EX-VOTOS
A arte estimula a introspecção e a reflexão, podendo levar à transformação. Na arte, pode-se curtir o instigante, o bom e o belo. Ela existe e está aqui para quem puder e quiser apreciar.
Olha-se para um lado, olha-se para o outro e diante do panorama que se descortina é oportuno salientar o artista plástico Antônio Maia, que nasceu em 1928, em Sergipe e viveu no Rio de Janeiro desde 1955, onde faleceu em 12 de julho de 2008. Foi pintor autodidata.
Maia foi um artista figurativo que sempre se preocupou em resgatar a iconografia popular do Nordeste e a transpor para o plano da arte erudita. Ele converteu suas pinceladas na captação da individualidade e da totalidade das pessoas, como reflexo da religiosidade.
Já no início da sua carreira procurou compor nas telas os símbolos religiosos e populares no Nordeste, com especial predileção pela figura do ex-voto. Pedro Du Bois também compôs o seu Ex-votos, em poema:
“Ex-votos / agradecimento puro / dos incautos // Mas, e se houve / a cura? //
Ex-voto / maneira pura / de agradecer o feito. // Mesmo que nada /
tenha sido feito. // Ex-voto / exibir as peças / para os futuros / incautos.”
Sintonizado na crença popular, Antônio Maia retratou, em figuras estilizadas de cores puras e traços definidos, os ex-votos, como proposta de que há algo além da dimensão humana, representado no agradecimento pela graça alcançada, levando-nos a refletir sobre a grandeza de se estar em comunhão com o divino.
Hoje, podemos ver ex-votos confeccionados em cerâmica ou madeira, presentes em igrejas, como pagamento pelas curas, milagrosas, alcançadas.
Maia, em seus últimos anos, trabalhou a “humanização” dos ex-votos em sua obra, com sentimento mais aproximado da verdade popular e, ainda, os apresentando em “colagens”, bem como passou a clarear e a refinar a sua pintura, inserindo-a no nosso cotidiano.
Ao bater os olhos na obra de Antônio Maia, principalmente nos ex-voto, percebo as cores, a harmonia das formas, o ritmo dos traços e a sensibilidade lá reveladas. Walmir Ayala escreveu que “Maia reflete, por vezes, na cor a oscilação espiritual do seu cotidiano, a humana contingência da percepção vivenciada.”
Segundo o crítico de arte, Geraldo Edson de Andrade, “Com sua morte, a pintura brasileira perde um intérprete que aliava a ingenuidade carismática da promessa, representada pelos ex-votos, ao lirismo poético de sua criação.”