A LENTE...
”Quem retrata / o momento / apreende a cena /
descortina através da lente...” (Pedro Du Bois)
A lente: o que você está vendo? É a ideia de que a lente capta e produz a visão nova, que pode ser considerada arte, “é incansável, registra cada ponto da paisagem”. Ela representa um modo de registrar cada ponto na imagem, revelando o movimento das figuras e encadeando o tempo fotografado.
A lente fotográfica traz a imagem própria, abstrata e poética, caracterizada pelo instante do flash que procura ultrapassar a luz. Com a lente o homem passa a ter nova perspectiva de mundo: percebe o objeto de diversos pontos de vista, unindo e representando a realidade no desenvolver da criação, na ilusão do movimento contínuo. É o olhar marcado que vai recuperar as paisagens, como elemento de reinvenção. segundo Benedito C. Silva, “Só com os olhos de poeta é possível ver...Ler as imagens é inferir, imprimir uma interpretação, gerando sentidos variados de acordo com a natureza dessa interação...Por mais que se encontrem técnicas precisas, e equipamentos sobre imagens e seu tratamento, o mais importante será o olhar do fotógrafo.”
Ao inventar um mundo mágico com a lente, questiona-se o realismo da arte, diferenciado por visões artísticas que refletem a nova imagem, onde nasce o diálogo que proporciona uma aliança feliz à expectativa do reencontro das pessoas como identidade visual: os objetos e a natureza se renovam na linguagem fotográfica, como Pedro Du Bois mostra no livro Retratos, poemas divididos em duas partes; na primeira, “nas fotografias o passado reassume suas lembranças” e, na segunda, Porta Retratos: qualquer momento, nos mostra o registro da lente, “...dizemos das vidas registradas / em fotografias / mostrando documentos, / provocando sermos nós mesmos...”
Na lente se considera a elaboração da cena, o tempo, os relevos e os cortes. Não conhecemos o que se esconde dentro da câmara; mesmo assim, a história e a natureza se revelam em função dela, com a qual, a arte necessita da inscrição histórica: a forma e o conceito como imagens que traduzem retratos ao se as abrirem luzes.
Das coisas mais surpreendentes na lente é a capacidade de percebemos um mundo impalpável e repleto de sugestões, com a sensação de termos vivido intensa prospecção do mundo e de nós mesmos.
Cacaso, através do poema Codaque, mostra, “O sol recorta as nuvens no seu mapa. / E a sombra bate de chapa”; e Júlia Du Bois A. Silva constrói, com seu recorte de leitura, imagens representativas ao poema: Codaque é a lente da Júlia.
Dentro dessa mesma lógica, encontro a ideia de continuidade, onde podemos percorrer várias histórias com visões independentes: vidas fascinadas pela lente e embaladas na beleza da luz.