém “supinamente antipático: cara extensa, olhos rasos, mortos, de um pardo transparente, lábios úmidos, porejando baba, meiguice viscosa de crápula antigo” (POMPÉIA, 2004, p. 28). No entanto, depois de ele ter sido salvo por Sanches na piscina do colégio – acidente que, posteriormente, o narrador-protagonista pensa ter sido causado pelo próprio colega para aproximar-se dele –, Sérgio passa a reconhecê-lo e a permitir sua aproximação. Assim, o convívio de ambos passaria a aumentar, com maiores demonstrações de afeto:
"A franqueza da convivência aumentou dia a dia, em progresso imperceptível. Tomávamos lugar no mesmo banco. Sanches foi-se aproximando. Encostava-se, depois, muito a mim. Fechava o livro dele e lia no meu, bafejando-me o rosto com uma respiração de cansaço. Para explicar alguma coisa, distanciava-se um pouco; tomava-me, então, os dedos e amassava-me até doer a mão, como se fosse argila, cravando-me olhares de raiva injustificada. Volvia novamente às expansões de afeto e a leitura prosseguia, passando-me ele o braço ao pescoço como um furioso amigo" (POMPÉIA, 2004, p. 44 – grifos nossos).
Sanches é quem seduz. Curiosamente, tende, dado o contexto da época (e aquele vigente no colégio) a não ser visto como efeminado – ao menos não imediatamente. Depois, sua atividade sedutora passa a signo de homossexualidade, pois revela desejo por indivíduos do mesmo sexo.
Diante da conduta de Sanches, Sérgio afirmava o seu comportamento passivo: “Eu deixava tudo, fingindo-me insensível, com um plano de rompimento em ideia; embargado, todavia, pela falta de coragem” (POMPÉIA, 2004, p. 44 – grifos nossos). Note-se que há resistência à tentativa de sedução na mente de Sérgio e ela não se concretiza sob a forma de ações devida à ausência de coragem, que é definida como traço masculino.
De aproximações no ambiente de estudo, Sanches passa a progredir nas investidas:
"Sanches, como os mal-intencionados, fugia dos lugares concorridos. Gostava de vaguear comigo, à noite antes da ceia, cruzando cem vezes o pátio de pouca luz, cingindo-me nervosamente, estreitamente até levantar-me do chão. Eu aturava, imaginando em resignado silêncio o sexo artificial da fraqueza que definira Rabelo" (POMPÉIA, 2004, p. 47 – grifos nossos).
Nesse fragmento, note-se a expressão “sexo artificial da fraqueza”. Acreditamos que ela se refira à homossexualidade, qualificando-a como uma categoria sexual desviante por causa do adjetivo “artificial” e do substantivo “fraqueza”. Assim sendo, percebe-se que a falta de coragem é definida como efeminação, que, embora possa vir a ser um traço da homossexualidade, não é, necessariamente, o que a determina.
O relacionamento entre os dois não duraria muito. Sanches, talvez encorajado pelo comportamento passivo de Sérgio, diz algo ao protagonista subitamente. Vejamos a reação de Sérgio:
"Só a voz, o simples som covarde da voz, rastejante, colante, como se fosse cada sílaba uma lesma, horripilou-me, feito o contato de um suplício imundo. Fingi não ter ouvido; mas houve intimamente a explosão de todo o meu asco por semelhante indivíduo, e, muito calmo desviando apenas a vista, pretextei a falta de um lenço, que me endefluxara a friagem e... fui buscá-lo" (POMPÉIA, 2004, p. 48 – grifos nossos).
Note-se como, nesse fragmento, a representação de Sanches destaca a sua sedução como signo negativo. E a descrição das ações sugere um réptil (voz rastejante) – o que evoca conotações negativas na ordem dos valores culturais, o que leva-nos à associação da sedução de Eva pela serpente, sugerindo tentação e pecado. Destaque-se, também, a utilização das palavras “imundo” e “asco”, que se instalam no campo semântico do nojo, da imperfeição, o que condiz com o pecado. A reação de Sérgio indica mais do que a mera reação física. Ela demonstra como os valores socioculturais participam das reações psicofísicas que sentimos, logo, não há espontaneidade absoluta ou apenas biologicamente determinada no campo das reações emocionais e afetivas humanas (e, também, no campo do desejo). O romance não apresenta o que Sanches diz, mas, pela reação do protagonista, pressupõe-se que o colega tenha feito uma proposta de cunho sexual, o que choca Sérgio e faz com que ele passe a repelir qualquer contato com Sanches depois do ocorrido: ”ao primeiro encontro depois do rompimento, o homem viu que estava tudo acabado. Andou a rondar-me temperando o olhar com um brilho de facadas” (POMPÉIA, 2004, p. 48).
