VAIDADE E AUTOESTIMA

Não se pode fazer 'tabula rasa' em relação ao criador literário – se vaidoso ou singelo – porque segundo a minha ótica peculiar, quem escreve não é o ego, e, sim o alter ego. E este, pelo mistério implícito da psique, pode ou não ter exacerbada autoestima, o que, neste caso, compromete vivamente o texto. O “fingidor” é apenas aquele que não imprime veracidade em sua lavratura, especialmente em Poética. Charles Bukowski, na quase totalidade de sua obra, implica em (por vezes com uma linguagem pornográfica) dar uma bofetada na sociedade americana contemporânea... Porém, a sua verdade está presente. O similar ocorre com Baudelaire, em França, e Allen Ginsberg e Henri Müller, que atacam a sociedade yankee e o ‘american way of life’, por capitalista, hipócrita, sem identidade que não a do dinheiro. Volto a afirmar que a vaidade é para os viventes do lugar comum da vida – os que se contentam com o simples viver. Percebo, nos criadores, a ânsia do reconhecimento de sua obra artística e intelectual, com suas profundas e imediatas frustrações. Não reconheço como tal esta manifestação tão plenamente humana, e a coloco noutro plano, inserida no composto psicológico da AUTOESTIMA – a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma – e não propriamente a rasa vaidade de quem se apresenta como orgulhoso, soberbo por concepção, provavelmente a fim de vencer o complexo de inferioridade frente ao semelhante...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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