Helen Keller – Um Exemplo de Superação (Artigo publicado no jornal "O Mossoroense" em 24/08/2011)
“Acabei de tocar meu cachorro. Ele estava rolando na grama, mostrando prazer em cada músculo e membro. Queria capturar uma foto dele em meus dedos e eu o toquei tão levemente como o faria com teias de aranha... ele se apoiou contra mim como se sentisse prazer em comprimir-se contra minha mão. Deixava claro com sua cauda, sua pata, sua língua que adorava isso. Se pudesse falar acredito que diria, junto comigo, que o paraíso pode ser alcançado com o toque” (p. 3-4).
Assim inicia Helen Keller o livro O Mundo Em Que Vivo. Esta grande mulher provou ao mundo que não existem obstáculos para alguém que ousa sonhar além das limitações humanas e que acreditar em si mesmo pode tornar o impossível algo não somente atingível como também prazeroso. Helen nasceu saudável no dia 27 de junho de 1880 em Tuscumbia, Alabama nos Estados Unidos. Aos 19 meses de vida teve uma doença, que lhe privou da visão e audição, consequentemente da fala. Foi diagnosticada na época como febre cerebral, acredita-se hoje que se tratava de escarlatina.
Quando Helen estava por volta dos 7 anos de idade seus pais resolveram contratar alguém para auxiliá-la, pois a menina era inquieta e violenta. A escolhida foi uma jovem chamada Anne Sullivan que havia estudado na Escola Perkins para Cegos (Perkins School for the Blind) pois havia sido cega na infância, recuperando a visão na adolescência através de cirurgias. Anne começou seu trabalho soletrando algumas palavras simples na mão de Helen através do alfabeto manual para cegos. No começo a menina aprendeu a soletrar algumas palavras, porém não compreendia o que isso realmente significava.
Durante um passeio pela fazenda onde moravam, Anne estava bombeando água em uma caneca segurada por Helen quando colocou a mão da menina em baixo da água fria e soletrou em seguida a palavra água. Essa foi a primeira vez que Helen compreendeu que aqueles símbolos que Anne soletrava em suas mãos significavam os nomes das coisas. A menina ficou extasiada, deixou cair a caneca e soletrou na mão de Anne a palavra água. Esta por sua vez colocou a mão de Helen em seu rosto e balançou a cabeça que sim. Helen saiu correndo pelo jardim, tocando as árvores, o solo, as flores e tudo o mais que encontrava pela frente e pedia a Anne que soletrasse seus nomes para ela. A vida da pequena Helen mudou radicalmente depois disso.
“Seria difícil encontrar uma criança mais feliz do que estava quando deitei em minha cama no final daquele dia cheio de eventos e tivesse vivido as alegrias que ele me trouxe, e pela primeira vez na vida, desejei que um novo dia chegasse” (A História de Minha Vida, p. 16).
Quando estava entre pessoas conversando, Helen prestava atenção em como suas bocas abriam e fechavam e seus pescoços tremiam e que havia intervalos entre uma pessoa e outra quando isso acontecia. Ela perguntou a Anne o que era aquilo e a jovem lhe explicou que se tratava da fala. Em 1890 Helen pediu a Anne que lhe ensinasse a falar e aos poucos, tocando a boca, a língua e a garganta da professora, a menina começou a emitir alguns sons, algumas palavras. Ao final da décima primeira lição ela fez uma surpresa a Anne dizendo em voz alta: “Eu não sou mais muda” e aos 10 anos de idade Helen Keller já podia falar e ser compreendida. Sua paixão pela aprendizagem conduziu Helen à escola e posteriormente à faculdade, se formando bacharel em Filosofia pela Universidade Radcliffe em 1904. Além das aulas na universidade, Helen aprendeu a falar francês, latim e alemão.
“O que muitas crianças pensam com medo, como doloroso, pesado sobre a gramática, somas difíceis e definições, é hoje uma de minhas memórias mais preciosas” (A História de Minha Vida, p. 21).
Seguindo os conselhos de seu amigo Alexander Graham Bell, Helen começou a escrever na juventude e antes de se formar já havia publicado seu primeiro livro, uma autobiografia intitulada: “The Story of My Life” (A História de Minha Vida). Entre seus muitos livros estão em destaque: “Otimismo – um ensaio”, “A Canção do Muro de Pedra”, “O Mundo Em Que Vivo”, “Lutando Contra as Trevas (Minha Professora Anne Sullivan Macy)”, “Paz no Crepúsculo”, “A Porta Aberta”.
Durante sua vida, Helen Keller lutou pela igualdade e inspirou pessoas com limitações físicas no mundo todo. Viajou por 35 países nos cinco continentes dando palestras e realizando trabalhos para cegos. Recebeu inúmeros prêmios, entre eles, foi feita Cavaleiro da Legião de Honra da França; recebeu o Prêmio das Américas para a União Interamericana; o Prêmio Medalha de Ouro do Instituto Nacional de Ciências Sociais; foi eleita Conselheira em Relações Internacionais; além das seguintes condecorações: Ordem do Cruzeiro do Sul, no Brasil; do Tesouro Sagrado, no Japão; do Coração de Ouro e Medalha de Ouro de Mérito. No qüinquagésimo aniversário de sua graduação, a Universidade Radcliffe outorgou-lhe o Prêmio Destaque a Aluno e uma grande honraria foi também concedida a Helen em 1954, quando seu local de nascimento, Ivy Green, em Tuscumbia foi transformado em um museu permanente. Um filme sobre ela, baseado no livro “A História de Minha Vida” intitulado “The Miracle Worker (O Milagre de Anne Sullivan)” foi lançado em 1962 nos Estados Unidos.
Helen Keller morreu no dia primeiro de junho de 1968, aos 87 anos deixando no mundo a marca de uma mulher extraordinária. Seus livros foram publicados em diversas línguas e sua história de vida é contada e estudada até hoje. O que Helen escreveu vai além da literatura ou da percepção humana. Ela deve ser lembrada como um exemplo fascinante do que a vontade de viver é capaz de construir em alguém que tem a coragem de lutar. Quanto mais obstáculos surgiam em seu caminho, mais força ela criava e mais alto subia.
Não se pode deixar de prestigiar a ilustre professora Anne Sullivan. É difícil dizer quem teve o peso maior na aprendizagem de Helen, se foi sua inteligência ou o carinho, paciência e interesse de Anne em ajudá-la a aprender. O caso de Helen Keller demonstra que o princípio da superação humana reside na vontade de fazer acontecer aquilo que se tem vontade.
“Nunca se pode concordar em rastejar, quando se sente o ímpeto de voar.” (Helen Keller)