O segundo relacionamento de Sérgio dá-se com Bento Alves, presidente do grêmio literário do internato. Note-se o destaque que o narrador-protagonista confere à natureza feminina de seu sentimento por Alves:
"A amizade do Bento Alves por mim, e a que nutri por ele, me faz pensar que, mesmo sem o caráter de abatimento que tanto indignava ao Rabelo, certa efeminação pode existir como um período de constituição moral. Estimei-o femininamente, porque era grande, forte, bravo; porque me podia valer; porque me respeitava, quase tímido, como se não tivesse ânimo de ser amigo" (POMPÉIA, 2004, p. 90 – grifos nossos).
Observe-se que o narrador atribui um caráter transitório ao seu comportamento feminino e, talvez por esse motivo, não delineie categoricamente seus sentimentos enquanto manifestações de natureza homossexual. Considere-se, também, que a estima de Sérgio pelo companheiro se dava pela possibilidade de proteção que o outro lhe ofertava, o que reforça a sua passividade. No entanto, o comportamento passivo era restrito ao relacionamento com o companheiro. Percebe-se que Sérgio modulava seu comportamento com os outros garotos, talvez para afirmar-se no círculo social no qual estava inserido: “eu, que desde muito assumira entre os colegas um belo ar de impávida altania, modificava-me com o amigo, e me sentia bem na submissão voluntária, como se fosse artificial a bravura, à maneira da conhecida petulância feminina” (POMPÉIA, 2004, p. 90).
Embora Sérgio não demonstrasse um sentimento profundo pelo companheiro, percebe-se que Bento Alves o fazia:
"Às vezes na biblioteca, enquanto eu lia, Alves olhava-me do outro lado da mesa central de pano verde, com a mão à fronte e os dedos mergulhados nos cabelos. Olhava-me e eu o sentia sem levantar a vista, compreendendo no mais fino refolho de ninada vaidade que aquela contemplação traduzia o horror do ridículo, proverbial em Bento Alves, manietando-lhe rijamente uma demonstração efusiva. Não fosse a crítica uma criatura do tempo, eu poderia achar cômica a situação dos personagens desta cena de platonismo. Não havendo a crítica para falsear a psicologia por desdobramento, limitava-me a ser sincero, como o pobre amigo. Às vezes vinha-lhe à pálpebra uma lágrima sem origem" (POMPÉIA, 2004, p. 91).
O platonismo talvez acontecesse por causa das interdições sociais sobre o relacionamento homossexual. Tais interdições também poderiam ser o motivo para que os relacionamentos de Sérgio acontecessem obliquamente, uma vez que o internato, institucionalmente, é um espaço marcado pela moralidade e pelo heterossexismo. Outro sentido possível do platonismo, nesse trecho, seria a associação a O banquete, de Platão, no qual as posições sociais de cada uma das pessoas no relacionamento – erastes, o homem mais velho que se envolve com erômeno, um adolescente (ou seja, alguém mais jovem), que adota um papel passivo. Essa associação entre O banquete e O Ateneu é válida, tendo em vista que Bento Alves é mais velho do que Sérgio e viril, ao passo que o protagonista é mais jovem e passivo.
