"VERSO É VERSO O RESTO É PROSA"
A prazerosa visita que fiz a Academia Taguatinguense de Letras logrou-me, além dos momentos de boa acolhida, três especiais benefícios: aproximar-me daquela Instituição, conhecer alguns dos seus membros e ser contemplado com duas de suas obras.
Sem a formalidade que eu supunha, o escritor José Orlando Pereira da Silva recepcionou-me simpaticamente, mostrando-me as instalações, explicando-me o funcionamento enquanto eu observava na parede as fotos dos acadêmicos. O acervo em prosa e verso ali cuidadosamente se mantém exposto na única sala que compõe a sede provisória da ATL.
Coincidente com o dia em que fui à Academia, iniciava-se mais uma edição da Feira do Livro de Brasília, desta vez em novo espaço junto à Biblioteca Nacional. Propus-me a tornar-me divulgador dos autores e obras da Academia enquanto o presidente da ATL, Gustavo Dourado, reiterou-me o convite já feito por outros membros a comparecer ao Café Literário na noite de estréia. Não pude comparecer, mas fui aos estúdios da 94.5 FM onde divulguei uma das obras do poeta Antonio Garcia Muralha, de cujo título ora me aproprio.
Em VERSO É VERSO O RESTO É PROSA Muralha reuniu criações desde 1968. Prefaciado por Rubens Pedrosa Paiva Filho, um passeio poético registra a memória emotiva e literária da vida desse mineiro radicado no DF, taguatinguense por adoção. São poemas da mocidade e dela as aventuras que lhe compuseram a trajetória do ex aluno do CEMAB – Centro de Ensino Médio Ave Branca, passando pelo UniCEUB onde graduou-se em Letras, a tese linguística pela qual sustenta, etimologicamente, que a palavra “Taguatinga” não significa Ave Branca, mas sim “Barro Branco”. Aposentado pela Caixa Econômica Federal, foi também professor de Língua Portuguesa na Fundação Educacional do Distrito Federal, e membro da Academia Taguatinguense de Letras, ocupante da cadeira nº 21.
Nesta sucinta mas atenta alusão à obra de Muralha, parto do título que num descuido o leitor pode inverter. A palavra resto não deprecia, só diferencia. Verso é um componente poético de que dispôs o poeta para quem a prosa foi muralha. No sentido do limite da composição e não da compreensão. Mas esse nome deram-lhe ainda jovem, nos tempos do Ave Branca. E o poeta adotou-lhe sem barreiras.
Entre poemas vários de outras variantes, destaca-se o sonetista. Um quarteto que o reporta às “COISAS DO AMOR” sonhadas, guardadas e não esquecidas no lirismo:
Eu tive um pássaro nas mãos... Guardei-o
Por vários anos com o maior cuidado...
Dei-lhe a gaiola e tudo lhe foi dado
Da melhor forma – eu o guardei no seio.
O místico em RESSURREIÇÃO
Eis-aqui, pessoa! Volto refeito...
Inda uma vez viver! – Mortal que somos –
Ao todo, inteiro... e tão partido em gomos
Como é o gosto do algoz. Volto e perfeito:
A crítica aos críticos (in Verso é verso, o resto é prosa);
Pensam que são: poetas, jornalistas,
Críticos literários, escritores...
Em crônicas supõem-se doutores
E pensam mesmo até que são artistas.
O poeta faz nascer um poema num VENTRE POÉTICO:
Hoje é um dia de parto.
A Natureza humana vai parir um poema.
Parir um poema, sim senhor!
Posto que, para parir um poema,
É necessário que ele,
Na íntegra,
Seja passado para o papel,
Ele vai começar a ser parido
Agora.
(fragmento)
SONHAR É POESIA e Muralha disse que
O maior sonho do poeta
é fazer poemas.
O maior sonho do poeta
é sonhar poesia
O maior sonho do poeta
é dormir poesia
é acordar poesia
(fragmento).
Por fim, a íntegra de um soneto que escolhi:
O VENTO
Eu vi o vento conversar comigo
Na madrugada, quando eu já deitava
Meu corpo ao leito, pude ver, me olhava,
Pela janela e me dizia: amigo.
Sê como a brisa! – nunca foi escrava...
Foi livre, é livre, não procura abrigo,
E, firme, um dia, perguntou-me: eu digo?
Disse-lhe: dize! E ela me contava.
Que, ao ser filha do vento, não podia
Ao menos não voar por noite e dia
Por todo espaço não chegar primeiro.
Eu disse – o vento – certo!... sabes, filha,
Que todo esse universo, maravilha,
É nosso – donos desse mundo inteiro!
Valeu poeta! Valeu acadêmicos da ATL, valeu Feira do Livro.
