EM PELE E OSSO: CARTA AO BRASIL
“I
Te escrevo Brasil / com o osso / mais velho / que te sustentou.
II
Te escrevo / no olho da luz / antes da primeira / fome / com a fome / de tua boca...
VI
Te escrevo / com o berro / de qualquer coisa / com o coice / que devastou no ar /
perseguição da palavra / para tamanha / falta de vida
VIII
Te escrevo / com o couro / aninhado / na balas / com a bala / fugida / da ignorância /
com o estouro / dos miolos
IX
Te escrevo / com o sol / esvaziado sobre os ossos / com a corda / do soluço
XIV
Te escrevo / porque somos / tua própria / geografia
XV
Te escrevo / porque ardemos / nas veias / de tua / indecisão
XVI
Te escrevo / porque / já não és / um gemido / de mundo / mas o próprio / mundo /
a apalpar-se / em nós."
Carta ao Brasil é um poema do grande escritor Armindo Trevisan, contido no livro "Em Pele e Osso". Nesse poema o poeta fabrica a pele do impossível aonde vai costurando a língua e a poesia e depois, ponto por ponto, a transforma em pele maior para ser engolido pelo mundo. Deixa o presente e o futuro na pele da liberdade. E diz que "o poeta nasce para fabricar a pele."
Em Pele e Osso, a Carta ao Brasil mostra todo o luxo de uma poesia que deixa o homem nu em sua polidez, na cama, nos escritos, no louvor e na luz: "Perder a pele / para o poeta / é fado / o poeta anda sem pele"
Armindo Trevisan é escritor que valoriza o neologismo sem medo de levar a ideia até o fim. É poeta do deslumbramento e da sabedoria da vida: "desencaderna livros que deixa o presente / antes do futuro".
Seus poemas são impulsivos, eróticos e um dos principais elementos desse mundo poético é o corpo. Sua inventividade verbal é a maneira como o poeta vê o futuro ao qual aspira, sempre através da grandeza da sua poesia social.
Segundo Maria T. L. Martinez, "a poesia de Armindo Trevisan é um caminho de busca da palavra e da transcendência do ser, e, às vezes, um tom de exultante canto à existência".
Dante Milano, conclui: "Louvo em Trevisan a complexidade de seu pensamento-sentimento e a capacidade de se entregar a si mesmo sem lembrar ninguém... Poeta, para mim, é aquele que faz da sua Poesia a sua Verdade."