Sob a égide de Medusa

Entregara-se por sete primaveras de corpo e alma... Fora fiel... E como troféu recebera desgraçadamente do pódio a taça da amargura. Desejara isso abertamente, e com aquela frieza conseguira...E como!... Há, como lhe doera assim tão profundamente.

Se soubesse o quanto esta agonia lhe pesara a alma, jamais ousaria destituí-lo... Como o espírito comunga ante o tamanho e ordinário grito de dor...Ingrata. Mil vezes ingrata. Regurgita ao chão gélido a ânsia mortal. Por quê? Que pecado cometera a não ser o de amá-la tanto? Revele ao menos ao flácido vento que ora à face lhe toca aquilo que às buganvílias à cova dos poetas adormecidos de esperança há muito se esmorecera... O que entende de sentimentos, de amor?... Quem é você pra dizer se isso é aquilo?... Hipócrita! Que sabe da vida, pra ensinar este meu “eu” adjacente?...

Silêncio. Isso é o que lhe de derradeiro resta... Repete sempre a mesma clausula, a mesma frase, a mesma história... Acha-se sempre a dona da verdade... Pelo menos é o que à tela da vida concerne... Razões adquiridas de terceiros que se dizem os donos de uma absoluta e suposta tese... Que melancia enorme é essa que ao pescoço ainda insiste em querer carregar?... Não sei se tenho dó ou pena... Aliás, uma pergunta sagaz me foge à razão: - Qual é a diferença entre uma e outra? Respondo com a mesma franqueza de antes: - Não sei. Embora eu saiba que há de me indagar o final da irremediável pergunta um dia, porém à periclitante resposta lhe antecipo com mesma perfídia de sempre: - Porque ainda vivo à sombra de minha insustentável e aviltante ignorância...

À surdina quem sabe à posteridade há de se entregar... Já sei a sua urdida resposta: - Como pode um pálido poeta me amar tanto, se à carne sequer os lábios meus tocaram e à minha pele branca e ardente sequer os dedos roçaram... Chora em vão às inertes paredes desta gélida e eternal clausura. Sente à distância o líquido fel de sua total impostura. Risos vandálicos e de desdém o instante à época se adensara... Pouco lhe importara o mundo lá fora, se ainda continuara insensível e indiferente.

Não ouso afrontá-la agora, apenas àquela realidade querer a qualquer momento desfigurá-la... Há, como se tornara assim tão herege, decadente, fria e desconexa! Infligira o código de conduta de um sentimento que lha fora dantes há muito de bom grado explícito. Que importa tudo isso a você neste momento, se impassível ainda continua total e irreverente? Pois o estandarte da derrota já ao horizonte da decepção balouçara sem sequer ter obtido aquela trivial e devida demora.

Aos prantos a flâmula ao luar se desvanecera. Sabe mui bem que às vezes da própria sombra hoje até o sol da vida inda duvida de tudo isso que a ele há pouco tempo sequer uma linha de razão à emoção retrocedera. Sentira-se longinquamente um moribundo sem mundo. Ou se melhor convier: tornara-o abaixo de qualquer vagabundo, pra não dizer que o igualara àquele ser totalmente nauseabundo.

Calara-lhe a voz ante a nona estação, qual sapo à pinça de uma sórdida simpatia tivera o betilho cruamente costurado. Despejara-lhe a má sorte sobre o dorso ainda outrora vergastado e como, à famigerada desgraça, o cantil o enxofre sobre pressão o ar interno pela tampa à força pelo gargalo rosqueada um intenso mau cheiro à atmosfera igualmente em muito se exalara...

Enfim, finda o pranto, a amargura, a desilusão... Restá-lo deste passado recente a tremente realidade de um presente que hoje o titubeia e o furta da veracidade com uma descomunal força que, à deriva, deixa-o preso a uma corda bamba, como a árvore ao sabor da dúvida resiste àquele insidioso torpedo. Ah, que acachapante fim... Na varanda sobrá-lo somente a vaga lembrança de uma doce ilusão a arfar ainda aquela sombria memória no seu vai-e-vem mais do que nunca constante e, por deveras, “inté” agora tão iminente...

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 18/10/2012
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