GUSTAVO BARROSO E O SEU LIVRO CORAÇÃO DE MENINO
Meu hábito de leitura faz com que eu mexa em muitos livros e encontre muita coisa boa e, até certo ponto, meio triste. Mexendo numa das minhas humildes estantes, encontrei um livro fantástico de autoria de Gustavo Barroso, e comecei a manusear o mesmo e senti uma saudade imensa do meu tempo de menino, em casa do meu avô, Agostinho José de Santiago Neto. Lendo este compêndio autêntico, me reportei ao meu tempo de garoto, em minha Malhadinha antiga. Junto às minhas tias, eu tinha uma infância mais ou menos alegre, embora sem o afeto materno, sem o carinho de Donatila de Santiago Lima, a minha querida genetriz. O livro coração de menino de João do Norte, o nosso autêntico Gustavo Barroso, faz a gente chorar sem querer. O autor de Consulado da China, ficou sem mãe aos três meses de idade, e foi criado por tias paternas, como eu fui também. Muita gente não gosta de ler o nosso grande escritor cearense, uma vez que o autor de Tição do Inferno criticava com muita ousadia os governichos do Ceará e também deste Nordeste desenfreado e violento. Nenhum outro escritor do Ceará falara tanta coisa boa ou má do nosso povo como o grande cronista João do Norte, o autêntico Gustavo Barroso. Sempre quando leio coração de menino, vem-me a lembrança do meu povo, da minha infância, da Tia Marica, ou da casa onde me criei até os trinta e um anos de idade e dalí me ausentei para não voltar mais. Toda a obra de Gustavo Barroso é uma reflexão do nordeste brasileiro, sobretudo do nosso Ceará e da nossa gente humilde. Ler Gustavo Barroso é conhecer a psicologia da nossa gente, é conhecer os costumes de um povo trabalhador, embora muito violento e até mesmo um pouco artista. Terra de Sol, um livro que fala do nosso clima como nenhum outro e mostra o desacerto da própria natureza ingrata com o nosso nordeste. Quem quiser conhecer o mundo da violência, basta ler Alma de Lama e Aço que vai encontrar o nosso mestre falando de Pedra Bonita, da Vila do Teixeira, de São José do Egito no Vale do Pajeú, em Pernambuco. O livro Guerreiro do Sol de Frederico Pernambucano de Melo, em quase toda página traz um elogio enorme ao Grande Escritor cearense, Gustavo Barroso. Se um dia o Ceará tiver bons leitores, pode até o nosso Gustavo Barroso ainda ser lido e respeitado como deveria ser. O autor de À Margem da História do Ceará, nasceu na Rua Formosa, em Fortaleza, em 1888, e morreu no Rio de Janeiro, entretanto, a sua obra é tão cearense como ele foi. O memorialista cearense nunca escreveu sem que não mencionasse o seu torrão natal como também a vida da nossa gente. Quando jovem, o talentoso escritor viajou por todo o sertão do Ceará, ao lado do seu padrinho Antônio Carlos de Miranda, fazendeiro em Quixeramobim. O beletrista cearense fala do encontro que teve com vários cangaceiros cearenses, mormente com José Dantas do Fechado e o bandido Cambraia. Eu leio todo intelectual cearense, contudo o de minha predileção, é este Gustavo Barroso, o famoso João do Norte: Criptônimo tão pouco conhecido pelos nossos cearenses. Não estou puxando o saco de ninguém, nem também do genial escritor cearense, apenas estou delatando uma verdade, estou fazendo justiça com nome de um talento sem igual. José de Alencar é cearense de nascimento, menos pela obra que pouco fala do Ceará, com exceção de Iracema. João do Norte é tão cearense como a nossa Rachel de Queiros, ou o nosso Antônio Sales, e se ainda quiser Domingos Olímpio Braga. Não vejo coisa mais fantástica do que ler as obras do grande escriba cearense, o nosso fabuloso, o nosso maior memorialista João do Norte, ou Gustavo Doudt Barroso. Quando eu quero lembrar-me de minha saudosa mãe, basta eu ler uma página ou um capítulo de Coração de Menino, para sentir o quanto é triste não ter mãe.