Réquiem

À gélida clausura do instante ao recosto a mórbida carcaça acomoda gemebunda. Lágrimas silenciosas pelas espáduas ainda mornas convergem tremendas, qual rio solitário ao mar salobro de braços abertos quase sem esperança inda remoído às divinais prendas alcança. Sulfídrica realidade o corpóreo ser às vísceras corrói. A mente febril o desumano cotidiano um filete de toda esta imoralidade reconstrói. Tenta compreendê-la. Em vão...

Mil e uma conjecturas ao abstrato cotidiano indago. Hominídeos sem escrúpulos em seus lucrativos e bizarros negócios acordos sórdidos co-participam. Uns dizem para si orgulhosamente: -Acabamos de fazer um ótimo empreendimento. Outros: - Passamos mais um infeliz para trás. Lucramos, e, por hoje, só por hoje, estamos felizes. O tempo passa, e um vintém de bondade aos espíritos irmãos à mente inescrupulosa sequer perpassa. Pesado e sórdido pensamento os neurônios já enfebrecidos lentamente trucida.

Do gélido banco a santa missa o ácido sermão boquiaberto ouço. Da fala apocalíptica do missionário a irmandade presente inquieta assiste. A pele eriça em razão das olímpicas verdades a todos nós bem ditas. N’alguns olhares a hipocrisia não só de escárnios brilham, mas aos tímpanos se tornam ainda mais bizarras e, porque não, desditas. Isso quando não de pachouchadas adjetivam-nas mais do que malditas.

Àqueles de cuja fé transcende a divindade, curvam-se ante o altar sacrossanto e se entregam às verdades benditas. Não reclamam, ao contrário à fé ardorosamente de arrependimentos ao som das realidades cantam. No embalo, à pureza de um canto gregoriano, emocionado calo-me. Medito sobre o anfiteatro das emoções iminentes. Olho para o altar. Os crédulos balbuciam as mais exatas de todas as crenças: - A da Onipotência. Rezas à Deus se erguem gemendo. Um forte fulgor à cúpula da santíssima trindade transcende e aos mil e um entretons se elucubra.

Das retinas brilham intensos fulgores. Fleches milagrosos e equidistantes a alma enlameada pela descrença ao espírito se curva e à face oculta se eleva. A matéria trêmula pende, curva e, ao sopé do banco, se distende, e arrependida se estertora.

Sinetas ecoam majestosas ao largo da catedral. Curvas abstratas o vazio cosmicamente embeleza. A linha reta e fria da razão não mais sentido faz. Descem das escadarias do onipresente angelicais criaturas. A passos ecumênicos os lábios fervorosos da fé a hóstia consagrada de indescritível prazer e entorpecimento carnalmente diluem-na.

Sacros sorrisos nos rostos arrependidos a paz alcançam. Já os hereges, de uns nodosos palhaços que são, ainda continuam maquiados pelos adornos da vaidade e à fantasia do cinismo à fila indiana sorridente o réquiem final compõe-na. Sentem-se ludicamente purificados... À seco mastigam-na, como se o fel da amargura à garganta o pão já santificado os curassem de toda essa leda dislexia.

Cerram-se as cortinas. O cônego à palavra final de todos com amor se despede. Uma áurea luminescente à fiel plateia brilha. Ao final da edificada missiva, o representante do abstrato faz o sinal da santa cruz. Despede-se honrosamente. A massa flutuante quase toda aos poucos dispersa. Restam alguns. Penso comigo: - O joio do trigo há muito fora separado, como o óleo ungido pelo divino à água salobra da falsa devoção sequer de longe há de se engolirem. Choro. Olho para os lados. Lembro-me do espelho à trêmula mão. Sinto o reflexo da enorme pobreza espiritual daquilo que outrora há muito fui e aos quatros ventos com orgulho ao léu vivamente regurgitava...

Na pálida imagem as rugas do pecado a consumir milimetricamente a carne. É tempo de ir e de convergir. Ajoelho-me e despeço. Agradeço ao Todo Poderoso. Puxa-me pelo antebraço a filha assustada. Diz ela em tom maternal: - Papai é chegada à hora... - Não chore. Inocentemente de novo e preocupada se explica: - Estou aqui... E com uma voz aveludada de ansiedade finda: - Não se deixe remoer..., pois ele foi, é e sempre será o nosso porto seguro. Soergo-me e silente às paupérrimas vielas da vida agora à sabedoria e à prudência ao menos às alíneas cristãs não só insisto em ler os últimos pergaminhos da insubstituível verdade desbotados, mas de ardorosamente, como os botões de rosa à véspera da reminiscência, senti-los neste instante em minh’alma inda totalmente desabrochados.

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 11/12/2012
Reeditado em 13/12/2012
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