Um Poeta Chamado Benjamin Zephaniah
Um Poeta Chamado BENJAMIN ZEPHANIAH
“ All people are people
And as far as I can see
You´re all related to me
That´s why I say that
All people are equal”
( in We are Britain )
(“ Todas as pessoas são pessoas
E até aonde eu alcanço ver
Todos se relacionam a mim
É por isso que eu ouso dizer
Todas as pessoas são iguais”)
Tradução livre minha
O Brasil recebeu em 2006 a grata visita do artista Benjamin Zephaniah, cuja apresentação na 5ª Feira Internacional de Literatura de Paraty foi considerada entre as três melhores pela grande maioria dos participantes. Com certeza, vale a pena conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra deste inovador e fervoroso poeta.
Benjamin Obadiah Iqbal Zephaniah, britânico, natural de Handsworth, Birmingham, de ascendência familiar jamaicana,é poeta, romancista,dramaturgo, DJ, artista performático.
Sua obra apresenta forte influência da música e poesia jamaicanas e entre os seus principais títulos detacam-se sete livos para adultos ( Refugee Boy, Too Black Too Strong, Face,
City Psalms, Gangsta Rap, Propapropaganda ), sete peças teatrais, quatro livros para crianças ( Talking Turkeys, Funny Chickens, We are Britain ), álbuns ( Wicked World , The Shelley story) e Vídeos.
Pensamento e motivação do poeta
Poeta altamente engajado com as questões sociais, Benjamin retrata em sua obra, tanto vivências pessoais suas,quanto as lutas diárias de negros e marginalizados na Grã-Bretanha. Como artista que não quer se calar, escreve sobre a urgência de comprometimento com a justiça social:
“ I wanted to reach more people so at the age of 22 I headed South to London
where Page One book s published my first book Pen Rhythm . My mission was
to take poetry everywhere and I was able to do this through performing my
poems directly to the people.”
( “ Eu queria alcançar mais e mais pessoas, portanto, aos vinte e dois anos, eu rumei para Londres, onde meu primeiro livro foi publicado. Minha missão era levar a poesia a todos os lugares, o que eu era capaz de realizar apresentando meus poemas em performances diretamente para o público.’)
No livro Too Black , too strong , ele declara sua missão: Conviver e integrar-se com seu país natal e o mundo a fim de explorar e expressar o estado de justiça em ambos os casos. Os poemas refletem o que ele sente, e quanto mais ele viaja, mais ama seu país, razão pela qual luta veementemente por seus direitos, como rastafári irritado, iletrado, analfabeto, mas com oportunidade de representar seu país. Seus poemas, muitas vezes de tom cômico ou engraçado, revelam sempre uma mensagem seria a cerca de questões como o racismo, direitos dos animais, meio ambiente e poluição, luta por igualdades sociais.
(“ I live in two places, Britain and the world, and it is my duty to explore and express the state of justice in both of them... These poems are about how I feel now…
The more I travel, the more I love Britain and it is because I love the place that I fight
for my rights. It is probably one of the only places that could take an angry, illiterate,
uneducated rebellious Rastafarian and give him the opportunity to represent his country… I wanted to “project” to work. The day will come when we move from the margins and come to the centre; I just want it to be today.”
“ I try to write poems that are fun but they should also have a serious message : concerned about racism, animal rights, pollution and I have always believed boys and girls should be treated equally.”)
O poema The Death of Joy Gardner, transcrito a seguir, ilustra muito bem a temática do racismo, preconceito e exclusão social na Grã-Bretanha e permite excelente paralelo com a discussão sobre a morte do brasileiro Jean assassinado no Metrô pela polícia britânica.
The death of Joy Gardner
They put a leather belt around her
13 feet of tape and bound her
Handcuffs to secure her
And only God knows what else,
She´s illegal, so deport her
Said the Empire that brought her
She died
Nobody killed her
And she never killed herself.
It is our job to make her
Return to Jamaica
Said the Alien Deporters
Who deports people like me.
It was said she had a warning
That the officers were calling
On that deadly July morning
As her young son watched TV
( Do livro Propapropaganda, publicação de Bloodaxe Book )
Além da temática de forte crítica social, a obra de Benjamin também se caracteriza pelo trabalho peculiar com a linguagem, representando também através de sua grafia a voz dos oprimidos:
WHITE COMMEDY
I waz whitemailed
By a white witch,
Wid white magic
An white lies
Branded by a white sheep
I slaved as a whitesmith
Near a whitespot
Where I suffered white water fever
Whitelisted as a white leg
I waz in de white book
As a matter of white art,
It waz like white death.
