Pelo amor à literatura...

Não aguento mais livros de vampiros, bruxos, feiticeiras, não aguento mais livros de Jesus, Jesus isso, Jesus aquilo, não aquento mais livros auto-ajuda que não contenha argumentos científicos, não aquento mais livros de Hitler, de reinos fantasiosos; e analisando os últimos lançamentos, a maioria são “cinzas” e medíocres.

Livros supérfluos de escritores que escrevem a todos e a ninguém. Os vocábulos parecem sem luz, frases pobres, pronúncias imundas, bordões de aberrações entrelaçados com personagens vazios de destino próprio, todos abstraídos de pensamento lógico e mergulhados em falácias, revelando apenas a confusão mental do seu criador.

As editoras, por sua vez são hostis ao escritor desconhecido, de péssima publicidade, e transforma em astro aquele que se comporta bem perante as tendências da moda. Como se tudo fosse escrito num gabarito previamente articulado pela nova ordem mundial.

Fatos que fariam Shakespeare se levantar do túmulo.

Esta multidão de leitores de franquia e de livros de liquidação só se identifica com um tipo, o leitor-massa, que lendo às pressa, montado tão somente nas pobres abstrações da magia e da promiscuidade, alimenta a besta da moda com sua condição sublime de escravo literário.

O Best Seller nada mais é do que o nivelar do leitor, que em qualquer parte do globo renuncia ao seu dom peculiar da crítica. Esse leitor-massa é o homem dócil de manejar, o escravo moderno, que compra um livro pela capa, pela moda, pela internet, e paga com sua única virtude, o cartão de crédito.

Em todo dizer há um emissor e um receptor, os quais não são indiferentes ao significado das palavras, elas precisam de sentidos, e o sentido é mais do que um alienado laser, é um conhecimento infinito, insaciável, que faz parte da evolução da espécie humana.

Sabemos que o homem que não lê não pertence a esfera humana, mas este leitor massa não sabe separar o joio do trigo, compra apenas palavras sem pensamentos. Compra apenas uma ideia viciada, uma cópia do sucesso burguês. Tudo é cópia barata, cópia da cópia da cópia nos levando a uma Homogeneidade cultural. A cultura das massas.

Um livro só é bom na medida em que nos traz um diálogo latente, em que sentimos que o autor sabe imaginar concretamente seu leitor, e este, no papel de cego, quer mais do que acariciar a obra, quer tatear os personagens, entrar pelas entranhas da sua psicologia, vagar pelo labirinto de formas que o desconhecido nos guia. O leitor só será fiel se de fato viajar de asa delta pela criatividade e originalidade do autor.

Por favor, escritores modernos, escritores de elogio mutuo, não escrevam por encomenda de mercado, amadureçam sua ideias, esperem pela serenidade intelectual, que só virá com muito estudo literário, com muita leitura, sejam autênticos, aproveitem a ocasião para praticar a obra de caridade mais adequada a nosso tempo: não publicar livros supérfluos.

Nem essa crítica nem eu somos moralistas, nem revolucionários, mas a verdade tem que ser dita para não falsificar mais ainda a “realidade” da literatura. O leitor hermético almeja apenas saciar o seu prazer, não está com os olhos aberto para verdade a nenhuma instância superior. Caiu na mediocridade da reciclagem do lixo literário por atacado.

Julio Cortázar faz uma crítica sutil em um conto e procura acordar o leitor passivo, que surpreendentemente é envolvido na leitura, se o leitor voltasse sua cabeça para trás, poderia ver o assassino do livro. Ele e muitos outros com talento já nos deixaram, agora somos bombardeados de escritores medianos.

E confesso que ficaria feliz se pudesse dar um murro na cara desses escritores medíocres, que infelizmente, ao longo da minha vida já me levaram uma fortuna.

Mas como sou civilizado, cobro o direito de ser protegido pelo código do consumidor. Devolvam meu dinheiro. Pelo amor à literatura...

Wagner Ferreira

WAGNER FERREIRA
Enviado por WAGNER FERREIRA em 06/11/2012
Reeditado em 16/12/2012
Código do texto: T3971870
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