VERSO É VERSO O RESTO É PROSA
MURALHA, Antônio Garcia
Editoração: Igor Maciel
194p
Brasília 2008
A prazerosa visita que fiz a Academia Taguatinguense de Letras logrou-me, além dos momentos de boa acolhida, três especiais benefícios: aproximar-me daquela Instituição, conhecer alguns dos seus membros e ser contemplado com duas de suas obras.
Sem a formalidade que eu supunha, o escritor José Orlando Pereira da Silva recepcionou-me simpaticamente, mostrando-me as instalações, explicando-me o funcionamento enquanto eu observava na parede as fotos dos acadêmicos. O acervo em prosa e verso ali cuidadosamente se mantém exposto na única sala que compõe a sede provisória da ATL.
Coincidente com o dia em que fui à Academia, iniciava-se mais uma edição da Feira do Livro de Brasília, desta vez em novo espaço junto à Biblioteca Nacional. Propus-me a tornar-me divulgador dos autores e obras da Academia enquanto o presidente da ATL, Gustavo Dourado, reiterou-me o convite já feito por outros membros a comparecer ao Café Literário na noite de estréia. Não pude comparecer, mas fui aos estúdios da 94.5 FM onde divulguei uma das obras do poeta Antonio Garcia Muralha, de cujo título ora me aproprio.
Em VERSO É VERSO O RESTO É PROSA Muralha reuniu criações desde 1968. Prefaciado por Rubens Pedrosa Paiva Filho, um passeio poético registra a memória emotiva e literária da vida desse mineiro radicado no DF, taguatinguense por adoção. São poemas da mocidade e dela as aventuras que lhe compuseram a trajetória do ex aluno do CEMAB – Centro de Ensino Médio Ave Branca, passando pelo UniCEUB onde graduou-se em Letras, a tese linguística pela qual sustenta, etimologicamente, que a palavra “Taguatinga” não significa Ave Branca, mas sim “Barro Branco”. Aposentado pela Caixa Econômica Federal, foi também professor de Língua Portuguesa na Fundação Educacional do Distrito Federal, e membro da Academia Taguatinguense de Letras, ocupante da cadeira nº 21.
Nesta sucinta mas atenta alusão à obra de Muralha, parto do título que num descuido o leitor pode inverter. A palavra resto não deprecia, só diferencia. Verso é um componente poético de que dispôs o poeta para quem a prosa foi muralha. No sentido do limite da composição e não da compreensão. Mas esse nome deram-lhe ainda jovem, nos tempos do Ave Branca. E o poeta adotou-lhe sem barreiras.
Entre poemas vários de outras variantes, destaca-se o sonetista. Um quarteto que o reporta às “COISAS DO AMOR” sonhadas, guardadas e não esquecidas no lirismo:
Eu tive um pássaro nas mãos... Guardei-o
Por vários anos com o maior cuidado...
Dei-lhe a gaiola e tudo lhe foi dado
Da melhor forma – eu o guardei no seio.
O místico em RESSURREIÇÃO
Eis-aqui, pessoa! Volto refeito...
Inda uma vez viver! – Mortal que somos –
Ao todo, inteiro... e tão partido em gomos
Como é o gosto do algoz. Volto e perfeito:
A crítica aos críticos (in Verso é verso, o resto é prosa);
Pensam que são: poetas, jornalistas,
Críticos literários, escritores...
Em crônicas supõem-se doutores
E pensam mesmo até que são artistas.
O poeta faz nascer um poema num VENTRE POÉTICO:
Hoje é um dia de parto.
A Natureza humana vai parir um poema.
Parir um poema, sim senhor!
Posto que, para parir um poema,
É necessário que ele,
Na íntegra,
Seja passado para o papel,
Ele vai começar a ser parido
Agora.
(fragmento)
SONHAR É POESIA e Muralha disse que
O maior sonho do poeta
é fazer poemas.
O maior sonho do poeta
é sonhar poesia
O maior sonho do poeta
é dormir poesia
é acordar poesia
(fragmento).
Por fim, a íntegra de um soneto que escolhi:
O VENTO
Eu vi o vento conversar comigo
Na madrugada, quando eu já deitava
Meu corpo ao leito, pude ver, me olhava,
Pela janela e me dizia: amigo.
Sê como a brisa! – nunca foi escrava...
Foi livre, é livre, não procura abrigo,
E, firme, um dia, perguntou-me: eu digo?
Disse-lhe: dize! E ela me contava.
Que, ao ser filha do vento, não podia
Ao menos não voar por noite e dia
Por todo espaço não chegar primeiro.
Eu disse – o vento – certo!... sabes, filha,
Que todo esse universo, maravilha,
É nosso – donos desse mundo inteiro!
Valeu poeta! Valeu acadêmicos da ATL, valeu Feira do Livro.
VERSO É VERSO O RESTO É PROSA
MURALHA, Antônio Garcia
Editoração: Igor Maciel
194p
Brasília 2008