Embora disléxico,Benjamin possui excelente memória e sabe a Bíblia e o Alcorão decorados. Quando ainda criança, Benjamin acompanhava sua mãe rezando constantemente em casa.
Seu primeiro contato com a literatura também advém da poesia falada que ouvia de sua mãe iniciando, assim, seus experimentos com a rima.
Conforme declaração dada na Feira de Parati, na Grã-Bretanha, o termo poesia é associado pelos negros ao homem branco. Os negros simplesmente evitam a palavra poesia. Os negros raramente lêem livros. Negros ou fazem performances ou assistem poesia performática em clubes. Desde cedo, Benjamin tinha poesia e as obras n a sua mente e não nos livros. Portanto, julga-se um autor de poesia oral, pois a tradição oral é atemporal. Considera suas melhoras obras os raps, músicas e vídeos de poesia performática, como Rong Radio Touch, do qual citamos a obra que se segue :
De rong song
Your house is
Falling down
Around
Your
Feet,
And you got
Nought
To eat,
Don´t worry
Be happy
( Sua casa está
Se desmoronando
Em volta
De seus
Pés
E você não tem
Nada
Para comer
Não se preocupe
Fique feliz)
Benjamin sentiu na própria pele as hostilidades por ser negro, tendo, desde criança, que lidar com perguntas do tipo “ Por que você não volta para a selva?” Assim, aprendeu logo a tomar posições politizadas e sempre questionava as razões das injustiças sociais. Suas principais perguntas quando criança eram :
Qual é o significado de escravidão?
Qual é o significado de pobreza?
Qual é o significado de fome?
Benjamin tem dedicação especial às crianças. Escreveu poemas sobre 12 crianças de diversos pontos da Grã-Bretanha e de todos os contextos sociais. Seguem-se dois exemplos de sua obra destinada ao público infantil e que põem ser utilizados no ensino fundamental com nossos alunos :
Funny Chickens
A funky chicken ate my corn
But I really don´t mind
My funky friend eats my dinner
Every time I dine.
( do livro Funky Chickens )
His parents feed him rice and peas
And fancy looking greens
Sometimes they give him nuts and seeds
And various string beans
They also give him chana dhal
Tomato soup and pike
But Jaguar just says loud and clear
“It´s pizza that I like”.
( do livro We are Britain )
Quando jovem, Benjamin foi expulso da escola e acabou, como muitos jovens negros britânicos, preso. A poesia foi o que o salvou durante os dias na prisão. Segundo o poeta, crianças negras são frequentemente excluídas dos estudos na Inglaterra, por serem “ jovens criativos que simplesmente não se encaixam nos modelos tradicionais brancos”. Benjamin não acha que o sistema de quotas para negros seja a solução m ais apropriada e cita ironicamente em sua palestra na FLIP que “ um bom exemplo o que uma educação de brancos pode fazer a um negro é Condolessa Raisse”.
Em suma, o trabalho de Benjamin Zephaniah é marcado por relatos de sua própria experiência de vida e de seu convívio com pessoas que sofrem ou sofreram preconceitos e discriminações. Acima de tudo, sua obra é um grito fervoroso por justiça e uma profunda crítica social. Antes de escrever um romance, ele convive com pessoas que passaram, de fato, pelos problemas narrados, como o dos refugiados e deportados descritos em Refugee Boy. Outro bom exemplo de seus romances é Gangsta Rap, publicado pela Boomberry Publisher , cujo resumo da última capa reproduzimos aqui como sugestão para reflexão e possível elaboração de trabalho com nossos alunos do ensino médio :
“Ray has given up school. He sees no point in education and despises authority. And then he has no choice about school as he is excluded. But Ray also has troubles at home, which means he has nowhere to stay and ends up sleeping in the local record shop, owned by his friend Marga Man. Ray and his friend attend a Social Exclusion Project , which means they can develop their music skills.Marga Man gets a record deal fro them, and they become local heroes. But another rap band takes a dislike to Ray´s music and gang warfare is the result…Based on Benjamin´s own troubled experience of school and the music business, his passionate, immediate voice will appeal o all his fans.”
Os dados apresentados neste artigo foram pesquisados e selecionados pela professora Carmem Teresa Elias. Os depoimentos pessoais foram retirados das declarações do próprio autor na Feira Internacional de Literatura de Paraty em 2006 e de seu site. Para maiores informações ou seleção de textos acesse www.benjaminzephaniah.com