ARS POETICA: A ORIGEM DAS MUSAS E A ARTE DA POESIA DE HORÁCIO A ARCHIBALD MACLEISH

*Tânia Maria da Conceição Meneses Silva

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo esboçar um estudo teórico sobre a origem e a evolução da crença na existência das Musas, sua invocação, a presença delas na inspiração dos poetas e de como esse ser imaginário se apresenta no poema. No que tange à questão do conceito de Musa, apresenta-se uma fundamentação teórica a partir da revisão de literatura sobre a temática e, sequencialmente, uma adaptação livre do poema Ars poética, de Archibald MacLeish, poeta norte-americano, nascido no final do século XIX e atuante no século XX. Através da pesquisa e da sucinta apreciação da mencionada composição poética, chegou-se à conclusão de que o mito da Grécia antiga atravessa o tempo, vivo e palpitante. Este breve estudo contribui para a formação docente do professor das disciplinas Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Literatura no Ensino Médio.

Palavras-chave: literatura, arte poética, língua portuguesa, língua inglesa.

ABSTRACT

This paper aims to outline a theoretical study of the origin and evolution of belief in the existence of the Muses, his invocation, their presence in the inspiration of poets and how this imaginary being is presented in the poem. Regarding the question of the concept of Musa presents a theoretical foundation from the literature review on the subject and, sequentially, a free adaptation of the poem Ars poetry of Archibald MacLeish, American poet, born at the end of active in the nineteenth and twentieth century. Through research and succinct appraisal of that poetic composition, came to the conclusion that the myth of ancient Greece through time, alive and throbbing. This brief study contributes to the formation of the teacher teaching the disciplines Portuguese Language, English Language and Literature in High School.

Keywords: literature, art, poetry, Portuguese, English.

INTRODUÇÃO

Ars Poetica ou A arte da Poesia é a obra de Horácio que equivale a um tratado sobre a técnica recomendada aos antigos poetas e cuja publicação se deu no século18 a. C.

"Graiis ingenium, Graiis dedit ore rotundo Musa loqui, praeter laudem nullius avaris". QUINTUS HORATIUS FLACCUS (18 A.C.)

"323-324 Aos gregos concedeu a Musa o engenho, aos gregos, ávidos de nada mais além de glória, o falar em linguagem harmoniosa". MAURI FURLAN(1994).

A questão relativa à compreensão das origens do mito das Musas, símbolo da inspiração dos poetas, remete à Antiguidade grega. Para exemplificar, tome-se a palavra de Smolka (2000, p.169) que aborda o tema a partir da memória numa perspectiva histórico-cultural:

"Mnemosyne, deusa, Memória divinizada, gera nove Musas, as Palavras Cantadas. E “as Musas colocaram então na mão do poeta o bastão de seu ofício e insuflaram nele sua inspiração... 'Inspirado pela Musa, o aedo cria, repete, recita, compõe palavras em ritmos. Inspirado pela Musa, o poeta é suporte e mestre da verdade. Resgata o acontecido do esquecimento, presentifica o passado. Versejar é lembrar. Cantar é lembrar. Enquanto filhas da Memória, as Musas detém um poder numinoso cuja força, ao mesmo tempo, presentifica e encobre. Elas fazem revelações, alethéa, mas impõem, também, o esquecimento, léthe. É na voz das Musas, pelas palavras, na linguagem, que se dá a nomeação, a presentificação, a revelação, e também o simulacro, a mentira, o esquecimento. Ulisses chora ao ouvir o canto do aedo sobre o que havia protagonizado. Chora ao escutar a história de sua própria vida (o acontecido, a verdade). E consegue resistir ao canto das sereias (o esquecimento, a perdição, a morte)".

A designação Musas também remonta à Antiguidade grega e se encontra ligada à música e ao canto. Indiferente à passagem das eras, o mito das Musas atravessa o tempo e o costume atual é o de sobre esses seres se pensar ou imaginar livremente. Aquelas Musas da Antiguidade, na imaginação do povo e até de muitos poetas da atualidade, podem, inclusive, mesmo ser personificadas. Por outra, permite-se até desenvolver a crença em que uma entidade como as da imaginação dos gregos habite o corpo de uma mulher e que esta seja a musa inspiradora de algum poeta. Corre nos estudos escritos e na oralidade que o encanto demonstrado pelo poeta Vinícius de Morais pela figura feminina tenha conseguido que muitos julgassem habitar musas como as gregas nos corpos de suas amadas. Por ser citada a mulher, acrescente-se que o comum na história da poesia é o de, predominantemente, poetas homens disporem ou necessitarem de musas inspiradoras para as suas obras e revelações. A figura da poeta ou poetisa não necessariamente estaria, ou aparece na literatura diretamente ou frequentemente relacionada à invocação ou à existência de um muso, de cuja invocação dependeria a sua inspiração.

