PAIXÃO em ORDEM

”Pego a palavra amor e dentro / dela semeio meu sigilo: /

este rumor do mar batendo, / esta paixão, este suspiro”

(Gilberto Mendonça Teles)

Quão poderosa é a paixão? Para responder a essa pergunta é preciso ordenar os sentimentos, encontrar o amor, a cura da alma e buscar o sonho. Apaixonamo-nos muito, de forma desordenada e desesperada, quando jovens. Com o passar dos anos a paixão é mais aberta, madura para amar uma pessoa como ela é. Encontro em Paola Rhoden que “A felicidade está em fazer de cada pequeno instante // um grande começo, / e confesso, / que não fiz deles, // uma ponte de sucesso...” e, em Frederico Barbosa, “...sentimento: forma que reforma dentro.”

A paixão muda o comportamento, as atitudes e estabelece preferências, como conversar olho no olho. É poderoso sentimento que desafia e acalenta o coração. Os sentidos entram em comunicação, permeando e transmutando impressões e sensações. Essa desordem sensorial é a paixão. O apaixonado faz gênero sensível, como amante do risco tem a coragem para combater o medo e enfrentar as diversidades. Estar apaixonado é se relacionar verdadeiramente e expressar emoções mais profundas. É falar sem palavras, produzindo estímulos que levam ao que realmente somos ou sentimos. Nas palavras de Pedro Du Bois, ...amantes, na comunicação / com que se elevam, beijos / e contatos, a paixão entregue / ao anunciar dos desejos...”

Como quesito do sentimento na poesia, lembro o Poeta da Paixão, Vinícius de Morais, por dois motivos: a importância da sua obra poética e por ter sido um homem que viveu intensamente, entrelaçando sua vida, acionando os sentidos, como em Onde está Você, Soneto de Fidelidade e A Luz dos Olhos Teus. Também saliento o livro de Luis Augusto Cassas, Liturgia da Paixão, que fala dos mistérios da paixão e do amor em sua pluralidade –”..De pequenos e grandes gestos / renasce o amor: / fogo no coração, / chuva na emoção, / até ressurgir a luz / cristalina da paixão.” E Carlos Higgie, no livro Caleidoscópio, conta que a paixão é sentimento que não tem limites, “...de cara para o mar, abraçados, os olhos perdidos no horizonte, olhavam como o sol pintava o céu...Era emocionante para ela, sentir a mão firme do rapaz na sua, as pernas quase se tocando, ele recitando uma poesia de Neruda e a natureza brindando-lhes com aquele maravilhoso espetáculo...” E, ainda Paulo Monteiro com a poesia, Paixão do livro Eu resisti Também Cantando.

Numa paixão o essencial é transformar o relacionamento em acontecimento: unir respeito e carinho. O segredo é se sentir em mudanças ao desejar a paixão como desordem dos sentimentos; ordenar as relações sabendo prestigiar a si mesmo para amar o outro: somar, dividir e multiplicar o amor. Como no livro Cantar de Amor – entre os escombros, de Frederico Barbosa, com poemas de amores que se multiplicam em encontros e desencontros, fugindo da ordem da paixão.