“QUEM LÊ, VAI LÁ”
Folheando uma revista, de 1998, encontrei propaganda da Livraria Cultura: “Quem lê, vai lá”. Esse slogan marcava a insistência para com a leitura, como debate de seu tempo, através da mídia. O slogan parece requisitar algo além do alcance, como uma nova ilusão a esgarçar seus limites. A pretensão de representar que o escritor seria a verdade, como identidade mais próxima da literatura, na variação entre as vozes ao lerem, “quem lê, vai lá”. Segundo Eric Nepomuceno: “...nas raízes mais fundas da memória, ele encontrou o ambiente e as vozes mais apropriadas para desenhar o mundo.”
De fato sinto-me em meio à ilusão de estar longe dos livros, ou seja, o leitor em oposição à novidade. Começo a pôr em dúvida a necessidade de sonhar, como estiramento de elástico para os dois lados: conhecimento e liberdade. Ler é igualmente estático, porque mantêm citações, cortes, humor e tudo mais que dá ao texto o cromatismo e a energia formidável, como se o livro passeasse pelos diversos gêneros, e a sensação é da liberdade, sem perder a perspectiva da ressonância. Como em IGdeOL, “Na madrugada, com sua quietude, / Contemplo no passado o mistério da vida.../ vislumbro a silenciosa e grande saída / Que a voz do calar apresenta-me amiúde..”
O tempo mostra perspicácia e usa imagens e conceitos que contribuem para a riqueza narrativa nos livros. Toda história lida, mede, prevê, demarca e enfatiza a nossa época, que não nos permitimos, por muitas vezes, enxergar. A obra se projeta com a evidência de sua real grandeza: a linguagem e as ideias. Na voz de Ivan Junqueira, “Na gaiola jaz / o pássaro / sem espaço // Que será o poema, / essa estranha trama / de penumbra e flama / que a boca blasfema? // ... Que será o poema:/ uma voz que clama? / Ou a dor que algema?
O que espero na companhia do livro é o certo gosto de pensar cada palavra como em uma balança de alta sensibilidade e, assim, ter a abrangência da invenção do autor com a cultura. Não leio o livro à espera de linearidade; é justamente a sua ausência que me prende como leitora. A leitura é repleta de alusões e referências, como se quisesse o tempo todo demarcar suas fronteiras: quem lê, vai lá.