"A primeira palavra que se pronuncia neste canto sobre o nascimento dos Deuses e do mundo é Musas, no genitivo plural. Por que esta palavra e não outra? Dentro da perspectiva da experiência arcaica da linguagem, por outra palavra qualquer o canto não poderia começar, não poderia se fazer canto, ter a força de trazer consigo os seres e os âmbitos em que são. É preciso que primeiro o nome das Musas se pronuncie e as Musas se apresentem como a numinosa força que são das palavras cantadas, para que o canto se dê em seu encanto. Pois dentro desta perspectiva arcaica, o nome das Musas são as Musas e as Musas são o Canto em seu encanto. O nome das Musas é o próprio ser das Musas, porque as Musas se pronunciam quando o nome delas se apresenta em seu ser, porque quando as Musas se apresentam em seu ser, o ser-nome delas se pronuncia" (Torrano, 1995. Disponível em < http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/sugestao_leitura/filosofia/texto_pdf/hesiodo_teogonia.pdf>).

A Antiguidade deserdou a mulher, nesse sentido, mesmo porque, ao que se sabe de todo o início e boa parte do desenvolvimento da civilização humana, a perspectiva social válida era a do olhar e ser masculino. Apesar do poder das Musas, a realidade é a de que a mulher entrou para a poesia desfalcada dessa imaginada força divina e profética que transmite as mensagens ao poeta e o submete aos seus ditames, como o ensinou o filósofo Platão: “O poeta é simplesmente o porta-voz do deus, como a Pítia em Delfos, ele não pode explicar o que ele escreve, nem ensinar aos outros o que ele faz (Nascimento, 2001, p. 165). Disponível em < http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/23-zylpha.pdf >.

"É sabido que os protagonistas homéricos são homens. Aliás, a sociedade grega foi sempre uma sociedade essencialmente masculina, androcêntrica, cuja vida pública gira em torno de dois polos essenciais: a guerra e a política. Na Ilíada contam-se as façanhas de Aquiles, Heitor, Agamémnon, Ájax ou Diomedes e a Odisseia recebe o nome da sua principal personagem, o herói Odisseu ou Ulisses. Todavia as mulheres, apesar de não activas, não estão excluídas do universo destes heróis. Aliás, nem poderiam estar, pois de alguma forma elas completam-nos, quer como recompensas merecidas e símbolos sexuais, quer como progenitoras, esposas ou amas". Rodrigues. In Santos (org.), 2001,p. 83. Disponível em <http://www.cm-moita.pt/NR/rdonlyres/355CBD20-CCB9-48BC-964C-E33B6C28C898/5287/mulher.pdf>.

O conceito de poesia, aqui tomado, mesmo que ainda difuso, é o que se entende comumente na atualidade. Portanto, não se fará uma consideração aprofundada a partir de Aristóteles e nem será levantada a questão do conceito geral de poesia na antiguidade equivalente, de forma abrangente, ao termo literatura. Quanto às características atribuídas atualmente ao sujeito poeta, seria algo a exemplo da definição de Florbela Espanca em seu soneto Ser Poeta:

"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior/Do que os homens! Morder como quem beija!/É ser mendigo e dar como quem seja/Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!//É ter de mil desejos o esplendor/E não saber sequer que se deseja!/É ter cá dentro um astro que flameja,/É ter garras e asas de condor!//É ter fome, é ter sede de Infinito!/Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…/É condensar o mundo num só grito!//E é amar-te, assim, perdidamente…/É seres alma, e sangue, e vida em mim/E dizê-lo cantando a toda a gente!"

O objeto deste breve estudo é a crença dos poetas na existência das Musas inspiradoras. O objetivo geral é o de esboçar um estudo sobre a crença, a invocação e a presença das musas na inspiração dos poetas e de como esse ser imaginário se manifesta no poema. Para alcançar o objetivo norteador, o trabalho busca cumprir 3 (três) objetivos específicos: traçar considerações gerais sobre o que se entende por Ars poetica; elaborar breve estudo teórico sobre a origem e o desenvolvimento da crença na divindade das Musas; tecer uma apreciação acerca do poema (adaptado para a língua portuguesa pela autora deste texto) Ars poetica, de Archibald MacLeish.

