NARRATIVA INTIMISTA
Nem sempre a introspecção romanesca mergulha nas zonas do sonho e do irreal. Pode deter-se na memória da infância ou fixar-se em estados de alma inerentes ao indivíduo. À literatura visionária contrapôs Jung à literatura psicológica, inclinada à minuciosa marcação da consciência, atenta ao verossímil e próxima dos modelos já clássicos, de realismo interior. Machado de Assis é nosso grande exemplo que, por sua vez, insistiu na descrição das faixas “crepusculares” da alma humana, abrindo caminho para conversão do realismo ao super-realismo.
Romances de educação sentimental são O Amanuense Belmiro e Abdias, de Cyro dos Anjos. Em ambos o escritor mineiro narra, em primeira pessoa, menos a vida que as suas ressonâncias na alma de homens voltados para si mesmos, refratários à ação, flutuantes entre o desejo e a inércia, entre a veleidade e a melancolia da impotência.
O diário é a estrutura latente desse tipo de narração. E o enredo tende a perder os contornos, as divisões nítidas, e a diluir-se no fluxo da memória que vai evoluindo os acontecimentos.
Para configurar essa realidade aparentemente em mudança, mas, no fundo, estática e repetitiva, Cyro dos Anjos não privilegiou monólogo interior: preferiu trabalhar com os recursos tradicionais de diálogo do relato irônico, da análise sentimental; processos a que se ajusta com perfeição a prosa que ele elegeu para toda a sua obra: de elegância simples e clássica. A condição de memorialistas que se imprime desde O Amanuense Belmiro, trouxe-o enfim de volta à crônica da infância que são as suas estimáveis Explorações no tempo.
Outros prosadores se cruzam na linha narrativa intimista, onde Clarice Lispector se avulta. Na esteira do realismo/naturalismo pode-se observar a visão crítica, analítica de Machado de Assis pormenorizando perfis psicológicos na individualização de personagens, e, noutra vertente, Aluísio Azevedo dissecando traços naturalistas em determinado ambiente, numa análise do comportamento coletivo. Mas estes são opostos que se analisam paralelamente e que, de algum modo, têm a ver com a narrativa intimista de Cyro.
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Nem sempre a introspecção romanesca mergulha nas zonas do sonho e do irreal. Pode deter-se na memória da infância ou fixar-se em estados de alma inerentes ao indivíduo. À literatura visionária contrapôs Jung à literatura psicológica, inclinada à minuciosa marcação da consciência, atenta ao verossímil e próxima dos modelos já clássicos, de realismo interior. Machado de Assis é nosso grande exemplo que, por sua vez, insistiu na descrição das faixas “crepusculares” da alma humana, abrindo caminho para conversão do realismo ao super-realismo.
Romances de educação sentimental são O Amanuense Belmiro e Abdias, de Cyro dos Anjos. Em ambos o escritor mineiro narra, em primeira pessoa, menos a vida que as suas ressonâncias na alma de homens voltados para si mesmos, refratários à ação, flutuantes entre o desejo e a inércia, entre a veleidade e a melancolia da impotência.
O diário é a estrutura latente desse tipo de narração. E o enredo tende a perder os contornos, as divisões nítidas, e a diluir-se no fluxo da memória que vai evoluindo os acontecimentos.
Para configurar essa realidade aparentemente em mudança, mas, no fundo, estática e repetitiva, Cyro dos Anjos não privilegiou monólogo interior: preferiu trabalhar com os recursos tradicionais de diálogo do relato irônico, da análise sentimental; processos a que se ajusta com perfeição a prosa que ele elegeu para toda a sua obra: de elegância simples e clássica. A condição de memorialistas que se imprime desde O Amanuense Belmiro, trouxe-o enfim de volta à crônica da infância que são as suas estimáveis Explorações no tempo.
Outros prosadores se cruzam na linha narrativa intimista, onde Clarice Lispector se avulta. Na esteira do realismo/naturalismo pode-se observar a visão crítica, analítica de Machado de Assis pormenorizando perfis psicológicos na individualização de personagens, e, noutra vertente, Aluísio Azevedo dissecando traços naturalistas em determinado ambiente, numa análise do comportamento coletivo. Mas estes são opostos que se analisam paralelamente e que, de algum modo, têm a ver com a narrativa intimista de Cyro.
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