Destaque-se, portanto, na relação entre Sérgio e Bento Alves, a delimitação de identificações representacionais distintas de cada um: Sérgio, o menino frágil (passível de efeminação) e Bento Alves, o menino forte (identificado como viril e masculino). Ressalte-se que tais definições limitam-se a papéis sociais, pois não há demonstrações afetivas próprias de um casal, como, por exemplo, beijos. Inclui-se nessa questão a ausência de atividade sexual. A partir de tal construção, o romance destaca essa delimitação, vinculando a homossexualidade a comportamentos essencialmente femininos. Existe a possibilidade de que esse dado expresse a concepção social da época sobre a homossexualidade, que a tratava como inversão sexual e, consequentemente, como um comportamento fundamentalmente feminino. No romance, essa perspectiva materializa-se sob a insistência de Sérgio em apontar o seu papel de “namorada” de Bento Alves. Por exemplo, Bento Alves dava flores a Sérgio, atitude que, segundo as convenções sociais, homens fazem a mulheres. Reconhecendo tais convenções, Sérgio assumia o papel de namorada: “que devia fazer uma namorada? Acariciei as flores, muito agradecido, e escondi-as antes que vissem (POMPÉIA, 2004, p. 103 – grifos nossos). A expressão “meu papelzinho de namorada faz-de-conta”, em outro momento da narrativa, explicita a questão dos papéis sociais dos envolvidos no relacionamento, e reforça a efeminação de Sérgio.
O relacionamento entre Sérgio e Bento Alves termina repentinamente, depois de Bento, sem motivo aparente, bater em Sérgio e abandonar o Ateneu. É nesse período que o diretor Aristarco encontra um papel no jardim e, estarrecido, diz aos alunos: “Tenho a alma triste. Senhores! A imoralidade entrou nesta casa! [...] Está em meu poder um papel, monstruoso corpo de delito! assinado por um nome de mulher! Há mulheres no Ateneu, meus senhores!” (POMPÉIA, 2004, p. 132). Trata-se de uma carta de Cândido, assinada com o nome de Cândida, ao personagem Emílio Tourinho. Note-se a rigidez com a qual o diretor trata o ocorrido: “esta mulher, esta cortesã fala-nos da segurança do lugar, do sossego do bosque, da solidão a dois... um poema de pouca-vergonha! É muito grave o que tenho a fazer” (POMPÉIA, 2004, p. 133). Esse episódio gera a maior das punições do internato, na qual o diretor expõe grande preconceito contra práticas homossexuais:
“... Esquecem pais e irmãos, o futuro que os espera, e a vigilância inelutável de Deus!... Na face estanhada não lhes pegou o beijo santo das mães... caiu-lhes a vergonha como um esmalte postiço... Deformada a fisionomia, abatida a dignidade, agravam ainda a natureza; esquecem as leis sagradas do respeito à individualidade humana... E encontram colegas assaz perversos, que os favorecem, calando a reprovação, furtando-se a encaminhar a vingança da moralidade e a obra restauradora da justiça!...” (POMPÉIA, 2004, p. 137).
Percebe-se que a fala de Aristarco expõe um ponto de vista no qual a homossexualidade seria, além de imoral, uma negação às leis religiosas e à natureza. Dessa perspectiva religiosa, negar a natureza é, em última análise, negar Deus (pois Deus é o criador). Observe-se, portanto, a sutileza da cadeia cultural de valores que tem como efeito a demonização da homossexualidade, ou, ao menos, sua concepção como valor absolutamente negativo.
Voltando aos relacionamentos de Sérgio, temos, agora, o último deles, com o personagem Egbert. Vejamos a comparação que o protagonista faz dos três relacionamentos:
"A convivência do Sanches fora apenas como o afeiçoamento aglutinante de um sinapismo, intolerável e colado, espécie de escravidão preguiçosa da inexperiência e do temor; a amizade de Bento Alves fora verdadeira, mas do meu lado havia apenas gratidão, preito à força, comodidade da sujeição voluntária, vaidade feminina de dominar pela fraqueza todos os elementos de uma forma passiva de afeto, em que o dispêndio de energia é nulo, e o sentimento vive de descanso e de sono. Do Egbert, fui amigo. Sem mais razões, que a simpatia não se argumenta. Fazíamos os temas de colaboração; permutávamos significados, ninguém ficava a dever. Entretanto, eu experimentava a necessidade deleitosa da dedicação. Achava-me forte para querer bem e mostrar. Queimava-me o ardor inexplicável do desinteresse" (POMPÉIA, 2004, p. 141-142 – grifos nossos).
