1ª FESTA LITERARIA DO CCJ (SP) - NOITE 3
A partir do momento em que me despedi do poeta Mano Cákis, na estação Guaianases, um filme longo e bem caracterizado passou pela minha memória. Finalizávamos ali, naquele momento, um tributo à vida, à arte do bem ser. A 1ª Feira Literária do Centro Cultural da Juventude (CCJ) Ruth Cardoso, tinha acabado. Mas os três eventos que protagonizamos desde sexta até hoje foi (é), antes de tudo, um start, uma mola de propulsão violenta, que nos alçou ao encontro de muita gente que desconhecíamos mas que, a partir de agora, tornam-se novos parceiros na produção e militância artística e cultural. Muitos ali eu já ouvira falar, e outros (inclusive o sempre bem humorado Cákis), eu já encontrara em algum sarau da vida. Agora somos todos manos, parceiros e, principalmente, amigos.
A festa, neste domingo, foi um evento atípico. Ao contrário dos outros dias, dessa vez nem a chuva tirou o brilho do encontro. E sequer afastou o público, que poderia ser maior - claro! - mas mesmo assim compareceu em bom número. O início, logo no início da tarde, foi um microfone aberto com declamação de poemas diversos, seguido da apresentação musical do grupo Odisseia das Flores (Letícia, Jô e Chai), que estava lançando o livro Perifeminas, uma coletânea de poemas com a participação de 63 mulheres. O grupo fez um belo show, prendendo a atenção de todos.
Após isso, foi a vez da simpática Vanessa Soares fazer uma bela performance corporal, intercalando leitura de poemas com uma dança leve, sensual e expressiva. ela voltaria a atuar mais tarde, durante o coquetel do fim, em um carismático flerte com o público presente.
Ainda dentro da proposta da Feira, o 1º Seminário de Literatura da Periferia trouxe como tema do dia "Estética - entre as Frestas da Forma: Rachaduras e Horizontes", com Cidinha da Silva (MG) e Érica Peçanha (SP), mediadas por Michel Yakini (Sarau Elo da Corrente, SP). Foi mais um acerto providencial na construção de soluções que buscam fomentar a produção literária em todos os rincões periféricos.
E já que estamos falando de acertos, fecho com mais três informes que foram a cereja do bolo dessa festa encerrada neste domingo. 1) A ideia da Fernanda de Aragão (que trouxe para o evento seu livro Língua Crônica, e a inspirada instalação Diz-Quetes, com micropoemas fixados nas faces dos antiquados disquetes de antigamente), de lançar um zine com o pessoal que estava expondo seus trabalhos na Feira, e que contou com o auxílio primoroso da eterna zineira Thina Curtis, chegou ao seu momento de glória quando o trabalho foi entregue, hoje, nas mãos dos participantes. Ficou muito bem feito, com aquela cara típica dos áureos anos 80.
2) A Amanda e sua equipe são o desprendimento e a simpatia em pessoa. Vivemos nestes três dias um oásis de companheirismo e proatividade, quase uma fantasia, se pensarmos que estávamos usando um espaço público. 3) O coquetel de saidêra, nossa!, que maravilha. As iguarias, bebidas, tudo estava nos trinques, outro detalhe do paraíso presente nesse domingão. Este elogio, na verdade meio que complementa o elogio do item anterior.
E se alguém perguntar "não tem nenhuma crítica?", vou logo afirmando: "tenho, de monte". Uma delas, por exemplo, é sobre a falta de público. Sabemos que não podemos culpabilizar apenas a chuva, que foi nossa companheira mais assídua. Nós (ainda) não "arrastamos" público, mas quem veio, como veio e quando veio, com as propostas que todos trouxeram, com certeza não se arrependeu, antes, teve acesso ao biscoito fino de uma produção que a "mídia oficial" não consegue mais esconder. Os embates de ideias e os debates no infinitivo das proposições, foram muito ricos, intensos e extensos. Com certeza, ainda vamos colher muitos louros dessa vivência de 72 horas.
E agora, mais não critico. Caso ache pertinente, comento alguma coisa ao pé do ouvido com quem se propôs a essa entourage contra o óbvio, a ziquizêra, a reclamação e a anemia cultural. A todos esses guerreiros rendo loas, esperando que o próximo evento esteja bem próximo, já!