Da Natureza do Metamoderno – Analogias Astrofísicas e Artísticas

Da Natureza do Metamoderno – Analogias Astrofísicas e Artísticas

Prof. Dr. Jairo Nogueira Luna (Jayro Luna)

Depois do Moderno alguns visionários elegeram o pós-moderno a arte dos nossos tempos (fim de milênio...). A arte do fragmentário, das pluralidades de estéticas - uma estética nova para cada obra de arte! A arte do rompimento com a tradição de romper com a tradição. Mas essa arte é uma máscara de tragédia grega, esconde mais que o "rococó", nos excessos de múltiplas visões o próprio impasse que é sua substância: O não reconhecer-se como arte, mas como anti-arte. Porém, como a arte imita a natureza, aqui o pós-moderno imita a física moderna, e como é sabido que matéria e anti-matéria se aniquilam ao seu encontro, a anti-arte pós-moderna se aniquila conjuntamente com a arte no confronto de ambas e o que sobra é só radiação. É a radiação do pós-moderno que críticos, artistas e admiradores diversos pensam perceber como arte, mas a radiação do pós-moderno não é nem a arte nem a anti-arte, é só um espectro, analisável por instrumentos estéticos, e que na análise permite que tenhamos uma noção do que poderia ter sido - possibilidade não realizada - colocando na medida mesmo dessa distância entre radiação e matéria irradiante o espírito pós-moderno.

É preciso fazer outro tipo de observação, buscar o entendimento dessa arte numa outra possibilidade de medida dessa radiação. Como na análise dum efeito Doppler é necessário notar os desvios das cores, seja para o vermelho, seja para o azul, de modo a poder termos uma noção da distância que o objeto artístico está de nós. O espaço-tempo a separar-nos não é o físico de quatro dimensões (uma de tempo e três de espaço), é o psico-cultural-quântico, que outros chamariam de metafísico, outros ainda de espiritual e aqueloutros de perceptivo. Evidentemente existem matizes e nuances entre essas denominações, não são de nenhum modo coetâneas, se as coloco assim juntas é porque, no entanto, elas têm em comum o fato de poder preencher em forma de éter o espaço-tempo entre a arte e o homem.

Essa outra observação, essa outra análise que proponho, chamo-a de Metamoderna. E ela consiste basicamente numa relação entre um sintagma contemporâneo (a compor uma estética do presente) e os paradigmas (as estéticas do passado). Desse modo, cada obra de arte nova não compõe uma possibilidade de estética nova, mas apenas uma relação entre o belo do presente e a beleza do passado. A análise de cada paradigma é o artifício metamoderno. Nessa análise observamos o material (a obra em sua materialidade, seus constituintes físicos), o trabalho (a composição da obra, as relações de suas partes, o engenho e a engenhosidade), a história (que relações essa obra permite com as que lhe antecedem por contiguidade e as relações que mantém também por antinonímia). O importante a notar é que o observador não é omisso, nem distante, é preciso perceber que o observador impõe sobre o objeto características, elementos, interpretações outras que não necessariamente as originais do criador. Assim o sistema observador-observado tem uma relação dinâmica, de modo que o resultado da análise deverá fornecer pelo menos duas coisas: a posição da obra no contexto presente e a relação do observador com esse contexto. É semelhante ao caso da tentativa de se posicionar em tempo e espaço partículas elementares como o elétron: Devemos considerar um universo de possíveis, um conjunto de variáveis.