A partir desse fragmento, percebemos que os relacionamentos de Sérgio são gradativos e, por esse motivo, o envolvimento com Sanches e com Bento Alves seriam uma espécie de preparação para o relacionamento com Egbert, que viria a ser mais intenso. O narrador-personagem modula a perspectiva que se tem das relações entre Sérgio e os colegas, que são distintas em nível de afetividade. Observemos, então, um exemplo da admiração de Sérgio por Egbert, que é maior do que ele tivera por Sanches e Bento Alves:
"[...] eu, deitado, esperava que ele dormisse para vê-lo dormir e acordava mais cedo para vê-lo acordar. Tudo que nos pertencia, era comum. Eu por mim positivamente adorava-o e o julgava perfeito. Era elegante, destro, trabalhador, generoso. Eu admirava-o, desde o coração, até a cor da pele e à correção das formas. [...] No recreio, éramos inseparáveis, complementares como duas condições recíprocas de existência" (POMPÉIA, 2004, p. 142).
Destaque-se que em nenhum momento o narrador afirma os relacionamentos como homossexuais. Afirma-os como distintas modalidades do coleguismo e da amizade. Há, no romance, a ideia de amor desinteressado, que é o que afirma a amizade, separando-a do desejo e, portanto, da homossexualidade. Não se pode afirmar que há, de fato, um namoro entre Sérgio e Egbert, pois há algo que não se pode desconsiderar: Sérgio reafirma, mais de uma vez, o seu asco da efeminação e da homossexualidade antes de abordar o amor desinteressado por Egbert. O devotamento, aí, seria o signo do desinteresse que fundamentaria um amor sem desejo (e, por extensão, sem sexo), próprio da amizade verdadeira.
O relacionamento com Egbert teria fim repentinamente após a ida de Sérgio a um jantar na casa de Aristarco. D. Ema, a esposa do diretor, passa a ser desejada pelo garoto, o que faz com que Sérgio perca o interesse que tinha em Egbert. A diferença é notável após o jantar:
"De volta ao Ateneu, senti-me grande. Crescia-me o peito indefinivelmente, como se me estivesse a fazer homem por dilatação. Sentia-me elevado, vinte anos de estatura, um milagre. Examinei então os sapatos, a ver se haviam crescido os calcanhares. Nenhum dos sintomas estranhos constatei. Mas uma coisa apenas: olhava agora para Egbert como para uma recordação e para o dia de ontem.
Daí começou a esfriar o entusiasmo da nossa fraternidade" (POMPÉIA, 2004, p. 149).
Sérgio, que até então era descrito com modos femininos, ganha traços masculinos. Como se passasse por uma metamorfose, os traços masculinos afetam, inclusive, os seus sentimentos. Por causa disso, o sentimento por Egbert definha, e Sérgio chega a afirmar que “Egbert parecia às vezes um intruso. Passeando com ele, que diferença de outrora! produzia-me o efeito de uma terceira pessoa. Eu preferia andar só” (POMPÉIA, 2004, p. 154 – grifos do autor). Findos os relacionamentos de Sérgio, há uma última referência que o romance faz à homossexualidade. Quando o protagonista passa a dormir em outro quarto por causa de sua idade, ele descreve grupos de estudantes e, entre eles, o grupo dos homossexuais. Vejamos:
"havia os entusiastas da profissão, conscientes, francos, impetuosos, apregoando-se por gosto, que não perdoavam à natureza o erro original da conformação: ah! não ser eu mulher para melhor o ser! Estes faziam grupo à parte, conhecidos publicamente e satisfeitos com isto, protegidos por um favor de simpatia geral, inconfessado mas evidente, beneplácito perverso e amável de tolerância que favoneia sempre a corrupção como um aplauso. Eles, os belos efebos! exemplos da graça juvenil e da nobreza da linha. Às vezes traziam pulseiras; ao banho triunfavam, nus, demorando atitudes de ninfa, à beira d’água, em meio da coleção mesquinha de esqueletos sem carnes nas tangas de meia, e carnes sem forma" (POMPÉIA, 2004, p. 156-157).
Por meio de estereótipos, essa descrição fornece uma visão de homossexuais assumidos. Talvez seja essa a primeira descrição de um grupo de homossexuais na literatura brasileira.
