LINHA PENSANTE
A linha é a representação do que se quer destacar. Uma linha leva à outra, como simbolismo gráfico. A linha nos representa através de algo inventado que sobreviveu ao autor.
Carlos Jorge, escritor belo-horizontino, que quando menino queria ser inventor, resolveu aprender a ler – “foi uma descoberta fantástica” -; o resultado lhe deu a possibilidade de escrever, escrever, escrever... Logo, voltou a idéia de ser inventor, de unir todas as palavras conhecidas e inventar histórias. Realizou o seu sonho, inventou A Linha Assanhada, que traduziu em livro.
“Era uma linha assanhada
Era tudo e quase nada.
(...)
Era torta
Reta, curva
Semi-reta
(...)
Inventava e
Desinventava formas
Outro dia foi montanha
Se desmanchou virou céu
Se cansou e virou mar
Se aborreceu e virou sol
Reta, curva, torta e quase certa
Certo dia, imitou o homem
Não gostou
Virou bicho
Enrolou e se enroscou
(...)
Virou ponto e sossegou.”
Trabalhar em conjunto as linhas da arte de escrever com as linhas do desenho leva ao propósito principal, contribuir com as linhas do vazio, assim, oferecer a possibilidade da linha ter significados representativos de levar à reflexão: a linha pensante.
Lembrando uma frase do desenhista Marcelo Grasmann: “Nunca tive facilidade para o desenho, tive paixão, o que é muito diferente.”
As linhas continuam se revelando em geometria básica e simples, como em um dos maiores serígrafos brasileiros, Dionísio Del Santo; suas pinturas são belas e complexas em suas variadas leituras.
A linha pensante mistura a linguagem da arte, lápis e pincel e transforma com um olhar, com as palavras e com um gesto o irreal em real, o irracional em racional, sempre com a função de revelar e manifestar os sentidos. Como escreveu Manuel de Barros, “Inspiração só conheço de nome, o que tenho é uma excitação pela palavra”.
No mundo das utilidades não se pode abusar das linhas pensantes; segundo João B. C. Aguiar, “Os livros com alegorias demais é o mesmo que se arrumar em excesso. Isso emburrece um livro”; ele também traduziu em desenho as palavras de Fernando Pessoa, Paul Auster e outros.