“LIXO REVOLVIDO”

Existe sentimento mais importante do que o de preservar a natureza? Você gostaria de ser o responsável pelo seu lixo? Pedro Du Bois responde que “... sabemos que nossos lixos precisam ser revolvidos, criamos mecanismos de defesa: máscaras, luvas, emborrachadas botas, óculos com escuras lentes. Fazemos o trabalho com destreza e prática. E, ao que restar como monturo, viramos as costas e esquecemos”. Cada pessoa deve pensar no seu estilo de vida, nas suas escolhas de consumo, e o que os cansam na frágil vida da Terra.

Morar à beira mar, ver o mar quebrar na praia, relaxar na areia: andar, correr e brincar, isso é bonito, é bom e saudável. Dorival Caymmi, nos anos 70, compôs: “... o mar quando quebra é bonito...”. Agora, no século XXI, precisamos anunciar que o mar não é depósito de lixo. Que o mar é essencial para a produção de chuvas, e que sem elas não há vida. Tudo o que é jogado no mar, na praia, é levado pelas marés e enchentes, como demonstra Du Bois, “Água renovada / barrenta / carregando terras / lixos / animais mortos / vida // represa em águas / de falso brilho / e transparência // o fundo / lodo / entulho // a sujeira em curso se decompõe / em novas vidas”.

A resposta está no coração. Com ele no comando a vida resplandece e a diversidade pode ser superada com criatividade, bom senso e, sem motivo especial, em qualquer hora e em qualquer lugar, como reflete Reginaldo C. de Albuquerque: “O tempo passa...em nome do progresso, / mesmo cheio de glórias, já defeso, / o lago vergou ante a sorte hostil...”

Pensemos sempre nas maravilhas da natureza, muitas vezes esquecidas e violadas. A natureza não conhece fronteira. E a nossa saúde depende dos cuidados para com o lixo. A ética também está na limpeza moral, e lembramos que antigamente existiam placas – pelas cidades – alertando que, “Cidade limpa. Povo culto”.

Pergunto: você é culto o suficiente para valorizar e preservar a natureza? Em cada flagrante, em cada pessoa, em cada sensação serão preservadas as belezas naturais, verdadeiros tesouros arquitetônicos para serem vistos e revistos... Nei Duclós lembra que “A forma do mar é teu rosto / e o som da areia teu passo...”.