Portanto, a representação da homossexualidade em O Ateneu pauta-se por relacionamentos, sem que haja afirmação direta de sua existência no caso de Sérgio. No entanto, a homossexualidade é latente e se manifesta no comportamento de alguns personagens e revela ideias e valores da época.
3. O CORTIÇO, DE ALUÍSIO AZEVEDO
O romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, referência de nossa literatura, possui, entre os vários personagens da narrativa, três que aqui nos interessam: o lavadeiro Albino, Pombinha e Léonie. Vejamos, pois, o primeiro personagem.
A descrição inicial de Albino é a de “um sujeito afeminado, fraco, cor de espargo cozido e com um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até ao pescocinho mole e fino” (AZEVEDO, 1981, p. 32). Note-se o uso da palavra “afeminado”, que sugere a homossexualidade do personagem, e o uso dos diminutivos “cabelinho” e “pescocinho”, que conferem, pejorativamente, um grau de delicadeza ao rapaz e reforçam a ideia de que ele seria homossexual.
Albino “era lavadeiro e vivia sempre entre as mulheres, com quem já estava tão familiarizado que elas o tratavam como a uma pessoa do mesmo sexo” (AZEVEDO, 1981, p. 32). Portanto, considerando-se o contexto histórico no qual a narrativa foi produzida, o personagem possuía uma profissão que, geralmente, era exercida por mulheres. Além disso, a diferença do relacionamento das lavadeiras com Albino em relação aos demais homens era enorme, sugerindo que ele era tratado por elas como uma mulher: “em presença dele falavam de coisas que não exporiam em presença de outro homem; faziam-no até confidente dos seus amores e das suas infidelidades” (AZEVEDO, 1981, p. 32). Tamanha confiança depositada em Albino pelas mulheres no ambiente de trabalho, por sugestão, ocorria porque a sua personalidade e o seu comportamento assemelhavam-se, portanto, aos das mulheres.
Na sequência da apresentação do personagem, o narrador afirma que Albino
"não arredava os pezinhos do cortiço, a não ser nos dias de carnaval, em que ia, vestido de dançarina, passear à tarde pelas ruas e à noite dançar nos bailes dos teatros. Tinha verdadeira paixão por esse divertimento; ajuntava dinheiro durante o ano para gastar todo com a mascarada" (AZEVEDO, 1981, p. 32).
Note-se que, mais uma vez, é utilizado o diminutivo para referir-se a uma característica do personagem, com sentido pejorativo. Destaque-se, ainda, que Albino aproveitava o carnaval, ainda que momentaneamente, para expressar sua identidade afeminada por meio de sua fantasia caracterizada essencialmente pelo traço feminino: a fantasia de dançarina. Talvez o carnaval fosse tão importante para Albino porque as fantasias e as máscaras, nessa festividade, promovem uma suspensão temporária das sanções sociais. A ideia de brincar de virar o mundo do avesso, própria do carnaval, funciona como um processo de dessublimação repressiva. No caso da fantasia de dançarina, ressalte-se que ela é uma liberação consentida apenas durante o carnaval. Sobre a máscara, Scliar afirma que ela é “expressão de metamorfose, de violação dos limites, de ridicularização: um simbolismo inesgotável” (SCLIAR, 2003, p. 110-111 apud PORTO, 2005, p. 86). Albino vale-se dessas possibilidades numa metamorfose carnavalesca: ele se libera por meio da fantasia, ao mesmo tempo em que se protege socialmente com a máscara.
Continuando com a descrição de Albino, nota-se que o narrador constrói uma imagem efeminada do lavadeiro por meio de certos elementos como, por exemplo, a sua vestimenta. Segundo o narrador, Albino sempre estava com “a sua calça branca engomada, a sua camisa limpa, um lenço ao pescoço, e, amarrado à cinta, um avental que lhe caia sobre as pernas como uma saia” (AZEVEDO, 1981, p. 32 – grifos nossos). Destaque-se a imagem do avental-saia, o que também faz, ainda que sutilmente, referência à inclinação feminina do personagem. Note-se, também, a personalidade lânguida do personagem, que, segundo o narrador, saracoteava os quadris e suspirava no trabalho.
