Seis histórias de bem contar a Vida, o Tempo, o Amor e a Morte
Antônio Mariano
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Archidy Picado Filho é um artista que transita com desenvoltura pelo campo da Música, das artes visuais – tendo começado com a produção de Histórias em Quadrinhos – e da Literatura. Nesta última, alguns registros merecem nota, a começar por suas publicações no suplemento Correio das Artes, do jornal A UNIÃO, que datam de mais de duas décadas.
Entre as obras publicadas anteriormente, Archidy publicou Lições de Voo 1 e 2 (1995), com três edições, podendo também ser encontrados seus livros A última historia de Batman (1995?), assinado com o pseudônimo de “Andryus Tzappak”, Janelas da Alma (2001) e A Maquina da Felicidade e o Cromossomo Zen (2003).
Seis breves histórias sobre a Vida, o Tempo, o Amor e a Morte, sua produção literária no âmbito do Conto, perfaz um conjunto de narrativas bem escritas e contadas com poder de sedução do leitor – o que deveria ser regra entre os predicados de um escritor, embora nem sempre coincidam nas inúmeras ocorrências da literatura universal. Mas, nas Seis breves histórias... o autor logra construir atmosferas envolventes da primeira as última linhas.
Apesar de alguns nomes que nos representam bem lá fora, a literatura contemporânea local carece ainda de bons narradores, como é o desta obra publicada após concorrer ao Edital Novos Escritos, promovido pela Fundação Cultural de João Pessoa (FUNJOPE), em 2007.
Como aconteceu com os vencedores da versão anterior (2006), a obra saiu no formato 2 em 1, tendo do lado oposto do livro de Archidy outro escritor contemplado, o poeta Jairo Cezar com sua coletânea de poemas Escritos no ônibus.
Embora em seu livro Archidy se mostre pouco no prólogo dispensável (em que, inclusive, se declara um total desambicioso de construir uma obra que se destaque em termos de inovação e reconhecimento por algum primor artístico), da leitura destas peças o leitor de narrativa de ficção vai se convencer que está diante de um bom contador de histórias, que sabe conduzi-las e desfechá-las sem artificialismos dispensáveis.
Em suas narrativas, Archidy Picado Filho encontrou o tônus necessário a prender a atenção do leitor. Seja em “Liberdade condicional” e “A máquina do tempo”, na esteira da ficção científica, seja em “O fantasma” e “Orgasmo”, seguindo a linha da literatura fantástica, ou em “A última história de amor” e “A conversão” onde, além do fantástico, também se misturam sua verve “mística”.
Reportando-me especialmente a “Orgasmo”, conto de que não gostei quando da análise da obra no Edital da Funjope (para indicá-la ou não à publicação), a nova leitura que fiz me desarmou sobremaneira. Claro: há ainda algo formatado das velhas histórias das revistas eróticas, mas há também a destreza do escritor, que não abre mão do lirismo, principalmente quando almeja o maravilhoso, como este trecho que cito aqui:
Ela se deitou.
- Vem cá, vem cá – pediu
Ele foi.
Lentamente, o homem deitou-se sobre ela, como se deitasse sobre um jardim de flores silvestres, os olhos brilhando como duas estrelas na iminência de explodir no vazio”. (p. 71)
E depois do orgasmo, quando os amantes se transformam em luz e se dispersam na natureza:
Mas, naquela cidade distante de qualquer lugar, ninguém viu quando milhares de formas luminosas, como pedaços de um imenso arco-íris, semelhantes a pequenos fragmentos de cristais multicores, saíram voando através da janela do quarto de Helena em direção ao céu (p. 74).
Se aqui uso o recurso de extrair da peça de que menos gostei uma mostra da arte de bem escrever, em que Archidy Picado Filho obtém êxito considerável, é para que tome o leitor como razão de incentivo para ler suas outras narrativas, bem melhor realizadas literariamente.
Seis breves histórias sobre a Vida, o Tempo, o Amor e a Morte é a obra responsável por inserir Archidy Picado Filho no rol dos narradores paraibanos contemporâneos, dignos de leitura renovada, a exemplo de Maria José Limeira, Geraldo Maciel, Aldo Lopes de Araújo, Ronaldo Monte, Tarcísio Pereira, Maria Valéria Rezende, Mercedes Cavalcanti, Wellington Pereira, Marília Arnaud, Rinaldo de Fernandes e W.J. Solha, entre outros não menos merecedores de referência.
É chegar junto e conferir a arte deste escritor que, com o título em apreço, nos chega também com o aval de Maria Valéria Rezende e Ronaldo Monte, já lembrados acima como autores dignos da generosa atenção e do justo apreço do leitor.