NUESTRA AMERICA
“Para onde vai Nuestra America” é o título do penúltimo livro de Marcelo Barros. O subtítulo deste livro: “espiritualidade socialista para o século XXI”, pode causar arrepios aos capitalistas materialistas da América Latina. Mas, para Marcelo Barros, a socialização dos bens da terra é uma consequência necessária da organização cristã da convivência humana. O capitalismo vigente é uma aberração humanitária. Durante séculos se demonstra insensível à miséria humana. Conviveu com a escravidão sem questionamentos, e, em nosso tempo, continua tranquilo com as situações de exploração, opressão e semiescravidão de milhões de homens pelo planeta afora. Marcelo Barros aprendeu muito com Dom Helder Câmara e com seus colegas, promotores da Teologia da Libertação. Aos poucos os protagonistas da Teologia da Libertação vão saindo de cena. Já faleceram Helder Câmara, José Comblin, Hugo Assmann, Giulio Girardi. Outros estão fragilizados pela idade. Mas a Teologia da Libertação continua viva e indispensável para a América Latina, e o Terceiro Mundo em geral. Marcelo Barros é um dos promotores, ainda plenamente atuantes e criativos, mais significativos desta interpretação teológica na América Latina. O seu ponto de partida é a origem “socialista” das primeiras comunidades cristãs: “e tinham tudo em comum, não havia necessitados entre eles...” Marcelo Barros, apaixonadamente, assumiu a utopia da “terra sem males”, “um outro mundo é possível”. Um mundo com muito mais justiça, com acesso de todos os homens aos bens da terra, com menos intolerâncias, desigualdades e opressões. Para ir em busca deste mundo mais fraterno, solidário e compassivo, o monge Marcelo Barros não fica preso à cela de seu Mosteiro. Inclusive tem uma nova proposta para os Mosteiros do século XXI. Viaja principalmente pelos países da América Latina e por todos os Estados do Brasil. Dialoga com os políticos, os empresários, os líderes espirituais das mais diversas ideologias e religiões. Neste sentido, é um continuador do modo de entender a missão cristã de vida de Dom Helder Câmara. Dom Helder também não parava em casa: onde pudesse divulgar sua teologia da fraternidade, solidariedade e justiça para lá ele se deslocava. Podia ser para reuniões de políticos, empresários, de ateus, budistas, protestantes, religiosos afros, ou para ambientes de católicos, coirmãos de sua Igreja. Assim é, em suas devidas proporções, Marcelo Barros. Se sente em casa nos ambientes políticos de Hugo Chaves, de Evo Morales e de outros promotores populares da América Latina. Por outro lado, frequentes convites o levam para animar estudiosos da Bíblia, líderes comunitários, agentes das Comunidades de Base. Assim como Dom Helder, Marcelo assimilou uma verdade de vida que Jesus ensinou: “A Verdade vos libertará”. Todos entenderão que, quem busca viver esta liberdade, inserido em uma Instituição, não terá vida fácil. Neste sentido, Marcelo Barros já passou por diversos embates com as compreensões espirituais e teológicas de autoridades religiosas. Mas, no espírito da verdade que liberta, continua a sua missão de diálogo ecumênico, de busca da vida fraterna e justa. Para assimilar um pouco da mensagem de Marcelo Barros, nada melhor do que ler seu livro “Para onde vai Nuestra America”.
Inácio Strieder é Professor de Filosofia