MUITA CONVERSA SOBRE PSEUDÕNIMO
MUITA CONVERSA SOBRE PSEUDÔNIMO
Concessa ?? De onde? Primeira vez que lido com um pseudônimo, talvez pelo inusitado, talvez pelo lúdico que é assiná-lo, me veio uma vontade de dizer o porquê da minha escolha, mais ainda, de apresentar a Concessa original que me soltou a inspiração. Pensando no assunto matutei um pouco em alguns escritores que deles tenham se utilizado e para isso passei em revista, tanto quanto me foi possível, longa lista deles, mas nada encontrei , quase não fazem uso desse expediente !
Entre os poetas alemães, nenhum, também não nos de língua inglesa – como se a força de um Brecht ou de um Walt Whitman não comportasse ser reduzida a algo como um subnome. Somente entre os franceses deparamos com alguns casos históricos: Voltaire , séc. 18, era na verdade François-Marie Arouet. Molière, séc. 17, chamava-se Jean-Baptiste Poquelin. Montaigne, séc, 16, era Michel Eyquem. Stendhal, séc. 19, autor de O Vermelho e o Negro era pseudônimo de Henri Beyle.
Dois casos especiais na cultura francesa: o de Aurore Dupin, romancista do séc. 19, companheira de Chopin, que adotou o pseudônimo de Georges Sand , provavelmente para escrever com mais autonomia em um mundo literário feito para homens. Mais objetivamente - ela escreveu em dupla com Jules Sandeau - foi desde então que assinou como Georges Sand. O outro caso especial é o de Denizard Hippolite Léon Rivail, também séc. 19, que foi bacharel em Letras e Ciências, doutor em Medicina com brilhante tese, insigne Linguista falando corretamente cinco línguas, autor de inúmeras obras na área da Educação adotadas pela Universidade de França e discípulo primeiro de Pestalozzi (que sempre que se ausentava de seu alto posto deixava a ele, Rivail, substituindo-o ). Foi esta excepcional figura na Paris da metade do século que foi vivenciar suas primeiras indagações e inquietações sobre a realidade do espírito já na idade de 50 anos. Certamente não poderia usar o mesmo nome da autoria de suas obras anteriores e foi então que tomou o pseudônimo de Allan Kardec , da língua celta, nome de um que vivera na Gália, entre os Druidas, na civilização celta. Estudos, anotações e experimentações resultaram em cinco livros chamados `A Codificação` e em tudo mais que dele se conhece.
Chegando mais para cá, fui observando com surpresa que no panorama da literatura brasileira também não encontramos autores com pseudônimos ! Poetas, romancistas, ficcionistas... Não, não, eles não usam Black-tie ! Corro para os cartunistas, ah aqueles clássicos cartunistas brasileiros, Millôr, Ziraldo, Jaguar, Henfil , ali, penso , é suprimento certo de pseudo nomes e... todos aqueles eram seus próprios nomes , mesmo que em contração, como os de Henrique Filho e de Jaguaribe , e são ótimos, sonoros pseudônimos. Com os dois então dei-me por satisfeita, ficando na expectativa de leitores que queiram refrescar-me a cachola com outros tantos “pseudos”.
Mas de inopino, capto um pensamento que me atinge como um toró: STANISLAW PONTE PRETA . Grande cronista dos anos sessenta, escrevendo num momento em que esse gênero atingia seu ponto mais alto. Cronista de excelência da vida urbana de um Rio de Janeiro que começa a importar as atitudes e modos das sociedades de consumo. Recordando o escritor, aqui reproduzimos o início de uma daquelas suas crônicas:
“Peixoto entrou no escurinho do bar e ficou meio sobre o peru de roda, indeciso entre sentar-se na primeira mesa vaga ou caminhar mais para dentro e escolher um lugar no fundo. Mas sua indecisão durou pouco. Logo ouviu a voz de Leleco, a chamá-lo:
- Ei, Peixoto, venha para cá! Estremeceu ao dar com o outro acenando mas estufou o peito e aceitou o convite com um ar digno, encaminhando-se para sua mesa. “
Trecho de Eram Parecidíssimas reeditada entre outras pela José Olímpio, 2011,
de STANISLAW PONTE PRETA pseudônimo de SÉRGIO PORTO.