A metodologia consiste em empreender uma incursão por textos de estudos teóricos sobre a temática e, a partir daí, elaborar uma reflexão desenvolvida em texto dissertativo. Essa reflexão se faz acompanhar da citação de textos poéticos e, especificamente, de uma adaptação e comentário ao poema Ars poética, de A. MacLeish. O que liga os pontos aqui definidos é o título e a intenção de dois poetas: Horácio (Grécia Antiga, séc. 18) e Archibald MacLeish (América do Norte, séc. XIX). Os dois poetas em questão se propuseram a traçar rotas para o fazer poético, cada um em sua época. Entre eles se interpõe a figura da musa inspiradora, cuja invocação não está no poema de Archibald que, se dedica a dizer o que é um poema.

DESENVOLVIMENTO

A Grécia dos séculos XII a VI a.C. era uma sociedade ágrafa, tendo sido a tradição do povo grego estabelecida e transmitida oralmente de geração a geração. Esse mesmo povo entendia o termo poesia como fenômeno produtor. Isto significa dizer que o canto do poeta tinha a característica fenomênica de revelar aquilo que estaria oculto das outras pessoas. Assim se formava o mito que explicava o mundo e cuja revelação e narrativa ritualística, ocorrida em um momento considerado sagrado, estavam a cargo do poeta. Criatura escolhida pelos deuses, o poeta experienciava o renascer e o rememorar dos tempos, das origens, perpetuando a tradição de seu povo.

"Os Aedos eram os eleitos das Musas ou Palavras-cantadas (divindades míticas que regiam as artes) que eram responsáveis por “dirigir”, embelezar e certificar o canto dos poetas. Pois bem, as Musas são filhas de Mnemosýne e Zeus, e, segundo a mitologia grega, os filhos herdavam os poderes dos pais, e nesse caso as Musas por serem filhas de Mnemosýne (Memória) herdam dela o poder de saber o passado, o presente e o futuro; e como filhas de Zeus, herdam dele o poder supremo de presentificação e certificação. Dessa forma, quando as musas se presentificam na voz do Aedo, trazem a luz que desfaz o não-ser (passado e futuro) e desocultam o ser presentificando e fazendo o renascer naquele momento coletivo. Assim é que as Musas são as entidades que conferem a Palavra pronunciada pelo Aedo, o seu caráter de Verdade (de certificação)" (Souza, 2006, p. 2).

Ainda sobre a condição especial do poeta, conforme explicita Jaresky (2010, p. 285), no Íon, de Platão, encontra-se em relevo a pretensa sabedoria do poeta em contraposição a então nascente sapiência do filósofo. “No tempo de Sócrates, os poetas eram denominados como sophoí (sábios), assim como os médicos, engenheiros, entre outros, e a habilidade desses poetas era compreendida como resultante de uma téchne (arte/saber fazer)”.

Segundo Veloso (acesso em 2012) é o mito grego das Musas, associado ao universo onírico, o fundamento da ontologia mítica difundida entre os gregos, uma cultura que influencia todo o Ocidente. Assim “O homem dessa época pôde ter acesso à compreensão grega originária do Ser dos deuses e da verdade como ilatência”. Isto, é a fala do mundo equivale à fala dos deuses quando se dirigem aos mortais e para o que é preciso pronunciar os nomes das Musas, invocá-las com o seu canto e força numinosa para o aedo dar início ao processo de criação poética.

"(...) É a anima do poeta que se manifesta: esta se relaciona aos humores e sentimentos instáveis, às intuições proféticas, à capacidade de amar e à sensibilidade à natureza. A paixão repentina de um homem ao encontrar pela primeira vez uma mulher é um sinal da presença de anima. Quando isso acontece, parece ao homem que a mulher já é conhecida há muito tempo, 'prendendo-se a ela de tal maneira que parece aos outros ter perdido o juízo”. (JUNG, s.d. 4ªed, p. 41. In Veloso s/d. acesso em 2012).

