A desPALAVRA
“Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma.”
(Fernando Pessoa)
Defino a despalavra como a dança de ideias que me seduz pela autenticidade dotada de silêncio, inverdades e discurso vazio, como o encontro de uma composição poética que traz a magia, o mistério e a fantasia. A despalavra se impõe, sobretudo, como poesia de significação.
Revelo a imaginação como a memória que inspirada traz surpresas nas entrelinhas e essa surpresa se impõe pela força do escritor: ao usar a despalavra, ele revela o pensamento que se cristaliza em poesia e constrói o inesperado. Ninguém como Jorge L. Borges para retratar, “El mundo, según Mallarme, existe para um libro; según Bioy, somos versículos o palabras o letras de um libro mágico, y este libro incensante es la única cosa que hay em El mundo: mejor dicho El mundo.”
Muitas vezes, quem se propõe a traçar as palavras em um poema acredita na importância da arte da despalavra – a palavra além do significado, a despalavra de maneira diferente na pluralidade e diversidade linguística, como acessório. Essa variação é o processo decorrente da criatividade e da vontade de nomear os fatos, como em Orides Fontela, “Sob a língua...// alimentos beijos palavras // ...O saber que a boca prova / O sabor mortal da palavra.”
Quem se dedica, tem em mente que trajetória irá tomar; passa a pensar na despalavra como a sensação que provoca o estímulo. “Não me rendo ao espetáculo, mas a emoção.../ Não me rendo às palavras, mas ao sentimento, / Rendo-me aos sonhos para poder viver, / Para alimentar-me a alma...” (Lima Coelho). Nesse sentido, sem dúvida a despalavra é o ponto relevante no poema que une forma e conteúdo em resultado que vai além do estético e da significação. Lígia A. Leivas diz, “...O traçado do pensamento /materializa-se no desenho /rabiscado com palavras.”
Criar é poder. Recriar é trafegar entre dois lados: expressão e imaginação; saber utilizar as palavras de várias maneiras, até inventar a despalavra e dar significado a ela. A poesia é o caminho mais gostoso por onde passear pelo mundo da imaginação, da despalavra ao sopro do reflexo, “... ainda não plantei girassóis dentro de mim / permita que meu corpo siga adubo de si / me escorregue aonde vá / não me pare por aí / me leve, me guie.” (Vânia Lopez).