No teu deserto

O livro fala de uma viagem ocorrida no deserto do Saara, em que ocupam o mesmo jipe: um homem de 36 anos e uma moça de 21 anos reunidos ali por um acaso do destino, sem ao menos se conhecerem antecipadamente, e as situações que se seguem - ele preocupado, compromissado com a viagem e com as fotos e imagens que precisa fazer, e ela - Cláudia, descompromissada, "desligada", e destituída de qualquer tipo de compromisso ou preocupação, a não ser com a idéia de aproveitar o passeio. No final das contas conclui-se que surgira em apenas cinco semanas um sentimento amoroso muito grande entre os dois, mas isto não impede a separação.

Livro extraordinário, terminei de ler ontem e ainda estou refletindo sobre as questões que surgiram com aquela viagem no deserto. As vezes nos encontramos com pessoas que podem mudar nossas vidas, mas por outro lado mudar a vida e as rotas que construímos após longo tempo de lutas é muito difícil, e o encontro se torna apenas lembrança, mas como lidar com algo que foi táo importante apenas como "lembrança" ? e por outro lado como mudar toda nossa vida apenas em função de um encontro ?

E como ele poderia adivinhar que Cláudia se sentiu tão atraída por ele, se ela não disse isto nem manifestou-se além do que permitia sua pouca idade? Mas será que ela gostava dele mesmo, ou queria apenas que ele preenchesse o vazio da vida dela, que ela não conseguia preencher por suas prórpias forças - com trabalho, objetivos de vida, etc ? Será que ela queria ser algo além de um mero rostinho bonito? mas será que não era apenas um rostinho bonito que ele precisava na vida dele, para "aliviar" aquele estado de espírito supercarregado de tarefas? Será que ele não precisava daquele descompromisso com a vida e com as coisas do mundo para "equilibrar" a vida dele, ?

Mas será que depois de tudo o que obteve ele renunciaria em favor daquela moça que não tinha nada de concreto a oferecer? E se fizesse isto, será que ela não mudaria de idéia após algum tempo e maturidade? Decisão dificil para ele que já aprendera a viver no deserto real da vida e não fugir da solidão.

Parece que o autor traça um paraleto entre o mundo do deserto - dele, de solidão, buscas e descobertas e o mundo da geração atual de internet, facebook, celular e tantas outras parafenálias que não permitem a ninguém permanecer só. Ela encontrou uma motivação para a vida diferente daquela com a qual estava acostumada neste mundo de interconexão com sua superficialidade característica, ele por sua vez encontrou um mundo um pouco mais superficial do que aquele do deserto com suas agruras e sua profundidade.

Na verdade, parece que eram muito parecidos, mas ela não teve a oportunidade de se lançar ao deserto como ele, devido à ausência de condições para tal no mundo atual - que vive em constante conexão, e ele, por sua vez, não possuía condições de se "conectar" ao mundo dela tão superficial e banal ( em seu entendimento) . Como conciliar estes mundos tão distantes e tão próximos, eis a questão.

Isaias João
Enviado por Isaias João em 30/07/2012
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