A anti-arte pós-moderna articula-se sobre as múltiplas possibilidades do discurso fragmentário, a análise metamoderna posiciona-se de maneira que o caos fragmentário seja entendida como outra ordem, mais complexa sem dúvida, mas passível de entendimento e de tal modo que possamos organizar as variáveis oferecidas segundo um critério de ocorrências e de pertinências. O que antes era fragmentário passa a ser resultado direto de um estado anterior, que em sua aparente unicidade cotinha já os elementos desagregadores sob a pele fina da transparência e da organização. A compreensão da evolução dos estados da obra de arte através da história é semelhante ao astro-físico que ao olhar as estrelas do céu vê mais do que elementos utilizáveis numa liricidade presente, vê sim o passado desfilar diante dos olhos, a luz que nos chega de cada estrela é o presentificar instantâneo e dinâmico do passado. Quanto mais distante a estrela, mais remota a história que nos chega. Assim é com a obra de arte, devemos olhar a presentidade do pós-moderno contemporâneo como luz, como efetiva realidade a nos contar na sua forma, nas cores e dimensões a história da obra de arte na humanidade. O artista plástico que passa a fazer instalações tridimensionais no lugar de utilizar-se do espaço virtual da tela está, num determinado momento da história: o seu presente, na ponta do paradigma da discussão sobre o conceito de arte. O modo como ele vê essa relação da sua instalação com a história da pintura, o modo como podemos ver o que ele pensa ver, e o modo como efetivamente sua obra se instala e se instaura nesse presente é que nos dizem sobre a profundidade desse paradigma, e até, pode nos dizer sobre as possibilidades futuras desse paradigma.

A Temperatura Informacional do Texto

Haroldo de Campos usa a expressão em texto na Teoria da Poesia Concreta, sua fonte é Marshall Mcluhan que apresenta o conceito de meios frios e meios quentes

Ilana Polistchuck, em seu excelente livro “Teorias da comunicação: o pensamento e a prática do jornalismo” , consegue fazer uma ótima síntese sobre o assunto.

Polistchuk nos explica a definição proposta por Mcluhan “Os meios quentes, como o livro, o jornal e o rádio, estendem um sentido elementar (audição, visão) e apresentam informações bem definidas”. Em outras palavras, os meios quentes são aqueles que nos trazem as informações mais decupadas ou de simples entendimento, onde não é necessário muito esforço por parte do receptor, sendo que este utiliza essencialmente apenas um de seus sentidos. Marshall McLuhan afirma que: “Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos em alta definição”; “a forma quente exclui”; “não deixa muita coisa a ser completada pela audiência”. Mcluhan fazia analogias a seus estudantes dizendo que ler um jornal pela manhã era o equivalente, informacionalmente falando, a tomar um banho quente.

Por sua vez Polistchuck diz que: “os meios frios, como as histórias em quadrinhos, o telefone e a televisão, proporcionam informações mal definidas, exigindo do receptor maior “participação sensorial” para a apreensão de suas mensagens”. Ou seja, é necessário maior esforço e envolvimento por parte do público para compreender a mensagem transmitida através dos meios frios; se exige maior participação do receptor. McLuhan salienta que: “a fala é um meio frio de baixa definição, porque ao ouvido é fornecida uma magra quantidade de informação”; “a forma fria inclui”.

O que está em jogo nesta definição é, principalmente, a participação, o envolvimento. “Uma conferência envolve menos do que um seminário, e um livro menos do que um diálogo.”

Meios quentes (hot media) = Estendem os nossos sentidos (visão, audição) e apresentam informações bem definidas. Então, a imprensa e a fotografia é um meio visual, que contêm muita informação, não exigindo um grande esforço por parte do receptor. Quanto “mais quente, mais informação”. Ex.: livro, jornal, rádio.

Meios frios (cool media) = A quantidades de informações são menores que os meios quentes, por isso exige do receptor maior participação e envolvimento nas mensagens. Isto é, a televisão é um meio frio, diferente do rádio. Pois é possível trabalhar ouvindo rádio, mas não se pode fazer o mesmo quando se vê televisão. Ex.: histórias em quadrinhos, telefone e televisão, que proporcionam informações mal definidas.

Haroldo de Campos escreve acerca da Temperatura Informacional do Texto:

“O próprio Mandelbroot faz, de certo modo, sentir isso e permite-nos insinuar aqui um corolário estético fundamental, quando censura Zipf por ter considerado o exemplo joyceano como ‘o melhor paradigma à sua disposição, em razão do caráter longo e variado de suas obras’, e por ter admitidoa temperatura informacional dos textos de Joyce como sendo a ‘melhor estimativa’ do ‘número máximo potencial de palavras diferentes’ para todo autor, ‘quando, na realidade, este valor é devido à variedade potencial excepcionalmente grande do texto de Joyce’.

