MURAL

“Fala o homem para o muro / Fala o muro para o homem.” (Jorge Tufic)

Mural é quadro de visualização.

Mural é instrumento da cultura.

Mural não é armário, apenas mudança de atitude dentro da linguagem.

Mural cria eixo de afinidades entre as pessoas.

Mural fala com as pessoas.

Mural é espaço da linguagem.

Mural é trem: língua que nos leva para lá e para cá, permitindo olhares.

Mural liberta a linguagem em qualquer instância da realidade.

Mural desperta e representa os desejos através de imagens.

Mural é ferramenta de apoio: portas sensoriais abertas ao desejo de ler textos, bilhetes, recados, lembretes, etc.

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, mas a palavra vale a totalidade das imagens. A cultura é substrato da vida. E o mural é a visualização que ativa os mecanismos da conquista, como as palavras de Helena Kolody, “Meu nome / desenho a giz / no muro do tempo...”

O mural é forma de se estabelecer contato com platéias diversas e distantes; é encontro entre pessoas, em mão dupla: contribuição de interesse, onde a palavra é o grande produto da comunicação. As pessoas se comunicam de várias formas de linguagem, sendo a obra o processo em si reproduzível. Mário Quintana, expressa que,“Só nos muros.../ Desenham-se hieróglifos.//... Só na parede.../ Aparecem mensagens...”

Todos os que usam o mural, ocupam espaços onde acontece algo fascinante: arte, linguagem visual, língua magnificamente manipulada como recriação do universo, mostrando as diferenças; de como o mural sai de algo local e se transforma em universal. Lêdo Ivo reflete, “... Como um sol que sustenta / o dia triunfante / uma mancha num muro / ilumina a cidade.”

As pessoas devem ser inclusivas e gerais, porque há possibilidade de diálogo entre elas. Os vínculos estabelecidos pela cultura passam pelo mural. Ele representa o homem para o homem se ver, atendendo à suas expectativas e necessidades, trazendo tais vínculos para dentro de suas vidas. Como em Vania Lopes demonstra, “... ando construindo muros / para amparar minhas escadas escorregadias / meu desatino / deixo como pintura no muro / sem assinatura /para não correr o risco de me perder. “

Cada participante do mural busca o seu espaço em novos patamares e formas para impactar, divulgar e informar as pessoas através da linguagem.

O mural é simbolicamente importante em nossa cultura, pois é expressão artística desenvolvida pelo homem, onde as palavras deslizam em seus significados e produzem ação continuadamente alcançável, como descreve Pedro Du Bois, “... última viagem da memória / sem alarde ou notícia // na parede o bilhete / de despedida.”