A feminilidade de Albino era conhecida pela comunidade e tal característica era motivo de zombaria do personagem. Em certa ocasião, na casa de Rita Baiana, Porfiro “divertia-se a perseguir o Albino, galanteando-o afetadamente, para fazer rir à sociedade. O lavadeiro indignava-se, dava o cavaco” (AZEVEDO, 1981, p. 51). A própria anfitriã, a respeito da pouca comida que Albino comia e que ainda assim lhe fazia mal, “para bolir com ele, disse que semelhante fastio era gravidez com certeza” (AZEVEDO, 1981, p. 53). De forma mais direta e cruel, Porfiro faz outra zombaria com Albino:
"— Mas afinal, perguntou Porfiro, é mesmo exato que este pamonha não conhece mulher?...
— Ele é quem pode responder! acudiu a mulata. E esta história vai ficar hoje liquidada! Vamos lá, ó Albino! confessa-nos tudo, ou mal te terás de haver com a gente!
— Se eu soubesse que era para isto que me chamaram não tinha vindo cá, sabe? gaguejou o lavadeiro, amuado. Eu não sirvo de palito!" (AZEVEDO, 1981, p. 54).
Note-se que toda a zombaria era feita em torno da languidez do personagem ou de seu comportamento sexual, o que revela a negatividade atribuída à homossexualidade na época.
O último dado que analisaremos, aqui, sobre Albino, corresponde às formigas em sua cama. Vejamos o trecho em que este evento é apresentado pelo narrador:
"Os companheiros de estalagem elogiavam-lhe aquela ordem e aquele asseio; pena era que lhe dessem as formigas na cama! Em verdade, ninguém sabia por que, mas a cama de Albino estava sempre coberta de formigas. Ele a destruí-las, e o demônio do bichinho a multiplicar-se cada vez mais e mais todos os dias. Uma campanha desesperadora, que o trazia triste, aborrecido da vida" (AZEVEDO, 1981, p. 140).
Sobre este episódio, Mendes (2000) destaca o fato de as formigas afastarem Albino de sua natureza e, também, de o impedirem de “viver seus instintos e desejos” (MENDES, 2000, p. 85). Além disso, o autor afirma que “espaço privilegiado do exercício da sexualidade, a cama de Albino lhe é interditada, mesmo que o visitante que nunca vem, um dia viesse” (MENDES, 2000, p. 84-85). A imagem das formigas na cama é, cremos, uma alegoria da situação sexual de Albino. Na narrativa, o lavadeiro é exposto como um indivíduo afeminado, mas não são feitas referências a atividades sexuais do personagem que, por sugestão, sequer existiam, o que indica mais um aspecto que pesa negativamente contra Albino: a virgindade.
Pode-se afirmar que, segundo Thomé, Albino “é a primeira bichinha – com todas as conotações de que o termo vem carregado – da história literária brasileira” (THOMÉ, 2009, p. 69). Note-se que em seu caso, a homossexualidade é representada como um papel social estereotipado. Passemos, agora, à análise de Pombinha e Léonie, caso no qual a prática homossexual materializa-se sob a forma de atividade sexual.
A personagem Pombinha, cujo nome sugere pureza e delicadeza, é descrita como uma jovem de 18 anos muito bonita e adoentada. A “flor do cortiço”, muito querida por todos, não tinha a permissão de sua mãe para se casar com seu noivo porque ainda “não tinha ainda pago à natureza o cruento tributo da puberdade” (AZEVEDO, 1981, p. 31), ou seja, a menstruação. No entanto, ela passa à decadência moral a partir de uma experiência homossexual com Léonie, prostituta (signo negativo; algo que também é caracterizado como vício e pecado) que nutria desejo por ela e tentava seduzi-la.
Ao visitar a casa de Leónie com a sua mãe, Pombinha é violentada pela prostituta enquanto a mãe dormia sob efeito de vinho:
"— Vem cá, minha flor!... disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-se cair sobre um divã. Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou louca por ti!
E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo-a de espanto e de um instintivo temor, cuja origem a pobrezinha, na sua simplicidade, não podia saber qual era" (AZEVEDO, 1981, p. 92-93).
