José Sampaio, poeta sergipano
Já me referi, em outro texto, ao poeta José Sampaio, o que não me impede de tornar a reverenciá-lo, mesmo porque ele é uma das minhas primeiras leituras e influência entre os poetas sergipanos. A minha admiração por esse poeta nasceu quando eu estava aos sete anos de idade e meu pai trouxe para casa um exemplar autografado da obra Esparsos e Inéditos. Pouco tempo depois, acompanhada pela minha mãe, vi Sampaio em seu leito de morte, em Aracaju. O poeta seguiu na direção das estrelas a 4 de abril de 1956.
Para Gilfrancisco, jornalista, professor e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a bibliografia de José Sampaio é significativa para a literatura sergipana. A obra do poeta “é formada pelos títulos Nós Acendemos a Nossas Estrelas, Aracaju, Movimento Cultural de Sergipe, 1954; Obras Completas de José Sampaio, Aracaju, Livraria Regina/Movimento Cultural de Sergipe, 1956; Esparsos e Inéditos de José Sampaio, Aracaju, Nova Editora de Sergipe, 1967 e Poesia & Prosa, Aracaju, Sociedade Editorial de Sergipe, 1992”.
Ainda sobre o poeta, Gilfrancisco adianta que José de Aguiar Sampaio nasceu em Carmópolis/ SE, no dia 2 de maio do ano de 1913, “é um poeta de grandeza incontestável, que elaborou uma obra singular, requintada, extremamente rica em imagens e de vigorosa construção, referência fundamental no cenário literário sergipano. Sampaio produziu poesia como processo de iluminação ou poética iluminada pela lucidez. Sua poesia caracteriza-se por uma reafirmação da imagem, do mundo como imagem, pelo fato de ser uma poesia de significados e não de signos, uma poesia original, de profundo sentimento humano”.
Outros estudiosos se referiram a Sampaio, a exemplo de Luiz da Câmara Cascudo – in Obras Completas (de José Sampaio, p 7-8):
“José Sampaio é um poeta que distanciou a inspiração do cenário ambiental e os motivos alucinadores passam como clarões incontidos sobre o quadro nativo e poderoso de natureza inesquecida, inspiradora e divina. Minha encantada surpresa neste poeta legitimo é senti-lo capaz de erguer a grande mão criadora, não para ‘ocultar a beleza da aurora’, mas para acender com as cores de seu espírito ‘as grandes estrelas livres do céu”.
O escritor e memorialista Jackson da Silva Lima organizou (1967) a primeira coleção de ESPARSOS E INÉDITOS, de José Sampaio e, em 1993, sob o patrocínio da Fundação Augusto Franco e da Prefeitura Municipal de Carmópolis, entregue ao público sob o título de “Poesia & Prosa de José Sampaio”.
Segundo o historiador sergipano, Luís Antônio Barreto, essa coleção foi lançada em solenidade no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Faz constar ainda que críticos da literatura reconheceram o valor da obra de José Sampaio. Entre eles: Austrogésilo Santana Porto (sergipano de Capela, Delegado Fiscal do Tesouro Nacional em Sergipe, funcionário da Escola Industrial de Sergipe, membro do Partido Comunista, poeta e crítico Literário, autor de "O Realismo Social na poesia em Sergipe"), em Realismo Social na Poesia em Sergipe (Aracaju: Livraria Regina, 1960); Nunes Mendonça com o ensaio José Sampaio o homem e a mensagem (Aracaju: Separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe/Livraria Regina, 1962) “e Jackson da Silva Lima, que além de ser autor de livros e ensaios sobre a literatura sergipana, é uma espécie de curador das poesias e da prosa de José Sampaio, com vários textos introdutórios à obra sampaína”. Em outro momento, Barreto relembra que Jackson da Silva Lima, ao reunir e publicar a obra do poeta, rendia-lhe homenagem e iniciava, também
"(...) uma série de antologias, contemplando vários autores, como Artur Fortes, Fausto Cardoso, Pedro de Calasans, José Maria Gomes de Souza, José Jorge de Siqueira Filho, sem perder de vista Tobias Barreto, a quem dedicou o volume de Esparsos & Inéditos e de quem organizou as duas novas edições de Dias e Noites e o volume de Estudos de Direito III, das Obras Completas do pensador sergipano, organizadas em 1989/90. José Sampaio e Santo Souza foram, sempre, duas de suas preferências, como um gesto inarredável de fidelidade, que representa o senso crítico apurado, na melhor exegese das obras dos dois poetas”.
Quem homenageia poetas, tem que incluir poemas, pois a obra é que os eterniza e foi a sua razão maior, a demonstração do talento e da sensibilidade, a escultura ou a pintura que alcançou realizar com a materialidade da palavra. José Sampaio foi chamado de o poeta dos humildes e, ainda, o poeta das estrelas. Fervilha em seus versos o desmedido amor aos meninos de rua, aos indivíduos comuns, à causa social. O poeta criou suas paisagens no ambiente da noite cuja beleza e tesouro são as estrelas. Também amou fervorosamente a manifestação pura e simples da linguagem do povo, como no poema de versos livres intitulado As ruas:
A palavra precisa ser simples,
como água,
ao alcance de qualquer ouvido.
Do ouvido das ruas,
porque as ruas possuem a maior força
e não chega uma voz despertando.
Mas quando as coisas foram ditas
na linguagem simples do povo,
as ruas não suarão tanto, inutilmente.
(1942)
Em Sarjeta, a voz doce e comovida de José Sampaio nos dá a dimensão da magnitude e humanidade da sua poesia, da profundidade quase sagrada do seu olhar de poeta:
Eu olhei muito a sarjeta,
a água correndo mansa e clara,
sorrindo no cristal dos caracóis.
Mas, eu vi lá no fundo
a tristeza do lodo
cobrindo o chão de luto.
E me lembrei tanto da humanidade.
Por que é que não limparam
o fundo das sarjetas?
(1936)
REFERÊNCIAS
GILFRANCISCO. Escultura Poeta José Sampaio. Disponível em: <http://www.ivogato.com.br/fibra-de-vidro/esculturas/poeta-jose-sampaio.html> Acesso em agosto de 2013
BARRETO, Luís Antônio. José Sampaio - O poeta dos humildes. Disponível em: < http://www.infonet.com.br/luisantoniobarreto/ler.asp?id=46328> Acesso em agosto de 2013.
CARVALHO, Jorge Lins de. Austrogésilo Santana Porto.
Disponível em: <http://www.educar-se.com/v3/index.php/personalidades/647-austrogesilo-santana-porto > Acesso em agosto de 2013.
BARRETO, Luís Antônio. Um escritor e sua obra. Disponível em: <http://istoesergipe.blogspot.com.br/2013/07/jackson-da-silva-lima-um-escritor-e-sua.html> Acesso em agosto de 2013.