No que interessa à ‘informação estética’, realmente, teremos sempre que o conceito de ‘temperatura informacional’ é um dado de realização, um fator integrante do processo artístico que leva àquela, e seu caráter elevado ou reduzido, desligado duma normatividade apriorística de mérito e demérito, só pode ser encarado corretamente quando posto em função do processo específico da realização para a qual contribui. Assim, serão razões de ordem estética e não exclusivamente lingüístico-estatísticas que envolverão a necessidade um teor mais alto ou baixo, máximo ou mínimo, na temperatura informacional de um dado texto artístico, como por exemplo ou uma peça de prosa: há, distinto do lingüístico, um conceito próprio, pensamos, de ‘temperatura informacional do texto estético’, decididamente ligado à evolução de formas no plano criativo.”

Zipf analisou a obra monumental de James Joyce, Ulisses, e contou as palavras distintas, ordenando-as por frequência. Verificou-se que:

- a palavra mais comum surgia 8000 vezes;

- a décima, 800 vezes;

- a centésima, 80 vezes;

- a milésima, 8 vezes.

Os resultados fazem parecem, à luz de outros estudos que se podem fazer rapidamente com qualquer computador, demasiado precisos para serem perfeitamente exatos, e em estudos similares a décima palavra mais comum surge cerca de 1000 vezes, por via de um efeito de cauda observado nesta distribuição. A lei de Zipf prevê que num dado texto, a frequência de ocorrênciaf(n) de uma palavra esteja ligada à sua ordem n na ordem das frequências por uma lei da forma: onde K é uma constante (fonte Wikipédia)

Mandelbroot , matemático, foi um dos iniciadores da teoria dos fractais a partir da definição do conjunto de possibilidades existentes num conjunto que leva seu nome, conjunto de mandelbrot. Acerca das aplicações das possibilidades combinatórias em termos de teoria da informação aplicada ao texto estético veja meu artigo “Combinações Estocásticas na Poesia Moderna e de Vanguarda na Literatura Brasileira e Portuguesa”. Orfeu Spam, São Paulo, v. 15/16, n.1, p. 11-18, 2007.

A Temperatura Informacional do texto estético é o valor que servirá de classificação para as analogias a seguir propostas.

Texto Negro e Texto Branco

Severo Sarduy em Barroco (1974) sugere uma interessante analogia entre a cultura do século XVII e a do século XX. Para Sarduy existe uma situação estruturalmente smeelhante entre a ciência desses séculos, no sentido de que enquanto o homem do século XVII tinha que escolher entre Galileu e Kepler e o homem pós-moderno entre o Big Bang e o Estado Contínuo.

"Assim, a oposição do círculo de Galileu à elipse de Kepler, que marcou a revolução cosmológica do século XVII, seria isomórfica à oposição das teorias cosmológicas recentes o Steady State ( o estado contínuo) e o Big Bang (a explosão que gerou o universo, cujas galáxias estão em expansão). Com o manejo dessa primeira isomorfia, Sarduy avança a segunda, a das figuras da ciência e da arte, no interior de uma mesma episteme."

(CHIAMPI, Irlemar. Barroco e Modernidade. p.31)

Cito Sarduy apenas para levantar um caso em que se tenta aproximar conceitos e idéias entre ciência e arte. Existem vários outros e de diferentes matizes. É sabido que intrinsecamente à essas relações existe um fundo filosófico, uma base filosófica que vê nas diversas manifestações do espírito humano elementos em comum que podem, sob determinados aspectos, serem abordados conjuntamente, embora pertençam em suas especificidades a campos absolutamente diferentes.Assim conceitos que envolvem interdisplinaridade, analogias e correspondências perpassaram em diferentes épocas o desenvolvimento do pensamento humano.

A idéia que pretendo aqui desenvolver parte dessa relação entre arte e ciência, e no caso a ciência contemporânea. O conceito de buraco negro é um dos mais caros e polêmicos da astrofísica moderna, e pesquisadores têm conseguido renome ao abordar o tema, como p.ex. Stephen Hawking, Brian Greene, Juan Maldacena, João Magueijo ou Alan H. Guth.

