O reflexo complexo em si: A LUCIDEZ
“Inquietos são os momentos de lucidez /
Pacíficas as ameaçadoras loucuras”
(Carmen Presotto)
As palavras de Nilto Maciel, “a lucidez possível”, me faz refletir sobre a lucidez como assunto que vem à baila: algo que se lembra, que se ouve, qualquer coisa que se lê. Pois, nas lembranças, encontro Orides Fontela que poetizou que “A lucidez, alucina”. É claro que o sentimento às vezes se desvia completamente da ideia, como em José Castello, “A lucidez absoluta é uma mentira sinistra: todos vivemos um pouco no escuro. O importante é que cada passo esteja sincronizado com o que se sente. E sentimentos são sempre confusos e imperfeitos.” Personagens delirantes apresentam histórias de lucidez: lúcido em emocionantes momentos de delírios, como em Carlos Higgie,”...Num instante de lucidez, Marcelo passou a raiva, dos ciúmes mastigados e afogados, para a sensação de vitória e, depois, de piedade...”.
No seu livro de poemas, Brevidades, Pedro Du Bois expõe (suas) brevidades, revelando tipos obsessivos, frutos de suas observações sobre a lucidez, o equilíbrio, a natureza e o sentimento, “Permito-me a lucidez: vejo a árvore e os frutos;/ ...A lucidez contém luzes enfeitiçadas de verdades. / A lucidez é o meu cansaço.”
A lucidez é (ou não) abrir a janela a vários estados de consciência: mergulhar no desconhecido; ter forte lembrança de como fazer a vida; fazer o link com a infância; saber lidar com a loucura; ter vida diferente das nóias. Enfim, a loucura é igual para todos ou seria a lucidez o reflexo complexo em si, algo a ser definido, porque as pessoas têm comportamento mitificado na loucura? Para Michel Foucault, “definir loucura é não saber como se está no mundo.” Não creio que existam loucos com noção do que seja a lucidez. Penso que a lucidez está misturada ao lugar onde tentamos construir os sonhos, como encontro no livro Lucidez Embriagada de Hélio Pellegrino.
Rodrigo de Souza Leão, no livro Há Flores na Pele, fala de loucura. E o Carbono Pautado, também obra de Rodrigo, revela a lucidez em difíceis tempos e revela que “Nós vivemos em tempos esquizofrênicos. Muita gente tem depressão ou síndrome do pânico. É uma sociedade que está doente porque dá valor ao que não se deve: o dinheiro. O ser humano viveria muito mais se parasse com essa babaquice de querer dominar o outro.”
Em Augusta Faro, n’A Friagem, encontro contos que levam o leitor a viajar num mundo de contradições e absurdos. Segundo Stella Leonardos, “o forte do livro é a fatalidade do destino”. Augustinha, como conhecida, faz poesia e prosa em matizes que mesclam o real e o absurdo; o imaginário e o simbólico, arquitetado, direcionado e moldado pela razão, Travessia // Transpassada / trespassada / tripartida / tropeçada / truncada. / Isso lá é vida?”