Carlos Herculano Lopes e sua "Poltrona 27"

Poltrona 27, de Carlos Herculano Lopes, não é apenas uma poltrona de ônibus interurbano, onde seu ocupante se deixa embalar por memórias e divagações. Ela se descola de sua condição fixa para nos transportar a tempos e espaços que se encontram muito além do viver corriqueiro, do ir e vir de pessoas comuns subjugadas ao traçado distraído de um destino prosaico. Ocupando essa poltrona na companhia do autor, o leitor tem o privilégio de transitar o tempo todo entre o universo amplo e diversificado de vivências humanas, em um relativamente restrito pedaço de Minas, e as regiões mais recônditas do próprio ser mineiro.

Ocupar essa poltrona 27 de Carlos Herculano é experimentar a sensação do que é ser autenticamente mineiro. Ser autenticamente mineiro não é apenas esse ir e voltar indefinidamente do Interior para a Capital e da Capital para o Interior. Ser autenticamente mineiro é saber garimpar nossas minas. E Carlos Herculano Lopes, com a sua Santa Marta, faz isso com a habilidade e a singeleza de quem sabe onde está o ouro.

E quem é que não tem a sua Santa Marta? Por isso o leitor, de qualquer naturalidade, ao ocupar essa poltrona 27, não sairá dela sem levar consigo, impregnada de algum modo em seu espírito, a sensação de que todos nós, de um modo ou de outro, somos mineiros, ou seja: todos garimpamos nossas minas.