O Buraco Negro: Essa é entidade da astrofísica que engole tudo à sua volta inclusive a luz, destorce o espaço e o tempo circundante, causa rebuliço no universo newtoniano, e por fim, permite que imaginações férteis sonhem com a batalha final entre o efêmero homem e o invencível marchar do tempo

A Obra-Negra: Analogamente ao conceito da astrofísica, a “obra negra” seria aquela cuja quantidade de informação excede o limite da inteligibilidade e as tentativas de decodificação e entendimento resultam infrutíferas. Evidentemente a questão que se coloca aqui não uma deficiência de repertório do observador / leitor, mas sim se considera a existência de repertórios possíveis. Neste sentido a “obra negra” a rigor seria um conceito abstrato, uma vez que qualquer obra já produzida forneceria algum tipo de possibilidade interpretativa. Mas o conceito é válido do tipo ponto de referência segundo a qual serviria de parâmetro para medição da qualidade estética da obra, tomando por princípio a relação de Ordem e Complexidade segundo Max Bense. Quanto mais dificuldades a obra apresentasse dificuldades de interpretação e mais exigisse do repertório, analogamente ao “Buraco Negro” do espaço sideral, a “obra negra” seria uma grande consumidora de informação para que pudesse gerar informação interpretativa. Como exemplo máximo poderia citar o manuscrito Voynich , a qual todas as tentativas de interpretação têm resultado inócuas, uma vez que se desconhece o código em que foi escrito e as ilustrações são tão ambíguas que não se consegue definir exatamente o que representam.

Wormhole e Buraco branco: Em Astrofísica, Buraco branco é um objeto teórico previsto pela teoria da relatividade que funciona como um buraco negro tempo-invertido. Como um buraco negro é uma região no espaço de que nada pode escapar, a versão tempo-invertida do buraco negro é uma região no espaço em que nada pode cair.

Os buracos brancos aparecem como parte de uma das soluções de Karl Schwarzschild para as equações da relatividade geral de Einstein, em que é descrito um buraco de minhoca de Schwarzschild. Em uma das pontas do buraco de minhoca há um buraco negro sugando matéria, luz e tudo mais, e, na outra ponta, um buraco branco, criando matéria e luz. Mesmo que isso possa dar a entender que os buracos negros em nosso universo possam se conectar a buracos brancos em outros lugares, isso não é verdade por duas razões. Primeiro, porque os buracos de minhoca de Schwarzschild são instáveis, desconectando-se assim que se formam. Em segundo lugar, os buracos de minhoca de Schwarzschild são uma solução válida apenas enquanto nenhuma matéria interage com o buraco.

A existência de buracos brancos desconectados de buracos negros é duvidosa, já que parecem violar a segunda lei da termodinâmica

Ou seja, buracos brancos são entidades físicas matematicamente viáveis, o que não quer dizer que existam na natureza.

Texto-branco: O texto-branco é o resultado direto da ação magnética do texto-negro e também age sobre o texto-quasar e sobre o texto-magnetar. O texto-branco é o texto para o qual a crítica se dirige no caminho interpretativo de um texto-negro, um teto-quasar ou um texto-magnetar. Neste sentido é toda a fortuna crítica produzida a partir das tentativas de análise destes outros textos literários que exigem grande carga informativa e por isto mesmo possuem uma alta temperatura informacional.

Quasar: Um quasar (abreviação de quasi-stellar radio source, ou fonte de rádio quase-estelar) é um objeto astronômico distante e poderosamente energético com um núcleo galácticoativo, de tamanho maior que o de uma estrela, porém menor do que o mínimo para ser considerado uma galáxia. Quasares foram primeiramente identificados como fontes de energia eletromagnética (incluindo ondas de rádio e luz visível) com alto desvio para o vermelho (redshift), que eram puntiformes e semelhantes a estrelas, em vez de fontes extensas semelhantes a galáxias. Os quasares são os maiores emissores de energia do Universo. Um único quasar emite entre 100 e 1000 vezes mais luz que uma galáxia inteira com cem bilhões de estrelas. Com poderia ser gerada tamanha quantidade de energia nos quasares? Ainda não existe uma teoria completa firmemente estabelecida. A teoria que prevalece envolve a existência de outro objeto estranho: um buraco negro. A idéia geral, investigada pelos astronômos, é a de que exista um buraco negro no centro dos quasares que "engole" a matéria vizinha. Os processos de interação mútua deste material em queda, a velocidades próximas da velocidade da luz, é que geram a radiação observada dos quasares, os quais emitem não só no visível e na faixa de rádio mas também em raios X e em outros comprimentos de onda. Em geral, os quasares estão localizados no centro de uma galáxia hospedeira. Como eles estão tão distantes, e o seu brilho é tão grande, as galáxias hospedeiras não são claramente detectadas nas observações. Neste cenário, os quasares estão provavelmente ligados aos processos de formação das galáxias que vemos no universo próximo de nós.