Pombinha reluta, mas acaba sendo despida e recebe as investidas de Léonie. No entanto, o que era constrangimento acaba se tornando prazer:
"Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas grossas pomas irrequietas sobre seu mesquinho peito de donzela impúbere e o rogar vertiginoso daqueles cabelos ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do sangue, desertando-lhe a razão ao rebate dos sentidos.
Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo" (AZEVEDO, 1981, p. 93).
O corpo, nesse fragmento, cede ao instinto sexual. Ou seja: é concebido como organismo que, excitado, responde mecanicamente à excitação. Essa visão mecanicista da sexualidade, na verdade reduz o desejo (que é algo complexo) a uma mera resposta física a um estímulo qualquer. Essa é uma visão redutora e perigosa, que, aliada ao Determinismo, produz preconceitos. Observemos, agora, o comportamento de Léonie durante o ato sexual:
"[...] a outra, por cima, doida de luxúria, irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e relinchando.
E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e afinal desabou para o lado, exânime, inerte, os membros atirados num abandono de bêbedo, soltando de instante a instante um soluço estrangulado" (AZEVEDO, 1981, p. 93 – grifos nossos).
Note-se que a prostituta possuía, de fato, desejo homoerótico, o qual é intensificado na imagem animalesca trabalhada pelo narrador. Esse é, pois, um traço que diferencia as personagens: a atração de Léonie por Pombinha configura-se como desejo de natureza homoerótica concebido como instinto animal, o que pode sugerir a homossexualidade da cocote. Por meio de um tratamento simbólico e ideológico, esse desejo, no romance, é reduzido a um instinto animal degenerado (por ser de orientação homoerótica e por vir de uma prostituta). No entanto, Pombinha não compartilha o mesmo tipo de desejo. Um exemplo disso é o arrependimento da jovem logo após o ato sexual com Léonie, pois, apesar de ter sido praticamente violentada pela prostituta, vimos que, a partir de certo momento, ela se entrega ao ato. Além disso, observemos outro momento:
"Pungia-lhe na brancura da alma virgem um arrependimento incisivo e negro das torpezas da antevéspera; mas, lubrificada por essa recordação, toda a sua carne ria e rejubilava-se, pressentindo delícias que lhe pareciam reservadas para mais tarde, junto de um homem amado, dentro dela balbuciavam desejos, até aí mudos e adormecidos" (AZEVEDO, 1981, p. 95 – grifos nossos).
Note-se que Pombinha via a relação que tivera com Léonie de modo depreciativo, ao passo que seu desejo erótico voltava-se à figura do homem. Tal constatação se confirma, posteriormente, por meio dos adultérios que ela comete quando já está casada com o personagem Costa, os quais, sem motivação financeira, se dão com homens. As atitudes de Pombinha, portanto, confirmam a ideia de degeneração como marca indelével: uma vez iniciada no e pelo vício (Leónie), ela se torna vil para todo o sempre.
Enfim, Pombinha não se caracteriza como uma personagem homossexual. No entanto, sua experiência homossexual é determinante em sua trajetória na narrativa, pois, além de ser a sua iniciação ao sexo, é a partir e por causa dela que a jovem passa por um processo de decadência moral, de acordo com o padrão de moralidade da sociedade da época. De menina virgem e meiga, ela se torna, após ser uma esposa adúltera, uma mulher divorciada e prostituta requisitada. No entanto, seu prestígio não é alterado no cortiço: “era, como a mestra, cada vez mais adorada pelos seus velhos e fiéis companheiros de cortiço” (AZEVEDO, 1981, p. 155). Isso se deve, em parte, à confortável situação financeira conquistada por Pombinha por meio da prostituição, o que lhe permitia colaborar financeiramente com pessoas do cortiço. Nessas ações, destaque-se o amparo prestado por Pombinha à filha de Jerônimo, tal como Léonie havia feito com ela no passado. Desse modo, segundo o narrador, “A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulher ao lado de uma infeliz mãe ébria” (AZEVEDO, 1981, p. 155).
