* O VELHO MOINHO ALEMÃO *

INSPEÇÃO IMPERIAL DA COLÔNIA:

UMA DAS CONDIÇÕES DO CONTRATO ASSINADO ENTRE A “REPARTIÇÃO GERAL DE TERRAS PÚBLICAS” E A COMPANHIA UNIÃO E INDÚSTRIA, RESERVAVA AO GOVERNO IMPERIAL O DIREITO DE INSPECIONAR A COLÕNIA D. PEDRO II, EM JUIZ DE FORA - MG.

O IMPÉRIO BRASILEIRO FINANCIANDO TODO O PROCESSO DA IMIGRAÇÃO DOS COLONOS ALEMÃES SE RESERVAVA O DIREITO DE MANDAR FISCALIZAR O EMPREGO DOS RECURSOS EMPREGADOS E MANDOU UM EMISSÁRIO ATÉ A COLÔNIA (BORBOLETA E SÃO PEDRO ATUAIS).

UMA ÚNICA INSPEÇÃO DA COLÕNIA FOI REALIZADA NO MÊS DE DEZEMBRO DE 1868, PELO CONSELHEIRO MANOEL DA CUNHA GALVÃO, CUJO RELATÕRIO SEGUE:

“PERCORRI A COLÔNIA D. PEDRO II, QUE A COMPANHIA UNIÃO E INDÚSTRIA É OBRIGADA A MANTER AS EXPENSAS SUAS, EM VIRTUDE DE SEU CONTRATO. VISITEI MESMO ALGUNS COLONOS, INDAGUEI SE ESTAVAM SATISFEITOS, SEU BEM ESTAR SE MANIFESTAVA PELOS POMARES, ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS E AGRÍCOLAS E ANIMAIS QUE EXISTEM EM DIVERSOS PRAZOS. EXAMINEI UM MOINHO MOVIDO À ÁGUA E UMA OLARIA”.

(PAG. 200 DA OBRA DE LUIZ JOSÉ STEHLING. “JUIZ DE FORA, A COMPANHIA UNIÃO E INDÚSTRIA E OS ALEMÃES” - Edição de 1979).

Pois bem, esse tal moinho visitado pelo enviado de D.Pedro II, em 1868 (dez anos após a chegada dos imigrantes alemães em Juiz de Fora) ficava situado logo no início da Colônia de Baixo, atual Bairro Borboleta e aproveitava as cristalinas águas que desciam de um riacho proveniente das partes altas da Colônia.

Nesse moinho, construído pelos imigrantes, certamente as famílias alemãs trituravam sua produção de milho, plantado e colhido por eles, transformando o milho em canjiquinha e fubá e que serviria para o sustento deles.

Sabem, amigos, que decorridos mais de 138 (cento e trinta e oito) anos, as ruínas desse moinho dágua, hoje ainda existem, podendo se notar as fortes paredes de pedras, lado a lado, onde a roda-dágua se encaixava, para receber a água em suas pás, que iriam mover as moendas?

Estão localizadas no mesmo lugar de então, logo na entrada do Bairro Borboleta, no riacho da época, que atualmente é um córrego fétido, quase defronte a uma parada de ônibus, nas proximidades da Gruta de N.S.Aparecida, abaixo da primeira construção, à esquerda de quem adentra ao Bairro. As pedras de mó, em número de três e o eixo do velho moinho alemão, estão ornamentando um pequeno lago, à beira da Rua Júlio Menini, à entrada de um pequeno sítio onde funcionou, em tempos idos, a Cervejaria dos Scoralick.

Uma empresa de engenharia creio eu, está construindo uma obra, não sei de que, ao lado. (Será que faz parte do acesso à estrada BR-040?) Certo é que estão desmatando o lugar e uma nesga de terra nua já está aparecendo, morro abaixo, bem perto do lugar citado, quase chegando ao córrego.

As paredes de pedra de um velho moinho, as pedras de moer e seus petrechos, para muitos, pode não valer nada, já que estão abandonadas há muito tempo. Mas, para alguns remanescentes dos imigrantes alemães de 1858 e/ou para os interessados na história de Juiz de Fora, talvez fosse a hora de ir lá, conferir, antes que a modernidade destrua mais um marco da passagem dos pioneiros alemães por nossa cidade, como a casa do colono Jacob Clemens, lá no início da Rua Bernardo Mascarenhas, que demolida, deu lugar a um prédio que atualmente é ocupado por uma revendedora de automóveis.

Um povo que cultua seus antepassados e zela pela sua cultura e tradições, certamente será digno do futuro que o aguarda.

Vicente de Paulo Clemente