Nos estudos de Smolka (2000), o mito das Musas é analisado desde uma perspectiva platônica que tem a ver com o mundo das ideias, com a memória/recordação que o ser humano guarda em seu íntimo desse mundo. Além disto, o fenômeno capitaneado pelas Musas se relaciona à memória como práticas sociais e à linguagem.

O mito está associado ao deus da música, Apolo, em torno de quem dançam e cantam as divindades responsáveis pela origem do mundo e da literatura. As musas, seres transcendentes no imaginário grego, em detrimento de uma vasta classificação que arrola também as Ninfas, são, basicamente, as nove filhas do amor entre Zeus, o deus do Olimpo, e Mnemosýne (Memória): Calíope ; Clio ; Erato ; Euterpe ; Melpômene ; Polímnia; Tália; Terpsícore ; e Urânia.

As musas, seres transcendentes no imaginário grego, seriam as nove filhas do amor entre Zeus, o deus do Olimpo, e Mnemosýne (Memória). O mito está associado ao deus da música, Apolo, em torno de quem dançam e cantam as divindades responsáveis pela origem do mundo e da literatura.

Para descrever esse encontro dos poetas com o imaginário do mito, Torrano (1997) aponta para as fontes de Horácio e Hesíodo (este último, autor da Teogonia/A origem dos Deuses, tido como o mais antigo poeta da antiga Grécia, autor da obra Os trabalhos e os dias) que invocam as Musas para a composição de seus versos épicos, como em: “Canta, ó Deusa, a cólera do Pelida Aquiles/ (...)” (Il. I, 1-7); e “Diz-me, ó Musa, o varão multívio que muito vagou/ (...)”(Od. I, 1-2).

"Alethéa, “ilatência”, a verdade das Musas, é um dos diversos modos de manifestarem-se as Deusas Musas, filhas de Zeus e de Mnemosýne (“Memória”). Na lógica própria do pensamento mítico, a filiação a Zeus assinala o poder político e espiritual da palavra das Musas, e a filiação a Deusa Memória nascida do Céu e da Terra indica a universalidade do conhecimento trazido pela palavra delas" (Torrano, 1997, p. 30).

Por outro lado, além do fenômeno da revelação ao ser escolhido que é o poeta, há a se considerar a especialidade e a indevassabilidade do próprio fenômeno poético, da palavra poética, pois,

"O fenômeno poético resiste às tentativas de explicação não apenas da reflexão do próprio poeta como de todos aqueles que intentam confrontá-lo criticamente, como atesta uma passagem capital do Protágoras (347e4-7). Logo após apresentar a sua interpretação da ode de Simônides, Sócrates sugere o abandono de discussões sobre poetas, por julgar pouco proveitosa tal modalidade de ocupação, uma vez que a dissensão acerca do significado, do propósito de suas palavras, nunca pode ser pacificada por um juízo crítico definitivo. Não podemos recorrer aos seus autores, os poetas, assim como a qualquer outra pessoa, pois o sentido do poema é, por sua procedência divina, indemonstrável à inteligência humana". (Jaresky, 2010, p. 302)

Foi dito anteriormente, neste texto, que o mito das Musas se espalhou pelo mundo e atravessa os tempos, ora compreendido e acreditado como o foi concebido na Grécia antiga, ora se apresentando em novas releituras e readaptações quanto à sua tradução. Eis que, Archibald MacLeish (1892–1982), poeta norteamericano, publicou, em 1926, o que veio a se tornar o seu mais conhecido poema com o mesmo título do trabalho escrito por Horácio: Ars poetica. Dessa forma, propunha um lema para a estética da poesia moderna:

"Se MacLeish quis unir o clássico ao moderno em seu 'tratado' poético a fim de sugerir que as normas da boa poesia são atemporais, que não mudam em essência mesmo que os poemas mudem de época para época e de língua para língua, ele realmente realizou este tento, ao resgatar Horácio em pleno século XX, através do preceito 'ut pictura poesis'. Este resgate, entretanto, só foi possível porque MacLeish, novamente dentro do espírito horaciano, não apenas usou sua inspiração, mas também seu engenho na construção do poema, pois, como diz Horácio, 'já se perguntou se o que faz digno de louvor um poema é a natureza ou a arte. Eu por mim não vejo o que adianta, sem uma veia rica, o esforço, nem, sem cultivo, o gênio; assim, um pede ajuda ao outro, numa conspiração amistosa” (1992, p. 67) (In Renaux, 2012. Disponível em < http://www.textopoetico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=77&Itemid=20>).