Obra-quasar: Analogamente à estrutura do quasar, a obra-quasar é aquela que consome grande quantidade de matéria intelectual para que surjam as interpretações ou pluri-isotopias (Lotman). E em razão da grande quantidade informação requerida no repertório do leitor / observador supomos a existência de uma de uma estrutura semelhante à obra-negra, porém, uma vez alcançado o nível de conhecimento necessário a obra torna-se brilhante, oferecendo grande quantidade de luz-informação. Ou seja, é uma obra que vai gerando um contínuo processo de enriquecimento. Neste sentido citaríamos como exemplos de obra-quasar na literatura: Finnegans Wake de James Joyce, The Cantos de Ezra Pound, Memórias Sentimentais de João Miramar de Oswald de Andrade, Poesias Sonoras, romances de Marinetti, Galáxias de Haroldo de Campos.

Pulsar ou pulsares: São estrelas de nêutrons muito pequenas e muito densas. Os pulsares podem apresentar um campo gravitacional até 1 bilhão de vezes maior que o campo gravitacional terrestre. Eles provavelmente são os restos de estrelas que entraram em colapso, fenômeno também conhecido como supernova.

À medida que uma estrela vai perdendo energia, sua matéria é comprimida em direção ao seu centro, ficando cada vez mais densa. Quanto mais a matéria da estrela se move em direção ao seu centro, mais rapidamente ela gira. Qualquer estrela possui um campo magnético que em geral é fraco, mas quando o núcleo de uma estrela é comprimido até se tornar uma estrela de nêutrons, o seu campo magnético também sofre compressão, com isso as linhas de campo magnético ficam mais densas, dessa forma tornam o campo magnético muito intenso, esse forte campo junto com a alta velocidade de rotação passa a produzir fortes correntes elétricas na superfície da estrela de nêutrons.

Obra-pulsar: A analogia que apresento se refere às obras paródicas, no caso da poesia, por exemplo, temos os poemas paródicos. Tomando por base um poema já gasto e canônico, extrai dela o poeta um poema paródico que tem grande quantidade de informação e passa a brilhar de tal forma, que se exige a leitura do poema fonte com um novo olhar, tendo em vista a releitura crítica proposta pela paródia. Neste sentido, exemplificamos com Meus Oitos Anos de Oswald e o Meus Oito Anos de Casimiro de Abreu; Nova Canção do Exílio, de Drummond e a Canção do Exílio de Gonçalves Dias. Neste âmbito a obra-pulsar não é o poema paródico ou o poema original, mas sim, a relação que se estabelece entre o original e a paródia é que cria a obra-pulsar, de modo que a informação produzida é resultado mesmo dessa justaposição ou, de outro modo, a contraposição entre os dois poemas. No caso, por exemplo, da Canção do Exílio de Gonçalves Dias são conhecidas várias paródias e inclusive paródias de paródias (Oswald, Murilo Mendes, José Paulo Paes, Ferreira Gullar, Jayro Luna) de modo que temos uma grande obra-pulsar ou uma obra-pluri-pulsar por analogia com o conceito de pulsar binário.

Magnetar é uma estrela de nêutrons com alto valor de campo magnético. Possui campo magnético estimado em 1 bilhão de teslas. Tem como característica principal a alta emissão de raios X e raios gama. Considera-se o magnetar um tipo especial de estrela de nêutrons (EN). As ENs são esferas compactas de cerca de 15 quilômetros de diâmetro, correspondendo ao núcleo do que resta do colapso de uma estrela com cerca de dez vezes a massa do Sol. Os magnetares, por razões que ainda não completamente esclarecidas, têm campos magnéticos mil vezes mais fortes do que as ENs normais.

