QUESTIONAMENTOS SOBRE HAVER OU NÃO PONTES DE PERFEITO ENTENDIMENTO ENTRE AUTOR E LEITOR

É comum a escrita não ser portadora da verdadeira intenção de quem escreve, pois as palavras frequentemente ficam encarceradas por entraves que lhes danificam a intenção primária do escritor. Há determinados aspectos que colocam dúvidas sobre haver ou não a comunicação pretendida no momento original da criação de uma obra escrita.

Dessa forma, surgem questionamentos sobre existirem ou não pontes entre o que se pensa e se tenta levar ao interlocutor ou se o emissor apenas fala, sem a real compreensão, por parte do leitor, do pensamento emitido pelo autor do texto.

Muitas influências trazidas por fatores externos atingem a língua, modificando-a em sua essência significativa e alterando substancialmente alguns significados. Ela edificaria e imprimiria melhor a verdadeira intenção do autor, se efetivasse seu primordial papel de ser condutora de idéias inerentes e não fosse apenas instrumento de codificação de mensagens.

Surgem, então, dúvidas quanto a haver comunicação de idéias ou se as palavras são apenas grafadas e mecanicamente lidas.

Há algum tempo, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa informou que a palavra mais pesquisada em determinado ano foi “nostalgia” (185 mil vezes) e a segunda mais procurada foi “amor” (170 mil buscas). Tais informações levam-nos a questionamentos a respeito da peculiaridade das palavras. Causa estranheza esse interesse pelo verbete nostálgico, já que nostalgia significa tristeza profunda causada pelas saudades do afastamento da terra natal ou por falta de algo, conforme o próprio dicionário aqui citado.

Estariam as pessoas tão nostálgicas num mundo em que as comunicações são instantâneas? Então, observa-se e se enxerga nitidamente a importância da palavra e suas nuanças indefinidamente particulares, pessoais e intransferíveis.

O austríaco Stefan Zweig em seu texto Brasilien ein Land der Zukunft disse profeticamente que o Brasil seria um país do futuro. Houve, porém, um equívoco de tradução, já que é muito grande a diferença de significado entre “um país do futuro” e “o país do futuro”. A profecia foi, então, atropelada pela incompreensão do artigo, pois havia no título em alemão o artigo indefinido “ein”, deixando a idéia de que Zweig via o Brasil como um país do futuro, entre outros.

Fatalmente, na primeira edição brasileira, o título surgiu sem o artigo: “Brasil, país do futuro”. O fato aconteceu em plena Segunda Guerra Mundial e este país, talvez por esse perigoso orgulho que o inflou, viu-se impedido do progresso como resultado da deformação de autoimagem.

Tais exemplos corroboram os argumentos iniciais desta análise e fundamentam a afirmativa de Vygotsky (1979) em que enfatiza a importância da linguagem como instrumento que expressa o pensamento, entretanto, sem dúvida sofre mudanças qualitativas, de acordo com a capacidade cognitiva do indivíduo, no que tange à memória e à formação de conceitos.

Vale aqui, ainda, acrescentar o fator distração do leitor no momento da leitura de um texto, fato que o pode levar à alteração da intenção inicial do autor ou, até mesmo, a interpretá-lo de acordo com sua conveniência.

Dalva Molina Mansano

http://revistalingua.uol.com.br/textos/76/para-traduzir-o-futuro-250690-1.asp

FREITAS, M. T. de A. 2000. As apropriações do pensamento de Vygotsky

no Brasil: um tema em debate. In: Psicologia da Educação. Revista do

Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Educação. Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, n.10/11: 9-28.

http://www.priberam.pt/dlpo/ligacoes.aspx

http://www.priberam.pt//Noticias/Comunicado-de-Imprensa.aspx?Id=1797

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 09/03/2014
Reeditado em 19/11/2015
Código do texto: T4722068
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