Inspiração, engenho, arte e, porventura, o sopro das Musas, mesmo que não explícitas, o poema de Archibald MacLeish deslumbra pela beleza estética, pela sonoridade e pelo inconteste amor à poesia. Dificilmente se poderá passar para outra língua a excelsitude dos versos escritos em língua inglesa, especialmente o apoteótico desfecho: “A poem should not mean/But be”.

Além de exemplos clássicos como os de Dante; de Camões, que era cristão, mas utilizou como recurso poético, a invocação às Tágides (musas do rio Tejo); Tomás Antônio Gonzaga, com a sua bela Marília de Dirceu; Castro Alves e suas Leonídia e Eugênia Câmara; Pablo Picasso e Matilde (musas reais, de carne e osso), alguns exemplos cabem nesta reflexão sobre as Musas na invocação de poetas da modernidade, como estes poetas do século XIX:

Muse Indignation, viens, dressons maintenant,

Dressons sur cet empire heureux et rayonnant,

Et sur cette victoire au tonnerre échappée,

Assez de piloris pour faire une épopée!

HUGO (Victor), Châtiments (1853), Nox, J. Hetzel, A. Quantin, Paris, 1882

*

Ma pauvre muse, hélas! qu'as-tu donc ce matin ?

Tes yeux creux sont peuplés de visions nocturnes,

Et je vois tour à tour réfléchis sur ton teint

La folie et l'horreur, froides et taciturnes.

BAUDELAIRE (Charles), Les Fleurs du Mal (1857), VII, La muse malade

(Disponível em <http://www.clg-riquet-beziers.ac-montpellier.fr/Menu_enseignants/Fayolle/Les%20Muses%20et%20la%20poesie%20lyrique.pdf>).

O poema de MacLeish foi inspirado no antigo poema de Horácio, retirado de uma série de epístolas, com o nome original Epistle to the Pisos e, depois, popularizado com o título Ars poetica e dedicado aos jovens poetas do século XIX.

Neste trabalho se faz uma releitura do poema Ars poetica, de Archibald MacLeish, e apresenta-se uma versão em língua portuguesa na qual se optou pelo uso da rima, ao longo de todo o poema, com 22 linhas de versos assim dispostos originalmente em língua inglesa:

"Couplets (rhyming pairs of lines) occur throughout the poem except in lines 7 and 8, 13 and 14, and 21 and 22. The feet are mostly iambic, and the meter varies. (An iambic foot consists of an unstressed syllable followed by a stressed syllable, as in line 1:

A..PO..|..em SHOULD..|..bePAL..|..pa..BLE..|..and..MUTE"

As figuras que compõem a estrutura do poema são: Símile, quando se utiliza de registros linguísticos para fazer as comparações (like/as/); aliteração; paradoxo; metáfora; e anáfora. O poeta compara o poema a um fruto, a medalhões (moedas antigas/patacas); à borda carcomida de uma janela onde viceja o musgo do tempo ou do abandono de uma casa; ao voo de um pássaro; à lua se elevando sobre o mar; a uma obra da pintura ou da arquitetura. Isto passa a noção de que a conceituação de poema, para MacLeish é a da perenidade, de que o poema deve ter um gosto eterno e sobre ele gerações em qualquer tempo e espaço possam compreender a mensagem da imaginação e absorver o Belo.

1. Ars poetica (Archibald MacLeish )

A poem should be palpable and mute

As a globed fruit,

Dumb

As old medallions to the thumb,

Silent as the sleeve-worn stone

Of casement ledges where the moss has grown _

A poem should be wordless

As the flight of birds.

A poem should be motionless in time

As the moon climbs,

Leaving, as the moon releases

Twig by twig the night-entangled trees,

Leaving, as the moon behind the winter leaves,

Memory by memory the mind _

A poem should be equal to

Not true.

For all the history of grief

An empty doorway and a maple leaf.

For love

The leaning grasses and two lights above the sea _

A poem should not mean

But be.

2. Ars poetica (livre adaptação de Tânia Meneses)

Um poema deve ser palpável e silencioso

Como um fruto saboroso,

Exato

Como velhos medalhões ao tato

Silente como a pedra carcomida

Nas bordas da janela onde o musgo põe vida _

Um poema deve ser como uma página em branco

Como o voo dos pássaros, franco

Um poema deve ser estático

Assim como a lua sobre o monte dogmático

Subindo tal a lua em liberdade

Enlinhando-se nas ramagens desde a antiguidade

Sumindo, como a lua, no frio das folhas invernais,

Na profundidade das cavas mentais

Um poema a si deve pertencer

E nele estar e morrer.

