Soníferas influências

Da escancarada janela visualiza o opaco horizonte... Nuvens espessas sob o descortinado sol uma cinérea cor ganham. Ornitópteros desafortunados sem destino, emudecidos, no arco celeste se aglomeram... Unidos à dor, pressentem esconsos ecos de uma sorumbática e estratosférica sina que ao nada se espraia e a esmo o desatina... Uma descorada campina ao largo às retinas se estende. Ao cenário vivente uma dolente realidade acena e de augúrio na balança da esperança se mostra sem piedade e ao ele o adeus às utópicas buganvílias outrora evidentes hoje inda não só o sentimento desprende, mas também se acena e se lhe mais com uma brutal força o agora com aquele ferino peso ao vergastado dorso no vazio pende... - Qual flecha sibilante à árvore da amargura fere e no cerne o fende...

Lágrimas incontidas pela enrugada face escorrem... Rios solitários reagem com aquele desdém... E às sulfídricas alíneas às desavenças da alma delinearmente porejam... Pelo enfraquecido tórax gélidos e intrépidos tremulam... Ao mar salobro do instante em espiral, convulsos, às Fossas das Marianas o lodoso solo toca... Em ondas rumorosas e violentas aboletam-se...

Pálida realidade que o ferido coração ao instante com uma dantesca tristeza o inferno de Dante aspira... Às chamas incandescentes do purgatório abraseia... E ao léu no louco afã transpira... Borbulham de desejos as tensas veias pela adorável Beatriz... Uma opróbria e descorada claridade às rugas faciais o instante profundo e dorido com uma acidez corrosiva as arranha e as deixa à beira de uma suposta e endeusada imperatriz...

Uma amarga depressão a alma sentida com uma fenomenal força ardentemente marulha e para bem longe expulsa... Indolente, o espírito ao iminente mais do que nunca ao etéreo consente e, por deveras, se ressente... De delírios a carcaça de amores estremece... Reclama os negados afetos que por ora se avulsa... Falas sentidas às quilométricas distâncias inda ecoam perdidas... Sente a decepção discretamente corroer-lhe a carne... Sulca-a... De agonia agita: - A verdade que o presente assente... À lona da existência sem prudência o leva... Apesar da imensurável dor, ri de escárnio... Miragens enclausuradas à natura se fragmentam. Um delírio ao longe de um negrume assombreado o cérebro arfante ilude... Titubeia o acabado ser pelo imperceptível espaço. As peças fragmentadas aos encaixes se divergem... Uníssonas não se lhe mais convergem...

Fatal quimera o espelho da vida o pesadelo reflete e o logra sem destemor: - Evidências que ao enfebrecido luar do momento a si se acumulam e se aglutinam às aparências desta iluminura, - qual filme de terror se deixou levar por aquela falsa e abominável criatura...

Em delíquios, silente ao vento o desgosto soçobra: - Palavra desconexa que o ar não só povoa, mas energicamente febra e ainda ao léu ecoa; e que, sob as asas de uma vespertina ventania, a consternação do espírito com aquela brutalidade alça e, de quebra, sopra a fulana e arguta tirania... Sideral sonho que “per si” não só no ontem se perdeu, mas há muito se derruiu, - qual folha seca à horrenda tempestade aos mil e um pedaços se partiu...

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 22/04/2012
Reeditado em 26/04/2012
Código do texto: T3627574
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