MEDO DE TER MEDO

“A cada novo dia, / a vida me oferece / o tesouro das horas, / inteiramente minhas.”

(Helena Kolody)

Medo de ter medo, de estar desprovido de idéias, de recorrer ao velho hábito de ligar a televisão e assistir sem participar. De não ter e nem ouvir a melhor história de todos os tempos, em troca da TV. De não compartilhar nada de agradável a quem poderá me fazer companhia.

Luiz Coronel alerta que “A TV / é a vida / em máscaras contidas. // A TV / é uma metralhadora giratória / A câmara dispara imagens, estórias... // A TV / é a verdade entre aspas.”

Medo de ter medo de ser condicionado pela imagem e pelas palavras; e permanecer estático ante o ilusório, sem atenção e fascinado pela própria obsessão, não percebendo que esse hábito se transforma em solidão, como em Pedro Du Bois: “... Sem futuro //... sós / sozinhos / isolados / indeterminados // não desligamos a televisão.” “Nem mais um sussurro... / apenas a televisão ligada / e mãos nervosas trocando de canal, trocando de canal.”

Medo de ser um jogo alucinatório – de um canal para o outro – desencadeando sentidos que possam cobrir a razão. Rubens Rodrigues Toner Filho atesta que “cada gesto novo é o seu silêncio”. E Álvaro Pacheco ressalta, “No espelho / as imagens da noite / e, por trás delas, / a televisão: //... a concupiscência exata / atrás do espelho / que se esconde da noite / na televisão.”

Medo de ter medo de não saber aproveitar o tempo com as obras que os escritores oferecem para conhecer o medo através da arte e da literatura. E de reconhecer uma paisagem apenas pela televisão. E assim, se tornar um consumidor com carência para o bem viver; como na visão de Arnaldo Massari, “... O cultural e a cultura estão nos sebos. Contudo, na casa de cada um, a TV aberta ensebando ao que existe de pior...”.

De que perdidos gestos onde me alheio, encontro argumento para desvendar o medo de ter medo?