AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA

“A ruína nos dá lições de vida”. Esta frase de ARS contida no texto “Conselhos durante um terremoto” inicia um dos melhores textos que já li. ARS costuma dizer que um texto ganha tantas proporções e impressões que se desprende do autor. “Conselhos durante um terremoto” é como aqueles textos bíblicos de autoria desconhecida; de tão bons que são, foram gratificados a fazer parte do famoso livro.

O escritor mineiro, Roberto Drummond, admirava o lado poético de ARS; lado este pouco conhecido pela maioria de seus leitores. ARS é notoriamente conhecido pelas crônicas expostas em grandes jornais do Brasil. Mas tais crônicas são carregadas de poesia. Tarefa, talvez, desgastante e sofrida.

Ao ler textos de Machado de Assis, percebe-se que o escritor tem um certo sentimento rancoroso em relação ao adultério. Capitu é ícone do assunto. Provavelmente esse sentimento deve ter atacado Machado antes dele conhecer Carolina. Ambos se amaram profundamente; Carolina jamais o trairia. Ou então tal sentimento ocorria a ele ao observar a maldade feminina ou ele tinha um medo que o adultério o alcançasse. Algo também percebo em textos de ARS. Este parece ter um sentimento rancoroso em relação a amizades falsas. Pessoas que se aproximam dele para superá-lo. Isso é que dá ser poeta em mundo competitivo. "No Brasil", como disse Tom Jobim, "o sucesso é uma ofensa pessoal”; isso explica o porquê de ARS viajar tanto ao exterior. Viajar é uma necessidade do escritor; mas no Brasil, nossos cérebros viajam muito! Parece que não aguentam ficar aqui.

Ler Affonso Romano de Sant'anna é como se reconstruir depois de um terremoto. Cada palavra é um tijolo que se assenta no alicerce do pensamento. Não consigo entender a ausência de ARS na academia brasileira de letras. Talvez seja melhor que não faça parte. Um lugar que tem Paulo Coelho, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso como imortais das letras, não é digna de ter uma mente como a de ARS. Que os “Marimbondos de fogo” ferroem as bundas dos pseudo-escritores, principalmente que ferrem o autor do livro “Marimbondos de fogo”.