Por uma história de sofrimento

Uma porta solitária e uma folha ao vento

Por amor

A relva se dobra à luminosidade acima do mar

Um poema não tem que dizer

Mas ser

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração do presente artigo se dedicou a rever literatura sobre os temas: arte poética, o mito das Musas inspiradoras e a invocação dessas criaturas transcendentes do imaginário na mitologia grega.

Foi possível lançar um novo olhar sobre a arte poética, revisitando os ensinamentos de Horácio e Hesíodo; acompanhar a trajetória e a evolução do conceito de musa; perceber que esse conceito se ampliou no sentido até de ter em vista a materialização das musas pelos poetas; proceder a releitura comentada e adaptação livre do poema Ars poética, de Archibald MacLeish.

A efetivação deste exercício de literatura serviu para reavivar na memória a importância dos estudos sobre a Grécia Antiga e sobre a poesia. Espera-se contribuir com a formação de alunos dos cursos de Letras e professores em exercício docente no Ensino Médio.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS

(todas as referências foram consultadas em outubro de 2012)

CÂMARA MUNICIPAL DA MOITA. A mulher na história. Actas do Colóquio sobre a temática da mulher 1999/2000/2001. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/es/v21n71/a08v2171.pdf>

CUMMINGS, Michael J. Study. "Ars Poetica" (Latin for "The Art of Poetry")/ Type of Work and Year Written, 2008.

HESÍODO. Teogonia, a origem dos deuses. Estudo e tradução de Jaa Torrano. Biblioteca Pólen/Iluminuras. Disponível em <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/sugestao_leitura/filosofia/texto_pdf/hesiodo_teogonia.pdf >

HIPÓLITO, Nuno. À distância de um horizonte: uma análise das odes de Ricardo Reis. Data da publicação: 2010. Disponível em <http://www.umfernandopessoa.com/livros/a-distancia-de-um-horizonte.pdf >

http://www.cummingsstudyguides.net/Guides5/ArsPoetica.html

JARESKY, Krishnamurti. A inspiração poética no Íon de Platão. Kínesis, Vol. II, n° 03, Abril-2010, p. 284 – 305. Disponível em <http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/20_KrishnamurtiJareski.pdf >

Les Muses et la poésie lyrique. (Resumo didático sem indicação de autor). Disponível em <http://www.clg-riquet-beziers.ac-montpellier.fr/Menu_enseignants/Fayolle/Les%20Muses%20et%20la%20poesie%20lyrique.pdf >

Mitologia Grega: Adônis. Disponível em <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/MGAdonis.html>

NASCIMENTO, Zylpha Barros Carvalho do. As Musas: fonte de inspiração para Platão. Disponível em < http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/23-zylpha.pdf >

QUINTUS, Horatius Flaccus. FURLAN, Mauri. Ars poética. Disponível em <http://www.nucleodelatim.ufsc.br/wp-content/uploads/2012/05/5.b.-Ars-Poetica.pdf >

RENAUX, Sigrid. Uma releitura de Archibald MacLeish como reconceptualização de “ut pictura poesis”. UFPR/UNIANDRADE, 2010. Disponível em <http://www.textopoetico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=77&Itemid=20>

SOUZA, Weiderson Morais Souza. O homem e o mundo na ontologia mítica grega. UFSJ (MEC/SESu/DEPEM)/ “Existência e Arte” - Revista Eletrônica do Grupo PET - Ciências Humanas, Estética e Artes da Universidade Federal de São João Del-Rei - Ano II - Número II – janeiro a dezembro de 2006. Disponível em <http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/existenciaearte/Edicoes/2_Edicao/O%20HOMEM%20E%20O%20MUNDO%20NA%20ONTOLOGIA%20MITICA%20GREGA%20%20Weiderson%20Morais%20Souza.pdf>

TORRANO, Jaa. O (conceito de) mito em Homero e Hesíodo. Boletim do CPA, Campinas, nº 4, jul./dez. 1997. Disponível em <http://www.ifch.unicamp.br/cpa/boletim/boletim04/04torrano.pdf >