No entanto, existe certa controvérsia a respeito de que as estrela de nêutrons podem ser tão magnéticas. Assim, os candidatos a magnetares são frequentemente referidos na literatura científica como Repetidores de Raios Gama (SGR) ou Pulsares de Raios-X Anômalos (AXP), dependendo das características das suas erupções.

Obra-magnetar: É também uma obra que atrai para si uma grande quantidade de esforços interpretativos em razão da sua riqueza construtiva e das possibilidades interpretativas que representa. São obras enriquecedoras e que possuem a peculiaridade de entrarem tardiamente no panorama das obras, tendo sido antes relegadas ou esquecidas por um bom tempo. Quando são redescobertas transformam o panorama canônico em função de sua originalidade. Em geral, o fato de terem sido esquecidas refere-se ao fato de estarem adiante de seu tempo. Exemplificamos com O Guesa de Sousândrade, poemas de Mallarmé, caligramas de Apollinaire, obra poética póstuma de Fernando Pessoa.

Obra-constelação: É um conjunto de obras (poemas, romances, contos) que se agrupam em função de mesma autoria, ou mesmo tema, ou ainda estilo semelhante e que possuem qualidades brilhantes de tal modo que a crítica se preocupa em estudar e analisar continuamente. Neste âmbito podemos citar a obra de Machado de Assis, a poesia de Carlos Drummond, de Manuel Bandeira, e tantos outros, que conseguem ultrapassar o limite espaço-temporal de suas escolas.

Galáxia Artística ou Literária: É um conjunto de obras de diferentes autores e que compõem um complexo panorama de referências, citações, intertextualidades, paródias e paráfrases. O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, por exemplo, apresenta um enorme conjunto de citações de obras de outros autores (filósofos e escritores ingleses, alemães, franceses). O levantamento de todo este panorama compõe uma galáxia literária, de tal modo que a compreensão do porque e do ângulo de leitura proposto coloca o panorama galático. Observe-se, por exemplo, que um romance como Memórias Setimentais de João Miramar, Oswald de Andrade ou Ulisses de James Joyce, possuem um enorme conjunto de referências, citações, etc... mas não se restringem ao âmbito da Galáxia Artística ou Literária aqui proposto em razão da quantidade informação acerca dos limites do repertório canônico de interpretação, ao passo que a obra circunscrita como Galáxia Artística embora componha um grande panorama de citações, referências, intertextualidades, não exigem uma compreensão dos limites processuais e dos métodos de interpretação existente, mas sim o conhecimento dos métodos existentes até sua exaustão, ou dito de outra forma, não exigem um novo repertório crítico, mas a utilização dos existentes em escala intensiva e extensiva. Outro exemplo de Galáxia Literária seria o levantamento interpretativo das epígrafes nos poemas de Álvares de Azevedo .

Obra-estrela: A obra estrela é aquela que teve grande importância num determinado momento histórico-artístico, mas depois se colapsou, após a passagem histórica daquele momento, escola ou período artístico literário. Neste sentido um poema como Profissão de Fé, de Olavo Bilac ou o livro Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães ou ainda, Iracema de José de Alencar. O colapso pode levar a diferentes resultados em decorrência da “grandeza” da obra-estrela. Pode colapsar e se apagar completamente, não resistindo à crítica do tempo, neste sentido Suspiros Poéticos e Saudades estaria atualmente nesta condição; ou pode explodir em seu colapso, gerando energia suficiente para que a crítica proponha uma nova solução artística e poética que se contraponha decisivamente à proposta pela obra colapsada, como o Parnasianismo existente em “Profissão de Fé” que deu motivos e energia para a instauração do Modernismo, este conquanto seja a crítica feroz à obra parnasiana de então e naquele contexto.

A obra-estrela pode ter girando ao seu redor um conjunto de obras que lhe fazem referência ou que existiram no mesmo contexto, mas que são consideradas de importância menor, seja do mesmo autor ou contemporâneos da obra-estrela. Estas obras, de acordo com sua importância podem ser obras-planeta ou obras-satélites, se giram diretamente em torno da obra-estrela ou se giram em torno de outra que gira em torno da obra-estrela. Para exemplificação, o poema “Língua Portuguesa” de Olavo Bilac é um poema-planeta em relação à “Profissão de Fé”, ao passo que o poema “Pátria” do mesmo Bilac seria um poema-satélite.

