EU VIVO EM QUAL MUNDO?
Eu vivo em qual mundo ao imaginar que posso ficar livre para ler quando e o que quiser? É questão de saciedade que começa quando observo a capa do livro. É preciso acreditar e me sentir melhor quando o livro é mais um benefício a favor da minha saciedade. Por outro lado, diante de tantas obras diversificadas tenho certeza de que me satisfaço ao ler poesia. Carlos Pessoa Rosa escreveu, “... o poeta / vê no voo da borboleta //... a possibilidade de dar asas / ao poema.”
Além de revolver a imaginação com a poesia, me adapto às palavras e fico pronta para viver as minhas vontades. Quer saber mais? Os poetas alimentam os sentimentos e percebo que existe vida em tudo que escrevem. É natural escolher o que vou ou não ler. A questão é que, quando estou cara a cara com a poesia, consigo “ver” o que está no fundo da alma, limitar e respeitar o meu próprio ritmo? E, apesar de não ter tempo livre, é infinitamente recompensador vivenciá-la na expectativa de que algo de bom aconteça ou está por vir, mesmo que seja algo subjetivo e irreal, como as pedras.
Quero dizer, as pedras existem, mas os poetas dão significado especial, tentam mostrar respostas, como em Carlos Drummond de Andrade, “No meio do caminho tinha uma pedra...”, ou em Donizete Galvão que escreveu ”Do Silêncio da Pedra //... Quem não percebe na pedra, / fragmento de cordão umbilical, / o despojo deixado pelos deuses / na luta que inaugura a geografia?...”; ou como a imagem de Octavio Paz, “Como as pedras do Princípio / Como o princípio da Pedra / Como no Princípio pedra contra pedra”; ou Pedro Du Bois, em “A Pedra Descortinada”, que mostra os desafios e as mudanças do tempo; ou em Manoel de Barros, o grande poeta de pequenas coisas, que descreve “a pedra com rabo – uma lesma sobre a pedra”. Esse toque da natureza quem sempre reflete é o poeta que nos mostra o que está sentindo no momento da criação.
O homem ao sonhar (acordado) busca transformar seu sonho em palavras, dando sentido à vida. Não basta ter ideias, tem que as transmudar, com ousadia, em realidade. Segundo Lise M. R. Fank, “... é tempo de tempo / que o sonho ainda existe / e que a vida é roda do mundo a girar.” e, “Nos processos dos seus sonhos, o homem se exercita para a vida futuro.”, como encontramos em Nietzsche.
Defendo que a ideia é uma das formas de romancear o mundo e serve de exercício para a vida literária. O charme da vida está na liberdade de ler em grande estilo as várias obras de tantos autores. Esse o mundo no qual eu quero viver: o da imaginação.