Portanto, cremos que, na história de Pombinha e Leónie, afirma-se uma tese determinista perigosa: a de que o organismo que não realiza as funções na hora certa degenera. Transferida mecânica e diretamente para o campo da sexualidade, essa ideia revela como, no século XIX, o pensamento científico estava atado à moralidade conservadora. A passagem de Pombinha de virgem a não-virgem é, neste sentido, afirmada como degeneração, depravação físico-moral e, portanto, signo negativo de decadência. O relacionamento de Léonie e Pombinha é uma das muitas versões que a literatura abriga do relacionamento entre o vício e a virtude. As vinculações ideológicas, aí, evidenciam os limites e os preconceitos postos em ação e funcionamento, remetendo, em última análise, à polaridade binária maniqueísta Bem X Mal, que longa história tem, vinculada à religião, no Ocidente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em O Ateneu, do amor desinteressado e sublimado, Sérgio passa à descoberta do amor erótico. Passa, por meio do desejo, do amor philia para o amor eros. Pode-se interpretar essa mudança, a partir do que o romance apresenta, como uma espécie de amadurecimento. O período de constituição moral apontado pelo protagonista, no qual características femininas poderiam ser inseridas, é finalizado quando Sérgio passa a nutrir desejo erótico por D. Ema. Como se podia esperar de um romance do século XIX, a heterossexualidade é tida como o estágio ideal do indivíduo. Desse modo, cremos que não se possa conceber Sérgio como homossexual enrustido ou inconsciente de uma possível própria homossexualidade.
Por fim, em O cortiço, conclui-se que a homossexualidade é representada de duas maneiras: a primeira delas, no caso de Albino, de modo estereotipado e oblíquo, na qual ela funciona como caracterizador de um tipo social; a segunda, no caso de Pombinha e Léonie, materializada sob a forma de ato sexual, no qual o desejo, concebido como instinto animal degenerado (por ser de orientação homoerótica e por vir de uma prostituta), emerge a partir da personagem Léonie. Nesse caso, no entanto, ela não se sustenta como algo duradouro, pois ela se resume àquele ato. Ressalte-se, entretanto, que a representação da homossexualidade num grande romance, ainda que timidamente, prenunciava a possibilidade do fenômeno da homossexualidade vir a ser explorado mais vezes na literatura brasileira.
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NOTAS
* Graduando em Letras pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de São José do Rio Preto. Artigo proveniente da Iniciação Científica intitulada “Representações da homossexualidade na literatura brasileira”, orientada pelo Prof. Dr. Arnaldo Franco Junior. E-mail: leandro.valentin@hotmail.com.
** As primeiras referências à homossexualidade na literatura brasileira em prosa foram feitas nos seguintes romances: Mulheres de mantilha (1870), de Joaquim Manuel de Macedo; Memórias de um condenado, publicado em folhetim em A Gazetinha em 1882 e, depois, editado sob o formato de livro com o nome de A condessa Vésper, de Aluísio Azevedo; Um homem gasto (1885), de Lourenço Ferreira da Silva Leal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GÓES, Fred. O carnaval carioca do século XIX na visão dos estrangeiros. Recorte – Revista de linguagem, cultura e discurso. v. 4, n. 6, jan./jun. 2007. Disponível em: <http://www.portais.unincor.br/recorte/images/artigos/edicao6/6_artigo_fredgoes.htm>. Acesso em: 05 Jan 2013.
MENDES, Leonardo. O retrato do imperador: negociação, sexualidade e romance naturalista no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.
POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Paulus, 2004.
PORTO, Luana Teixeira. Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu: fragmentação, melancolia e crítica social. 2005. 162f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
THOMÉ, Ricardo. Eros proibido: as ideologias em torno da questão homoerótica na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Razão Cultural, 2009.
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VALENTIN, Leandro Henrique Aparecido. Representações da homossexualidade nos romances O Ateneu, de Raul Pompéia, e O cortiço, de Aluísio Azevedo. Rascunhos Culturais, Coxim-MS, v. 4, n. 8, p. 179-200, jul./dez. 2013. Disponível em: <http://http://www.revistarascunhos.sites.ufms.br/files/2014/03/8ed_artigo_10.pdf>.
Artigo originalmente publicado na revista Rascunhos Culturais, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), câmpus de Coxim-MS. Disponível em arquivo PDF com a formatação original da publicação em: <http://www.academia.edu/6384666/Representacoes_da_homossexualidade_nos_romances_O_Ateneu_de_Raul_Pompeia_e_O_cortico_de_Aluisio_Azevedo>.