O Raio de Schwarzschild é um raio característico associado a todo corpo material. Este raio está associado à extensão do horizonte de eventos que haveria caso a massa de tal corpo fosse concentrada em um único ponto de dimensões infinitesimais (semelhante ao que ocorre em um buraco negro). O termo é usado em Física e Astronomia, especialmente na Teoria de Gravitação, na Relatividade geral. Ele foi descoberto em 1916 por Karl Schwarzschild e resulta da sua descoberta da solução exata para o campo gravitacional de uma estrela estática e simétrica esfericamente (veja Métrica de Schwarzschild), que é uma solução das equações de campo de Einstein. O raio de Schwarzschild é proporcional à massa do corpo; assim, o Sol tem um raio de Schwarzschild de aproximadamente 3 km, e a Terra de aproximadamente 9 mm.

Um objeto menor que seu raio de Schwarzschild é chamado de buraco negro. A superfície da esfera definida pelo raio de Schwarzschild age como um horizonte de eventos em um corpo estático. (Um buraco negro rotativo opera de maneira ligeiramente diferente). Nem a luz nem partículas podem escapar do interior do raio de Schwarzschild, daí o nome "buraco negro". O raio de Schwarzschild do buraco negro supermassivo no centro da nossa galáxia é de aproximadamente 7,8 milhões de quilômetros.

O raio de Schwarzschild de uma esfera com uma densidade uniforme igual à densidade crítica é igual ao raio do universo visível.

Raio do Repertório Crítico: Por analogia é o limite máximo de informação que uma obra pode comportar e por contigüidade, no âmbito do processo de comunicação é também a quantidade de informação que exigirá no repertório do leitor / observador para sua leitura e análise crítica. Segundo a teoria da informação, vide Abraham Moles, existe uma média ideal entre informação e redundância para que a mensagem possa ser transmitida, além do qual, a informação se perde e fica apenas ruído. Vide os conceitos de Obra-negra, quasar e magnetar para entender o diagrama que pode compor a definição do raio do repertório crítico.

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notas:

1. MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem. Tradução de Décio Pignatari. 4º ed. São Paulo: Cultrix, 1974.

2. São Paulo, Editora Campus, 2002.

3. CAMPOS, Haroldo. “A Temperatura Informacional do Texto” in: CAMPOS, H. & CAMPOS, A. & PIGNATARI, D. Teoria da Poesia Concreta. São Paulo, Invenção, 1965. p. 189

4. A Lei de Zipf, formulada na década de 1940 por George Kingsley Zipf, linguista da Universidade de Harvard, na sua obra Human Behaviour and the Principle of Least-Effort ("Comportamento Humano e o Principio do Menor Esforço"), é uma lei empírica a qual rege a dimensão, importância ou frequência dos elementos de uma lista ordenada. Trata-se de uma lei de potências sobre a distribuição de valores de acordo com o nº de ordem numa lista. Numa lista, o membro n teria uma relação de valor com o 1º da lista segundo 1/n.

5. Manuscrito Voynich é um misterioso livro ilustrado com um conteúdo incompreensível. Imagina-se que tenha sido escrito há aproximadamente 600 anos por um autor desconhecido que se utilizou de um sistema de escrita não-identificado e uma linguagem ininteligível. É conhecido como "o livro que ninguém consegue ler"

6. Indicamos a este respeito: Atualmente tem suscitado alguns estudos acadêmicos, dos quais sublinham-se "O Belo e o Disforme", de Cilaine Alves Cunha (EDUSP, 2000), e "Entusiasmo indianista e ironia byroniana" (Tese de Doutorado, USP, 2000); "O poeta leitor. Um estudo das epígrafes hugoanas em Álvares de Azevedo", de Maria C. R. Alves (Dissertação de Mestrado, USP, 1999); "Álvares de Azevedo: A busca de uma literatura consciente", de Gilmar Tenorio Santini (Dissertação de Mestrado, UNESP, 2007).