Ángel Crespo: apontamentos para um estudo - II

Não se pode dizer de mais alguém que tenha sido tantos e tão distintos poetas em um só, como se pode afirmar sobre Crespo. São inúmeras as vozes que habitam sua poética e que tornam impraticável saber qual a voz que lhe pertence. Entretanto, o poeta não tratou de batizar cada uma das personalidades em seu corpo poético como o fez Fernando Pessoa.

"Crespo nació en Ciudad Real el 18 de julio del año 26, lo que significa que su décimo cumpleaños coincidió con el golpe de Estado de Franco y el comienzo de la Guerra Civil. En los años de la guerra, suspendidas las clases, él seguirá recibiendo clase en su casa. La conexión con la naturaleza de su infancia dejará una impronta imborrable en toda su obra poética. Siendo estudiante de bachillerato descubre en las Geórgicas de Virgilio que esa conexión con la naturaleza puede transcribirse al papel. Y no sólo eso: también descubre que transformar el original del poeta latino es la única manera a su alcance de ser Virgilio. Así que, aún muchacho, empieza a dedicarse al arte de traducir".

Foi pela insistência da família que cursou Direito. Sua paixão era a poesia e, por seu amor à literatura foi que formou tantas amizades entre os intelectuais, realizando diversas atividades, inclusive no âmbito social e ligado às ideias marxistas (Bonilla, 2012).

Ripoll (2012) refere-se enfaticamente a um dos textos que passou a considerar a receita definitiva para fazer ou compreender a Poesia. Tal constatação advém da leitura da homenagem que Ángel prestou em versos ao brasileiro João Cabral de Melo Neto:

Para conservar un poema

hay que ponerlo a la intemperie,

sobre todo cuando graniza

mejor que cuando llueve…

"Desde entonces esos versos se convirtieron para mí en una especie de máxima, la punta del hilo desde la que fui tirando y adentrándome en el mágico laberinto de uno de mis escritores de cabecera. Para un joven de dieciocho años que intentaba vanamente poner en pie el castillo de naipes de sus versos, el consejo no era nada desdeñable. Cuando descubrí el texto completo al que pertenecía ese pequeño fragmento, tuve la sensación de haber encontrado un verdadero manual para hacer poesía o, al menos, para intentar comprenderla":

Un poema llega sin prisa

por entre bosques y fronteras

mas en terreno despejado

es donde vuelve a ser poema.

Un poema llega a la mano

en forma de agua, polvo o viento,

pero hasta no tener su forma

no es un poema: falta el verbo…

No exame de Colinas (2012), a poesia de Ángel Crespo se desenvolveu em fases nas quais o poeta buscou o apuro formal, como se fez notar na tradução da Comédia, de Dante, mantendo o terceto encadeado, a medida e a rima, o que tornou a obra uma tradução emblemática para o idioma espanhol; prestigiou a autenticidade da palavra de raízes humanistas e, por excelência, pessoal, próxima a terra, mas sem deixar de nutrir-se nas culturas e também nas leituras dos seus autores preferidos.

"En versos largos o breves, utilizando la canción o lo poemas rotundos, la poesía de Crespo se torna más rica y compleja, pero sobre todo más honda. Y ello es así porque se universaliza. Sí, es como si aquella hondura primera que le venía de las raíces de su tierra y de un humanismo revelado a través de los seres humildes, se hubiera universalizado de manera maravillosa."

Salmón ressalta a genialidade e o espírito de oficina exercidos por Ángel e demonstrado no trabalho de tradução, de tal modo que, segundo frisa, ao ler o Livro do desassossego, aceita que a viagem é sempre o viajante; e, quando lê o Grande sertão: veredas, assume ser a vida uma travessia; quando descobre o gênio da oficina fumando seu tédio em um quarto da lisboeta na Rua dos Douradores, ou acata o belíssimo mistério que esconde o cadáver de Diadorim estendido em seu momento de morte; quando, em definitivo, lhe assoma à natureza dividida do eu pessoano, ou no instante em que abriga a certeza de que o cruel Riobaldo, comprova-se que Ángel esboçou as características mais inesquecíveis da literatura do século vinte e que tem abalado, abala e abalará as águas em que a língua portuguesa se apresenta com majestade irrepetível.

Quanto ao aspecto do pouco conhecimento da literatura brasileira em terras espanholas, todas as honras são atribuídas à Revista de Cultura Brasileña, iniciativa de João Cabral de Melo Neto, quando diplomata em Madri, em 1962, e

"Por desejo expresso de Cabral, estiveram à frente da revista o poeta e tradutor Ángel Crespo – um dos primeiros brasilianistas espanhóis a trabalhar de maneira sistemática na tradução de várias gerações de poetas brasileiros – e Pilar Gómez Bedate. Ele, como diretor, e ela, como secretária ou – falando de maneira mais apropriada – como escritora, tradutora e estudiosa das tendências artísticas brasileiras. De qualquer maneira, é certo que os dois, juntamente com Cabral, foram editores escrupulosos que levaram a bom termo uma tarefa de muito fôlego, ainda mais se temos em conta que a publicação resistiu até mesmo à censura da ditadura franquista" (Carvalho, 2005, p. 4)

Em fevereiro de 1967, a editorial catalã Seix Barral, com sede em Barcelona, publica “a obra prima do romancista mineiro sob o título Gran Sertón: Veredas. O livro estava precedido de uma introdução escrita pelo próprio Crespo e acompanhado de um glossário ao final”. A versão em espanhol ganhou os aplausos de Guimarães Rosa. Entretanto, Mario Vargas Llosa que havia publicado também na mesma editora catalã a obra La ciudad y los perros (1963) criticou severamente o que considerou uma ousadia e um fracasso de Ángel Crespo naquele trabalho. Olmo, 2011, p. 207-208.

Vale lembrar que o trabalho de Olmo, citado agora, trata de analisar o título Grande sertão: veredas, do ponto de vista semântico e considera as lacunas existentes, neste caso, para fazer a correspondência português/espanhol. Ainda sobre esta particularidade linguística, eis o que afirma Maura, 2009:

"Gran sertón: veredas aparecería en febrero de 1967 en la editorial Seix Barral con una nota del traductor y un glosario final. En la introducción, Ángel Crespo destacaba la originalidad del libro y exponía sus criterios de traductor donde eran prioritarios el respeto a la oralidad del texto y a los neologismos y arcaísmos, que son propios tanto del particularísimo lenguaje de su autor, Guimarães Rosa, como del interior del Estado de Minas Gerais: (...)"

REFERÊNCIAS

http://cvc.cervantes.es/literatura/escritores/crespo/bonilla.htm#

http://cvc.cervantes.es/literatura/escritores/crespo/ripoll.htm

http://cvc.cervantes.es/literatura/escritores/crespo/colinas.htm

OLMO, Francisco Calvo del. Grande sertão: veredas na Catalunha: uma crónica. Scientia Traductionis, n.9, 2011. Disponível online em formato PDF

http://www.cultura.mg.gov.br/files/2009-abril.pdf

http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=4177

taniameneses
Enviado por taniameneses em 24/07/2012
Reeditado em 11/08/2012
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